Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 05-05-2014

A rotina do absurdo
H� algum tempo resolvi fazer uma experi�ncia. Durante dez dias acompanhei o notici�rio policial brasileiro, arquivando apenas aquelas not�cias verdadeiramente absurdas, que causariam como��o em qualquer lugar razo�vel.
A rotina do absurdo
Foto: www.maratimba.com

Logo no primeiro dia li que uma granada, uma pistola, tr�s rev�lveres e quase 100 proj�teis foram aprendidos durante uma revista de rotina realizada em uma pris�o. � chocante, mas esta incr�vel not�cia, t�o comum que �, habitou meramente um canto de p�gina do jornal.
No dia seguinte li que traficantes impuseram toque de recolher em um morro, decretando luto por causa da morte de um deles, ocorrida durante um tiroteio. Todo o bairro obedeceu, sem discutir. Este horror, tamb�m corriqueiro, foi apenas mais uma not�cia daquelas que duram 24 horas, dada a falta de repercuss�o.
Terceiro dia: um �nibus com 40 passageiros foi saqueado � luz do dia por ladr�es armados, que ainda amea�aram incendiar tudo com um gal�o de gasolina que carregavam. Este n�o � um crime comum - � o retrato da fal�ncia do Estado. No entanto, n�o ensejou sequer um discurso, de t�o usual.
Quarto dia, e li sobre o drama de 30 funcion�rios de uma loja que ficaram duas horas em poder de criminosos, durante um assalto realizado no centro de uma capital. Acredite: sequer na primeira p�gina esta not�cia estava, de t�o comum que �!
No quinto dia noticiou-se que um policial fardado foi sequestrado por quatro homens armados com metralhadora e levado para um cativeiro. Metralhadoras! Um policial fardado! E esta not�cia n�o durou 24 horas! Zero de repercuss�o na sociedade. Rotina, pura rotina!
Sexto dia: traficantes determinaram o fechamento de 177 lojas at� as 13 horas. Tratava-se de luto pela morte de um deles, morto durante um tiroteio com um bando rival. A rea��o da sociedade surpreendeu: o medo foi tamanho que a maioria das lojas n�o voltou a abrir, indo muito al�m do "ordenado". Este retrato do abandono da popula��o n�o deu margem a nenhuma CPI, discurso, ou seja l� o que for. No dia seguinte j� n�o se falava mais nisso.
No s�timo dia tr�s marginais armados saquearam um �nibus com 50 passageiros, � luz do dia, no meio de uma via movimentada, e fugiram andando pela rua. Andando. Nem precisaram correr.
Oitavo dia. Noticiou-se que traficantes estavam amea�ando metralhar e incendiar uma Companhia da Pol�cia Militar, em repres�lia contra a pris�o de um deles. Policiais declararam serem recebidos a tiros todos os dias ao chegarem para trabalhar. Parece incr�vel, mas esta not�cia n�o mereceu sequer uma "chamada de capa".
Nono dia, e anunciou-se o al�vio para os Policiais Militares acima referidos. A Justi�a soltou o traficante que estava preso, e toda a quadrilha comemorou com um alegre churrasco exatamente em frente � Companhia da Pol�cia. Os policiais, humilhados, n�o puderam fazer nada sen�o contemplar a comilan�a. E ficou tudo por isso mesmo!
No d�cimo dia, noticiou-se que os corpos de sete adolescentes foram encontrados dentro do porta-malas de um carro, e que uma quadrilha invadiu uma Universidade Federal para roubar as armas dos vigilantes. E tudo isto foi rotina. Mera rotina, nada mais do que rotina.
Comentei sobre os resultados desta experi�ncia com diversas pessoas. De todas ouvi a express�o "� assim mesmo", seguida de uma tentativa de mudan�a do tema da conversa para outro mais alegre. Pois �. Talvez seja a hora de nossas institui��es come�arem a discutir isto!


Fonte: Reda��o Maratimba.com
 
Por:  Pedro Valls Feu Rosa    |      Imprimir