Categoria Geral  Noticia Atualizada em 02-08-2014

"Entristece-me ver a brutalidade",
Universit�rio de Curitiba foi em fevereiro para passar um ano no pa�s. Ele conta que ouviu 1� sirene de alerta durante jogo da Copa do Mundo.

Foto: g1.globo.com

Morando desde fevereiro deste ano em Israel, o universit�rio de Curitiba Leon Zugman, de 19 anos, diz estar abalado com os acontecimentos na Faixa de Gaza. Intercambista, ele precisou mudar da cidade onde vivia, Beer Sheva � a cerca de 40 quil�metros da Faixa de Gaza � por causa do conflito. "Entristece-me ver a brutalidade que os humanos criam um contra o outro. Infelizmente, diferen�as �tnicas ou religiosas podem causar motivos de guerra. O n�mero de mortes � cada vez maior. Pensar que eu estava em risco h� alguns dias � uma sensa��o muito estranha", afirma o jovem ao G1.

Estudante do curso de administra��o da Universidade Federal do Paran� (UFPR), Zugman foi a Israel para viver durante um ano. Ele faz parte de um grupo sionista, movimento que impulsionou a cria��o do Estado de Israel, em 1948. O interc�mbio faz parte das atividades do grupo que ele participa. "O ano de prepara��o, Shnat Hachshar�, � o momento em que o membro vai passar um ano em Israel", explica. Segundo Zugman, o objetivo do programa � contribuir com o desenvolvimento pessoal dos participantes, "com uma forma��o aberta, reflexiva e aprofundada sobre diversas quest�es sociais, inclusive o conflito atual".

At� a intensifica��o do conflito, o jovem compara a vida em Beer Sheva com Curitiba. "Era completamente normal, igual a minha cidade natal. Com�rcio e sistemas de transporte funcionando normalmente. Beer Sheva � a maior cidade do sul do pa�s, com cerca de 150 mil habitantes", conta. Com a intensifica��o, ele diz que o com�rcio parou de funcionar regularmente e que a recomenda��o � popula��o era n�o andar de �nibus.
"O Primeiro Ministro de Israel mandou um notificado a todas as cidades a 40 km de Gaza, isso inclui Beer Sheva, que era importante estar sempre a 40 segundos de um lugar protegido. Para isso dar certo, a pessoa praticamente n�o pode sair de casa. Os pr�dios das cidades deixam as portas abertas para que pessoas nas ruas possam se refugiar embaixo de escadas. A situa��o ficou completamente diferente", relembra.
O grupo do curitibano se mudou dois dias depois que os m�sseis come�aram a atingir a cidade. Ele conta que a decis�o foi tomada pelos respons�veis do programa por quest�es de seguran�a. "A princ�pio, passar�amos no m�ximo uma noite num kibutz [comunidade baseada nos princ�pios do socialismo] no norte com a expectativa que tudo j� acabasse. O problema � que, ao inv�s de acalmar, o conflito s� se intensificou, nos for�ando a morar at� hoje (tr�s semanas) no norte. Agora estamos no terceiro kibutz, que nos cede lugar para dormir e comida", relata.

Sirene de alerta
Zugman diz que, em especial, duas situa��es em Beer Sheva o marcaram. Uma delas foi durante o jogo entre Argentina e Holanda, pela Copa do Mundo, que ele assistia em um bar. Foi quando tocou uma sirene de alerta. "Est�vamos eu e dois amigos, um grupo de quatro argentinas e outro grupo de tr�s israelenses. As argentinas entraram num desespero gigante, estavam completamente perdidas. Os israelenses calmamente pegaram suas cervejas e se direcionaram para debaixo de um pr�dio. E n�s? Com medo, por�m tranquilos, seguimos os israelenses. Dentro desse pr�dio, havia pelo menos 15 pessoas se escondendo nas escadas. De repente, um barulho de m�ssil se aproximando. Logo em seguida o som de duas explos�es super altas. Cinco minutos depois de ficar ali esperando, saio na rua e percebo que o sistema antim�ssil israelense explodiu o foguete no c�u logo acima de mim. Nunca imaginei nada como aquilo. S�o extremamente assustadores os sons e barulhos. Depois de tudo isso, as pessoas se viraram de costas e seguiram normalmente suas vidas, est�o mais acostumadas", narra o estudante.

J� a segunda situa��o marcante para o jovem aconteceu enquanto ele trabalhava em uma casa, onde estavam algumas mulheres com os filhos. Ele conta que a sirene tocou quando estava brincando com tr�s crian�as no p�tio. "Nesse momento, tive que tentar pegar as tr�s no colo, levar para o bunker [esconderijo subterr�neo] e tentar ajudar outras pessoas. Dentro do bunker, algumas m�es choravam de medo, e eu e meus colegas ficamos distraindo as crian�as", diz Zugman.
Apesar dos acontecimentos, o jovem n�o pensou em retornar ao Brasil antes do fim do interc�mbio. Como agora ele est� no norte do pa�s, o estudante diz estar mais tranquilo, j� que ali o risco de foguetes � menor. "Se, por um lado, parte do meu programa foi interrompida � ao contr�rio da vida dos israelenses comuns, que deve continuar � e ser uma situa��o muito desagrad�vel e assustadora, a experi�ncia de sentir na pele o que um israelense sofre j� h� muito tempo, os lan�amentos sempre ocorrem nas cidades do sul j� h� alguns anos, ter� sempre muito peso em como vejo as coisas", pondera.


O curitibano instalou um aplicativo chamado "Red Alert" no celular. O aplicativo toca quando uma sirene soa em alguma cidade israelense. Ele contabiliza que, em tr�s semanas, com cerca de cem foguetes por dia, mais de 2.100 vezes, milhares de pessoas tiveram que correr para lugares considerados seguros. O jovem ainda ressalta que, al�m do risco de morte, h� o "terror psicol�gico" que todos ali passam.
Zugman defende a exist�ncia de dois Estados: um judeu e um palestino. "Acredito na futura boa conviv�ncia desses dois Estados", afirma. Para o universit�rio, viver no conflito permite ele constatar os fatos sob sua pr�pria perspectiva. "Acho que a principal diferen�a de estar presente na guerra � poder ver a verdade como ela realmente �", diz.



Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Gabrielly Rebolo    |      Imprimir