Categoria Geral  Noticia Atualizada em 04-06-2014

Em área rebelde da Síria não houve nem sinal de eleição, conta brasileiro
Segundo fotógrafo que está em Aleppo, cidade seguiu sua rotina. Votação ocorreu apenas em regiões dominadas pelo governo de Assad.
Em área rebelde da Síria não houve nem sinal de eleição, conta brasileiro
Foto: g1.globo.com

Quando foi tomar café na manhã desta terça-feira (3), o fotógrafo brasileiro Gabriel Chaim, que está na Síria, perguntou para Mahmood, o dono da lanchonete: "Em quem você vai votar hoje?". A resposta que ouviu foi a seguinte: "Votar onde? Onde está tendo eleição? Em qual Síria?"

O diálogo é representativo do que acontece no país no dia da controversa eleição presidencial que deve ser vencida pelo atual presidente, Bashar al-Assad. Em guerra civil há mais de três anos, a Síria está dividida entre partes controladas pelo governo e por soldados da oposição, e a votação ocorreu apenas nas áreas sob o controle do regime.

Chaim, que chegou ao país em meados de abril para cobrir a guerra, está em uma área controlada pelos rebeldes na segunda maior cidade da Síria, Aleppo. Lá não houve nem sinal de eleição. "Não mudou nada em relação a ontem. As pessoas estão seguindo a vida normal", conta ele.

O presidente só teve como rivais dois candidatos autorizados por ele: o deputado independente Maher Abdul-Hafiz Hajjar e o empresário membro da oposição tolerada Hassan al-Nuri. Por esses e outros motivos, a eleição vem sendo criticada por países como os Estados Unidos – nesta terça-feira, a porta-voz do departamento de Estado desse país disse que o pleito é "uma vergonha".

Segundo fontes governamentais, o governo controla 70% do território sírio. Já em Aleppo os rebeldes afirmam que o regime só domina 30% da cidade.

Conflito de mais de 3 anos

A Síria enfrenta guerra civil desde março de 2011. Segundo o Observatório Sírio para Direitos Humanos, a guerra já deixou pelo menos 162 mil mortos, entre eles 80 mil civis e 8,6 mil crianças. Assad, da minoria étnico-religiosa alauíta, enfrenta uma rebelião armada que tenta derrubá-lo do poder.

Inicialmente, a maioria sunita e a população em geral realizavam protestos reivindicando mais democracia e liberdades individuais. Com a repressão violenta das forças de segurança, o conflito se transformou em revolta armada, apoiada por militares desertores e por grupos islamitas como a Irmandade Muçulmana, do Egito, e radicais com o grupo Al-Nursa, "franquia" da rede terrorista da Al-Qaeda.

Os confrontos destruíram a infraestrutura do país e gerou uma crise humanitária regional.

Em agosto de 2013, um ataque em um subúrbio de Damasco com armas químicas atribuído ao regime foi considerado o mais grave incidente com uso de armas químicas no planeta desde os anos 1980. Um "grande número" de pessoas morreu com os ataques de gás sarin, segundo relatório da ONU.

A guerra civil síria reviveu as tensões da Guerra Fria entre Ocidente e Oriente, por conta do apoio da Rússia ao regime sírio. OS EUA se limitam, oficialmente, a oferecer apoio não letal aos rebeldes e a fornecer ajuda humanitária.

Após proposto pela Rússia, a Síria colabora com a Opaq (Organização para a Proibição de Armas Químicas) para uma operação conjunta de desarmamento químico no país.

Segundo a ONU, mais de 2,7 milhões de pessoas já deixaram a Síria, principalmente em direção ao Líbano, Turquia, Jordânia e Iraque. No Brasil, refugiados chegaram com a esperança de um recomeço após perderem casa, emprego e segurança na Síria. Devido ao conflito, o Brasil passou a facilitar a obtenção do visto de turista para os cidadãos desse país. Em São Paulo, a comunidade se une para conseguir emprego e casa para recém-chegados.

Bombas para tentar abrir passagem

Gabriel Chaim diz que conversou com várias pessoas na área dominada pelos rebeldes, e que ninguém acha que o resultado vai gerar mudanças no país. "Todos dizem que já sabem quem vai ganhar, e que não vai mudar nada", afirma.
Atualmente, não há comunicação entre a área dominada pelo regime e a área da oposição em Aleppo.

Segundo Chaim, durante a madrugada, as forças do governo lançaram diversas bombas em uma das divisas fechadas pelos rebeldes. "O Assad precisa de pessoas para votar, pois as que estão na área do regime não estão em grande número, então ele tentou reabrir essa passagem. Mas não conseguiu", relata Chaim.

O brasileiro diz que conversou com um dos principais líderes rebeldes na cidade, Shair Modar Radawan, do grupo Jaish Al-Mujaheeden – ligado ao FSA (Free Syrian Army, ou Exército Livre Sírio). Para ele, quem foi votar na eleição está "compactuando com a guerra".

O líder afirmou que vai enfrentar Assad "até a morte". "Ele disse que não é suficiente que ele saia do poder, que ele tem que pagar com a vida pelas milhares de vidas que ele tirou. Disse também que essa terra é do povo sírio e que eles vão ficar nela até o final dos dias", conta Chaim.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir