Categoria Geral  Noticia Atualizada em 11-08-2014

"Queria voltar a ser pequeno", diz garoto de 10 anos e 2m
Ele tem tumor do tamanho de um lim�o que estimula produ��o de horm�nio. S�rgio Gabriel fez exames no hospital universit�rio do DF e espera cirurgia.

Foto: g1.globo.com

O brasiliense S�rgio Gabriel Ribeiro Gomes, que aos 10 anos mede quase 2 metros de altura, disse ao G1 que gostaria de ser menor. "O que eu mais queria era voltar a ficar um pouco pequeno, que nem crian�a. Do mesmo jeito que eu sou, mas sendo normal. Queria parar de crescer."
Por causa de um tumor benigno do tamanho de um lim�o no c�rebro, o menino produz horm�nio do crescimento em uma quantidade muito superior � normal. Cal�ando 47 e com 1,97 metro de altura, S�rgio gosta de filmes de super-her�is, ainda n�o aprendeu a ler e n�o compreende muito bem por que os colegas da mesma idade s�o bem menores.
Ele, a m�e e a irm�, que tem 13 anos, sobrevivem com o aux�lio-doen�a de um sal�rio m�nimo que a mulher recebe do Instituto Nacional do Seguro Social. Com quadro cr�nico de hepatite C e evolu��o na fal�ncia dos rins, Ricardene Ribeiro, de 47 anos, n�o consegue trabalhar para complementar a renda.

Ricardene diz que escolheu n�o tratar da pr�pria doen�a para poder cuidar do filho. No m�ximo, toma ch�s para diminuir as dores provocadas pelas complica��es da hepatice C. "N�o consigo nem imaginar meu filho em um abrigo. As pessoas n�o o entendem, o veem desse tamanhoz�o e n�o compreendem que � crian�a", declarou emocionada. O pai das crian�as morreu em 2008.

Mas o sofrimento da fam�lia vai al�m das dificuldades do garoto para acompanhar as aulas da primeira s�rie da Escola Classe 206 de Santa Maria, no Distrito Federal.
A m�e afirma tamb�m que as chacotas nas ruas s�o di�rias e que por vezes tem que interceder para que n�o agridam o menino. Al�m disso, ela conta ter dificuldades para conseguir doa��es de roupas que se enquadrem no tamanho dele e que frequentemente o ca�ula bate a cabe�a ao passar pelas portas. O menino precisa ainda cortar as unhas todos os dias e ser depilado pela irm�.

O gigantismo foi descoberto quando a crian�a tinha 6 anos. Ricardene estranhou o crescimento acelerado do filho e o surgimento precoce de pelos pubianos e decidiu lev�-lo ao m�dico. Na �poca, ela temia que ele pudesse ter contra�do hepatite C durante a gravidez. O resultado dos exames, no entanto, apontou outra realidade.

De acordo com os laudos, o menino estava desenvolvendo um tumor na gl�ndula hip�fise, que fica na base do cr�nio e tem o tamanho aproximado de uma ervilha. A indica��o era de que ele extra�sse o caro�o o quanto antes e assim interrompesse a estimula��o excessiva para produ��o do GH � horm�nio respons�vel pelo crescimento, pela reten��o de c�lcio nos ossos, pela redu��o do consumo de glicose por parte do f�gado e pelo aumento da massa muscular.
A m�e come�ou ent�o uma peregrina��o por hospitais p�blicos do DF para fazer novos exames e realizar o tratamento. De acordo com Ricardene, a cirurgia para retirada de metade do tumor chegou a ser marcada no Hospital de Base, em Bras�lia. Ap�s horas com o menino no local, ela afirma ter ouvido que n�o seria poss�vel oper�-lo por falta de maca e que por isso saiu "indignada" da unidade. A Secretaria de Sa�de confirma que atendeu a crian�a, mas nega que tenha agendado o procedimento.

A mulher, que chegou a acionar a Defensoria P�blica do DF para pedir ajuda, diz que desistiu de procurar os m�dicos depois da ocasi�o e de ser internada para cuidar da pr�pria doen�a. Ela e a filha adolescente se dividem para cuidar de S�rgio Gabriel, que desenvolveu hiperatividade e retardo mental. O garoto, segundo a m�e, tamb�m n�o aprendeu a se controlar e ainda faz as fezes na roupa.
"J� aconteceu na escola, e achei a professora bruta com ele. Ningu�m o levou ao banheiro para tomar banho, s� brigaram mesmo. Tamb�m acontece com frequ�ncia na rua. As pessoas ficam chamando meu filho de "cag�o". Isso d�i muito. Ele j� foi muito humilhado", disse.

Temendo o sofrimento do filho, Ricardene diz mant�-lo sempre dentro de casa. O menino disse ao G1 preferir a situa��o. L�, conta, pode brincar com bonecos, ver filmes do Batman e do Homem Aranha e comer. Sempre de olho nos movimentos da m�e, ele n�o esconde que gostaria de ser diferente.
"Esporte? O que significa isso? Ah, � futebol, correr, essas coisas? Eu n�o gosto. Eu n�o consigo. Eu acho que sou gordo ou muito grande", explica. O garoto revelou tamb�m que tem medo de cachorros, baratas e le�o. Deixando de ir a muitas aulas por ficar enjoado andando de �nibus e porque a m�e n�o tem dinheiro para pagar o transporte, S�rgio Gabriel diz sentir falta apenas das refei��es na escola.

"A quest�o da comida � um problema. Ele come demais", disse a m�e. "Enquanto tiver comida, ele come, n�o tem filtro. Fico desesperada. Eu j� deixei de comer, j� tirei da minha boca, para dar a ele e n�o v�-lo sofrendo."

Tratamento
Com a ajuda da Secretaria de Sa�de do Distrito Federal, o menino conseguiu atendimento no Hospital Universit�rio de Bras�lia na �ltima segunda-feira (4). A unidade � refer�ncia em casos semelhantes e atende atualmente 200 crian�as e adultos que fazem tratamento contra o mesmo tumor que S�rgio Gabriel.

Chefe do setor de endocrinologia do hospital e fundadora do laborat�rio, a m�dica Luciana Naves afirma aguardar o resultado dos exames de sangue e da tomografia computadorizada para definir como ser� o acompanhamento do garoto. Ele possivelmente ser� operado e passar� por radioterapia, al�m de tomar inje��es mensais e rem�dios pelos pr�ximos anos.

"Apesar de ser um tumor benigno, ele � muito agressivo do ponto de vista cl�nico", explica. "Como essa crian�a passou um longo per�odo sem ser assistida, a situa��o � mais delicada. O tratamento precisa ser imediato, justamente para minimizar as consequ�ncias. A cirurgia � fundamental. O tumor � muito grande e atrapalha o restante do funcionamento da hip�fise."

De acordo com a endocrinologista, a produ��o excessiva do horm�nio pode provocar, al�m da alta estatura, doen�as no cora��o, diabetes, retardo mental e perda de vis�o. Os primeiros resultados dos testes mostraram que o tumor j� est� pressionando o nervo �ptico do menino e aumentando a press�o intracraniana.
A expectativa � de que, na pr�xima semana e de posse de todos os laudos, a equipe consiga saber quando poder� marcar a cirurgia e o quanto do caro�o poder� ser extra�do. O tempo de tratamento s� poder� ser definido depois. Luciana disse que h� pacientes acompanhados pelo hospital h� mais de 15 anos.
"� um tratamento muito caro, mas integralmente custeado pelo governo. O mais dif�cil aqui � que a gente precisa contar com o apoio da fam�lia, que precisa se convencer de que seguir todos os passos � essencial. Precisamos tamb�m contar com a ajuda da crian�a.

Como ocorre normalmente na idade dele, ele n�o gosta de tirar sangue e teve medo de fazer a tomografia. Tivemos que convenc�-lo a fazer cada exame", conta.
Tumores como o que afeta a crian�a acontecem em 60 pessoas a cada 1 milh�o de habitantes. Eles s�o mais comuns depois dos 40 anos. As v�timas geralmente se queixam de dores nas articula��es e na cabe�a, hipertens�o e diabetes de dif�cil controle e crescimento da mand�bula, l�ngua, m�os e p�s. Em adultos, o quadro recebe o nome de acromegalia.
"Esses sintomas se apresentam de forma muito lenta, parecem coisas desconexas. Costuma-se demorar entre seis e dez anos para fazer o diagn�stico quando se est� mais velho", diz Luciana. "O tratamento consiste em tirar o tumor e bloquear os seus efeitos. As pessoas conseguem levar uma vida normal depois."

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Gabrielly Rebolo    |      Imprimir