Categoria Geral  Noticia Atualizada em 03-04-2014

Acre deve levar três anos para se recuperar da cheia do Madeira
Governo estima R$ 203 milhões em perdas. Chefe da Casa Civil participa de entrevista no BDA e G1 nesta sexta-feira (4).
Acre deve levar três anos para se recuperar da cheia do Madeira
Foto: g1.globo.com

Três anos. Esse é o prazo mínimo que a chefe da Casa Civil do Estado, Márcia Regina, diz ter sido dado pela Federação do Comércio (Fecomércio) para que o Acre possa se recuperar dos prejuízos causados pela cheia do Rio Madeira, em Rondônia. O aumento histórico no nível das águas do manancial acabou comprometendo o transporte de cargas e insumos para o estado através da BR-364 provocando uma crise no abastecimento do estado.

Nesta sexta-feira (4), Márcia Regina, participará de um chat ao vivo no G1, após o
telejornal Bom Dia Amazônia - edição das 7h30. No programa, serão abordados os impactos causados ao Acre pela cheia do Rio Madeira e as ações tomadas pelo governo do estado para amenizar os efeitos e contornar a situação. Os internautas podem enviar os questionamentos por meio de comentários nesta matéria ou pelo e-mail: [email protected].

"Numa conversa que o governador Tião Viana teve com a Secretaria da Fazenda houve estimativa de perdas em R$ 203 milhões. Hoje nós recebemos um comunicado da Fecomércio que estima um impacto muito forte na economia, pois, somente em março houve uma redução de 75% do ICMS por conta de não ter circulação de mercadoria. Então a Fecomércio estima uma recuperação dessa crise nos próximos três anos, sem falar no impacto que isso deve gerar", conta.

"Operação de guerra"

Vivendo há quase dois meses no que ela considera uma rotina de operação de guerra, a chefe da Casa Civil diz que a perspectiva é que a situação permaneça crítica por pelo menos mais quatro semanas.

"O Madeira vai começar a baixar na segunda semana de abril, de acordo com a previsão da Agência Nacional de Águas (ANA), mas ele não vaza do dia para a noite. Ele tem um processo de baixar suas águas e além desse processo a gente não sabe como a estrada vai estar", comenta.

Márcia conta que desde o dia 10 de fevereiro o governo do estado começou a monitorar a situação do Rio Madeira. Ao ser informado, no dia 17 do mesmo mês, da possibilidade do rio ultrapassar os 19 metros, ele começou a se reunir com o setor comercial para tentar amenizar os efeitos de um, até então, provável isolamento por via terrestre.

"O governador de uma forma muito rápida, convocou os distribuidores, donos de supermercados, através das associações e a partir daí começamos a monitorar estoques de gás, combustível, mas a situação foi se agravando. No dia 25 ele decretou situação de emergência em questão de abastecimento porque a BR é a única via rodoviária que liga o Acre ao Brasil", lembra.

Segundo ela, atualmente o governo acreano mantém mais de 30 equipamentos e uma equipe no estado de Rondônia para tentar garantir o tráfego desde a cidade de Palmeiral (RO). As ações vão desde a contratação de uma balsa a utilização de caminhões pranchas para arrastarem os veículos que precisam atravessar e até mesmo a limpeza da pista.

"O governo do Acre contratou uma balsa de Palmeiral (RO) para Mutum (RO) o que permitiu que a Usina de Jirau pudesse fazer uma balsa em Jaci-Paraná (RO)", conta.

Com a travessia do Madeira cada vez mais difícil a população acreana encontrou, durante o mês de março, dificuldade para adquirir alguns itens da cesta básica, além de gás e combustível, o que levou alguns motoristas a correrem para os postos de combustíveis para tentar suprir suas necessidades.

Márcia Regina ressalta que o governo está buscando alternativas para garantir que os problemas não tornem a ocorrer.

"Começamos a buscar apoio de importação do Peru, de hortifrutigranjeiros ao trigo. Tudo que o Peru poderia nos fornecer de importação. Tivemos apoio do Ministério da Agricultura, que estabeleceu uma normatização específica para a importação do tomate, que possuía uma restrição. Conseguimos uma liberação da ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres] para que caminhões brasileiros pudessem ingressar no território peruano e buscar essas mercadorias. Começamos a usar balsas que vieram tanto de Porto velho (RO), como de Manaus (AM) para assegurarmos tanto o abastecimento de gás como de combustíveis", elenca.

Outra medida para garantir que não falte novamente combustível deve ser a importação do produto do Peru. "O governador com a Presidência da República conseguiram fazer a importação de gasolina do Peru e essa gasolina já está em fase final de trânsito de importação. E vamos começar a carregar a gasolina nesta quinta-feira (3), são cinco milhões de litros a mais que virão. Tudo isso porque estamos passando pelo mais grave acidente ambiental que se tem notícia", enfatiza.

Uma rota para levar alimentos ao Acre saindo do Paraná passando pela Argentina, Chile e Peru até entrar novamente no Brasil por Assis Brasil (AC) também está prevista. No entanto, o terremoto ocorrido no Chile acabou causando atrasos no cronograma.

Cesta Básica

Apesar de alguns produtos não estarem sendo encontrados em alguns supermercados, a chefe da Casa Civil descarta o comprometimento da cesta básica.

"Os alimentos essenciais, aqueles da cesta básica, de primeira necessidade não vão faltar.

Nós estamos fazendo o possível e o impossível para não faltar. Alguns produtos podem demorar mais em um ou outro supermercado, mas ele vai ter em outra rede que serve a capital. Quanto àqueles produtos que são importantes, mas não são imprescindíveis, pode haver um desabastecimento por algum momento, porque temos que atender primeiro os gêneros de primeira necessidade", comenta.

Além disso, ela ressalta que os consumidores podem encontrar produtos da produção local em outros espaços, como as feiras de bairros.

"Graças a Deus que a produção local existe e supre. Porque temos diversas feiras em bairros que estão funcionando porque são de produção local. Se eu não tivesse produção local, eu não conseguiria suprir o mínimo de hortifruti das grandes redes de supermercados e distribuidores", diz.

De acordo com ela, a produção local também tem garantido a manutenção da merenda escolar na Rede Pública de Ensino e das refeições servidas nos hospitais públicos e presídios.

Interior

Márcia diz que a situação nos municípios do interior do Acre também tem recebido atenção do governo, que tem buscado identificar as demandas dos comerciantes. Porém, a situação aparentemente é mais confortável que na capital.

"Eles têm uma diversidade maior de fornecedores que na capital, porque a maioria aluga, manda busca seu próprio produto para vender. É diferente porque em Rio Branco é mais centralizado, mas estamos tentando atender, identificando principalmente a demanda.

Estamos monitorando quais caminhões são de municípios para ajudar passar e aos poucos estamos entendendo essas demandas dos municípios", explica.

Já no caso de municípios como Santa Rosa e Jordão, considerados isolados, pois, o acesso a eles só pode ser feito por balsa e avião, até o momento não há registro de problemas.

"Eles vivem em uma situação de abastecimento prévio, devido ao isolamento. Alguns fornecedores atendem especificamente esses lugares", esclarece.

Críticas

Sobre as críticas e acusações de que o governo estaria tentando esconder uma crise no abastecimento, a chefe da Casa Civil diz lamentá-las e pede que a população confie no Executivo.

"A gente nunca disse que a situação não era grave. O que a gente está pedindo é para que as pessoas não fiquem alarmadas, não consumam mais do que consomem normalmente e não fazer estocagem porque isso prejudica o todo. E nós pedimos para que elas confiem na ação do governo. Estamos trabalhando com a possibilidade de essa estrada ser interrompida, antes mesmo dela interromper. Nós pedimos isso, eu lamento porque cada vez que se põe em dúvida, que se faz essa menção que não estamos reconhecendo a gravidade, isso gera insegurança e boatos. Nós estamos vencendo todas as dificuldades que nos foram impostas e não são poucas", finaliza.

Dependência da BR

Para Márcia Regina a situação vivida pelo Madeira expõe a dependência que o estado tem da BR-364, como única rota de acesso.

"Acho que reativar hidrovias é uma necessidade. Fortalecer as ações de importação e exportação com o Peru também é uma necessidade, se abre uma oportunidade tanto para quem produz no Acre quanto para quem pode importar por um caminho mais perto, isso é um exemplo que fica. E é importante saber que a gente tem que diversificar, fortalecendo, ampliando tudo o que produzimos aqui e manter todos esses modais de transporte que temos não ficar centrado só na BR -364", reflete.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir