Categoria Geral  Noticia Atualizada em 19-07-2014

"Robin Hood" do YouTube conta como faz para driblar direitos autorais
Dono do canal Qu4tro Coisas, com mais de 100 mil inscritos no YouTube, ele definiu muitos usuários da plataforma como Robin Hood

Foto: tribunahoje.com

"Sou aquele ladrão oficial do YouTube. Misturo duas coisas com direito autoral para criar uma terceira." Foi assim que Pablo Peixoto, 36, se apresentou na palestra "É melhor falar com um advogado", realizada nesta sexta-feira (18), no evento Youpix. Dono do canal Qu4tro Coisas, com mais de 100 mil inscritos no YouTube, ele definiu muitos usuários da plataforma como Robin Hood: "roubamos o vídeo dos ricos para dar aos pobres".

Bibiana Leite, gerente de parcerias do YouTube América Latina, participou do debate e fez ponderações sobre a prática. Segundo ela, o serviço não julga quem é dono do conteúdo, mas oferece ferramentas para notificação e até pedidos de exclusão. Cabe ao criador definir se deixará terceiros usarem seu material e como isso será feito. "Na dúvida, a melhor opção é sempre utilizar conteúdo produzido por você, para evitar problemas."
Em entrevista ao UOL Tecnologia, Peixoto afirmou não haver como deter esse movimento de apropriação. "Não estou sozinho contra os direitos autorais. Trata-se de uma mudança de comportamento, algo que muita gente está fazendo. Não tem como barrar isso: derruba um, vem dez", afirmou no evento de cultura digital realizado em São Paulo.

Com mestrado em sociologia da cultura, o antropólogo vive do dinheiro que recebe com o YouTube e seu programa na Play TV.

Fiscalização de conteúdo

Peixoto contou como faz para driblar as ferramentas de proteção de direitos autorais no
YouTube. "O robozinho que vasculha o YouTube tem o pensamento linear típico de uma máquina. Você tem que pensar como humano, ficando na frente dele. É preciso ser mais inteligente", define.
Seguindo essa estratégia, ele afirmou usar macetes comuns entre os youtubers. Entre elas, estão sobrepor a voz sobre nas cenas, usar moldura em volta do conteúdo, inverter a imagem (trocar esquerda por direita), colocar filtros e também aderir a efeitos visuais – ele faz isso com os programas Final Cut ou After Effects.
Felipe Castanhari, dono do canal Nostalgia (1,8 milhão de assinantes), também participou do debate e incentivou o compartilhamento desse tipo de dicas. "O que a gente pode fazer para usar conteúdo sem se f* por isso?", perguntou, para em seguida dar suas próprias sugestões.

Felipe Castanhari é dono do canal Nostalgia, com 1,8 milhão de assinantes no YouTube (Reprodução / Youtube)
Ele disse para os youtubers não usarem mais do que dez segundos contínuos de conteúdo de terceiros. "Se for realmente importante para o entendimento do seu vídeo, picote o trecho ou use recurso de zoom." Além disso, falou para fazerem pesquisas dentro do próprio YouTube: "Se não achar nada, é um mau sinal. Indica que o detentor dos direitos não deixa usarem seu material".

Castanhari contou o caso de um programa especial, relacionado à série "Friends", que teria sido autorizado pela própria Warner. Quando tentou subir o conteúdo para o YouTube, disse que foi impedido por causa da música de abertura – possivelmente porque a gravadora impediu a reprodução de "I ll be there for you".

"Mas foi a Warner que me deixou fazer isso!", gritou no palco, de maneira bem-humorada, simulando uma briga com o computador.

Polêmica

No final do ano passado, o dono do Nostalgia teve problemas com o canal Fox, após usar sem autorização trechos de "Os Simpsons". Por causa disso, correu o risco de perder sua página, na época com quase 1 milhão de inscritos.
Peixoto também já enfrentou problemas com a exclusão de vídeos que usavam conteúdo protegido – o último episódio envolveu a Fifa, em um compilado dos piores momentos da Copa do Mundo. O arquivo foi tirado do ar duas vezes até que o dono do Qu4atro Coisas fizesse as modificações necessárias para conseguir mantê-lo no ar.

Na lei

Pela lei dos direitos autorais, é permitida "a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de qualquer natureza, ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal da obra reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores".

Assim, os youtubers podem teoricamente usar parte do conteúdo de terceiros sem infringir a lei. Mas o advogado especialista em internet Marcelo Bulgueroni, que participou do debate, apontou a polêmica na falta de definição sobre o que é um "pequeno trecho". "Em um vídeo de duas horas, três minutos no YouTube é algo pequeno?", questionou.

Oficialmente, este é o posicionamento do site de vídeos. "O Content ID é um sistema que identifica uso de trechos ou obras inteiras que tenham propriedade reconhecida. Além do Content ID, qualquer pessoa que identifique uma obra reconhecida sua pode sinalizar seu uso sem autorização em vídeos no YouTube e solicitar a remoção manual do conteúdo. Não recomendamos nenhuma forma de burlar o sistema, até porque o Google está sempre evoluindo sua tecnologia para que o sistema consiga proteger de forma mais efetiva produtores de conteúdos pequenos, médios ou grandes."

Fonte: tribunahoje.com
 
Por:  Emella Simões    |      Imprimir