Categoria Geral  Noticia Atualizada em 21-07-2014

"Saudade é grande", diz avó de Bernardo mais de 3 meses após crime
Jussara Uglione diz sentir falta do menino morto em Frederico Westphalen. Vídeos com depoimentos da madrasta e amiga dela foram divulgados.

Foto: g1.globo.com

Mais de três meses após o corpo de Bernardo Boldrini, 11 anos, ter sido encontrado em Frederico Westphalen, Região Noroeste do Rio Grande do Sul, as imagens que mostram os depoimentos da madrasta, Graciele Ugulini, e da assistente social, Edelvania Wirganovicz, suspeitas do crime, reacendem a indignação da família do garoto. Os vídeos, mostrados pelo Fantástico no domingo (20), apresentam as respostas das mulheres à Polícia Civil ainda em abril. A avó do menino, Jussara Uglione, convive com a saudade e espera que o julgamento do caso seja marcado logo, como mostra a reportagem do Jornal do Almoço, da RBS TV.

"A saudade do Bernardo é grande, no coração, na cabeça", lamentou Jussara. "Ele se preocupava comigo, sempre procurou me proteger. Dizia: "vozinha, cuidado o joelho para não cair", lembra com carinho a idosa de 73 anos.
O corpo de Bernardo foi localizado no dia 14 de abril enterrado em um matagal na área rural de Frederico Westphalen, a cerca de 80 km de Três Passos, onde ele residia com a família. O menino estava desaparecido desde 4 de abril. O pai, Leandro Boldrini, a madrasta, a amiga dela, e o irmão da amiga, Evandro Wirganovicz, são os réus pelo assassinato.

No momento, o processo que investiga o homicídio está na fase em que os acusados apresentam a defesa por escrito. Depois, começam a ser ouvidas as testemunhas.
Os quatro suspeitos continuam presos em casas prisionais gaúchas. A madrasta e a assistente social estão no Presídio Feminino de Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre. De acordo com a Superintência dos Serviços Penitenciários (Susepe), elas estão em celas separadas e passam a maior parte do dia trancadas. Saem do local apenas em um determinado horário do dia para tomar banho de sol.

Os advogados recorreram à Justica pedindo que as mulheres aguardem o julgamento, ainda sem data marcada, em liberdade. O pai, Leandro Boldrini, foi visto recentemente em uma audiência sobre os bens que possui, no Fórum de Três Passos.

Advogados comentam depoimentos

Advogado da avó materna de Bernardo, Jussara Uglione, Marlon Taborda atua como assistente de acusação no processo. Ele acredita que o crime foi premeditado.
"Ela [madrasta] tenta justificar que foi um erro quando as circunstâncias demonstram que não foi. Enfim, ela fez um teatro, ela armou um teatro e ela não me convenceu", afirmou.
Taborda acredita na participação de Leandro Boldrini no crime. "Vejo ele como articulador de todas as condutas. Inclusive no que se refere: ‘façam, mas eu não posso aparecer’", disse.

O advogado de defesa do pai, Jader Marques, nega a possibilidade de ele ser o mentor intelectual do crime, fato negado também por Edelvania em seu depoimento. "A acusação de que ele seja o mentor intelectual não encontra amparo nem na versão dada por Edelvania, completa, que elucidou todo o fato. Não encontra amparo na versão dada pela Graciele. Não há nada no inquérito policial que confirme essa possibilidade", salientou Marques.
O G1 entrou em contato com os advogados de Edelvania e Graciele, que não quiseram comentar a gravação. Nos próximos dias, a Justiça deve analisar se o pai de Bernardo pode responder ao processo em liberdade.

Madrasta nega superdosagem

Oito dias depois do encontro do corpo do menino Bernardo Boldrini, e do depoimento no qual a assistente social Edelvania Wirganovicz confessou ter participado do assassinato do menino, a madrasta, Graciele Ugulini, chorava ao ser interrogada na Delegacia de Três Passos. Em imagens gravadas pela polícia, ela negou ter aplicado uma injeção letal, e diz que a morte foi decorrente de uma superdosagem de remédios que ela havia dado ao menino.
"Nunca tive intenção de fazer uma coisa dessas. Devia ter contado antes. Não contei para ninguém. Não sei como consegui guardar isso comigo", disse Graciele.

No dia 4 de abril, Graciele foi vista levando Bernardo de carro em direção a Frederico Westphalen pela ERS-472, quando foi multada por excesso de velocidade. Ela contou que, durante o trajeto, Bernardo pedia para retornar após a polícia ter abordado.
"Falei que não, que não iríamos voltar, que estávamos no caminho. Eu já estava nervosa, estava com problemas pessoais, estava meio atordoada. Abri minha bolsa no caminho. Dei um remédio a ele, não lembro bem o que era. Acho que era ritalina", contou. "O guri começou a agitar, agitar, e incomodar. Eu peguei alguns remédios que eu tinha. Tinha os remédios dele", prosseguiu Graciele, garantindo que não aplicou nenhuma injeção em Bernardo.
Segundo a enfermeira, o enteado morreu dentro do carro, na frente dela e da amiga Edelvania. "De repente, vi que ele começou a babar, dormindo. Aí, eu disse: "esse guri não está bem". Chamei, sacudi ele, nada. Comentei ainda com a Edi: "acho que dei muito remédio para esse guri". Na verdade, não tinha mais pulso, já estava morto. Sou enfermeira. Eu sei, eu conheço", disse a assistente.

Amiga apontou local para ocultar corpo

Em vez de procurar a polícia, ou levar Bernardo a um hospital, a enfermeira optou por tentar ocultar o cadáver em um local apontado por Edelvania. "Foi a única saída que eu achei", justifica, antes de cobrir o rosto com a mão e chorar. "Ela me levou para esse lugar. Não sei onde é. E lá, a gente enterrou", contou.
Ao contrário do que Edelvania havia dito, Graciele negou ter oferecido dinheiro à amiga. Além disso, a enfermeira disse não ter contado ao marido sobre a morte de Bernardo.
"Resolvi falar que tinha ido dormir no colega. Não queria ter feito nada disso. Sei que eu deveria ter pelo menos pedido ajuda a alguém, mas eu estava tão desesperada que só queria consumir com o corpo", afirmou a enfermeira. Em meio às lágrimas, Graciele negou ter tido intenção de cometer o crime "Eu não fiz por querer, eu nunca quis fazer isso", garantiu.
Confissão de Edelvania foi essencial, diz polícia

Edelvania havia dado um depoimento, também gravado pela Polícia Civil e exibido pelo Fantástico, no mesmo dia em que o corpo da criança foi encontrado. Na gravação, a ré diz que a madrasta do menino, Graciele Ugulini, "deixou entender" que também matou por interesse financeiro e que o pai, Leandro Boldrini, não saberia do plano, mas, segundo ela, "daria graças no futuro", pela consumação do homicídio.
A confissão de Edelvania foi considerada essencial pela polícia para que os quatro primeiros suspeitos fossem presos, ainda durante o período das investigações. Durante mais de uma hora, ela conta ter sido convidada pela madrasta para atuar no crime em troca do pagamento da dívida do seu apartamento, localizado em Frederico Westphalen, estimado em R$
90 mil.

"Foram R$ 6 mil em dinheiro. Notas de 50 e 100. Paguei a prestação do meu apartamento. Estavam me cobrando. Eu não tinha o dinheiro. Estava pagando com muita dificuldade. Ela me ofereceu muito dinheiro e acabei sendo fraca. Eu não teria que botar a mão em ninguém pra matar. Eu só teria que cavocar e enterrar. E foi a besteira que eu fiz na minha vida", afirmou no vídeo.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Emella Simões    |      Imprimir