Categoria Geral  Noticia Atualizada em 14-08-2014

Campos emocionou dependentes químicos na última agenda em PE
Ele visitou casa de apoio no Cabo de Santo Agostinho no domingo (10). Na quarta (13), Eduardo Campos morreu em um acidente aéreo em Santos.
Campos emocionou dependentes químicos na última agenda em PE
Foto: g1.globo.com

Dez de agosto de 2014, Cabo de Santo Agostinho, Litoral Sul de Pernambuco. Praia de Enseada dos Corais. Este foi o local do último compromisso público de Eduardo Campos em sua terra natal, justo na data em que ele comemorou 49 anos. Também era Dia dos Pais. O ex-governador e então candidato à Presidência da República visitou uma casa de apoio a dependentes químicos mantida pelo governo estadual, conversou com os internos e discutiu propostas para o combate ao tráfico de drogas no Brasil.

Durante o tempo em que permaneceu na residência de dois andares onde seis mulheres e 28 homens buscam recuperação, Campos foi solícito a todo momento: cumprimentou os funcionários e atendeu a pedidos para tirar fotos. Na quarta-feira (13), após a confirmação da morte do socialista, o espaço entrou em uma espécie de luto involuntário. "Todos ficaram sentidos, choraram muito. Os internos estavam muito felizes com a visita do Eduardo, tinham até acompanhado com entusiasmo a entrevista dele ao Jornal Nacional", comenta a coordenadora técnica do local, Jacqueline Oliveira.
O interno César, de 23 anos, teve a oportunidade de conversar por cerca de cinco minutos com o presidenciável antes que a agenda de campanha começasse. Foi perguntado como chegou até ali, onde morava, como estava a família. "Ele disse para eu ter força e sempre seguir em frente. Sempre que eu pensar em voltar a usar droga um dia, vou pensar nisso", conta, emocionado. "A gente cresce com aquela visão de que político nenhum presta. Uma pessoa quando pensa em um usuário de droga, vê a gente como um problema. Mas eu te digo, nunca fui abraçado daquela forma, tá ligado?", recorda, deixando uma lágrima escorrer quase sem querer.
No domingo em que Campos esteve na casa de recuperação, cinco funcionários que estavam de folga fizeram questão de ir ao trabalho somente para ver de perto ou tentar trocar alguma palavra com o ex-governador. Foi o caso da educadora Kátia Reneide. Naquele dia, ela vestiu um dos melhores vestidos e se produziu apenas para encontrar Eduardo Campos. "Quando ele já estava no portão, indo embora, eu corri atrás e gritei: "Eduardo, você não pode ir sem tirar uma foto comigo", lembra. Ganhou não só a foto, mas ainda um abraço e um beijo. Vai colocar a imagem em uma moldura.

A notícia da morte foi tão surpreendente para todos na casa de apoio quanto a notícia da confirmação de que um ex-governador e candidato a presidente iria visitar o local em um domingo, Dia dos Pais, aniversário dele. O espaço ainda passava por adaptações, pois funcionava em outro endereço e a mudança havia sido feita cinco dias antes da visita. "A casa foi preparada para ele, que escolheu começar um domingo daquele junto a um público com o qual se identificava. Acho que ele queria juntar forças pra enfrentar uma semana importante", pontua Jacqueline Oliveira.
Na data em que Eduardo Campos comemorou 49 anos, os internos cantaram parabéns e o presentearam com um bolo. "Ele olhou para todo mundo e veio na minha direção com o prato na mão. Fiquei com muita vergonha. Ele deu um beijo na minha testa e saiu. Não acreditei", descreve Alice, 21 anos, grávida de oito meses, que ganhou o primeiro pedaço. Mário, 32 anos, entregou ao socialista um artesanato de origami, um cisne, como forma de agradecer a visita: "Ele disse assim: "um dia você me ensina. Esse aqui eu vou botar na minha mesa".
Olho a olho
Um político preocupado em ouvir o que os outros tinham a falar, atento, de palavras firmes. Todos os internos que tiveram algum tipo de contato com Eduardo Campos no último dia 10, contudo, foram uníssonos ao ressaltar uma característica do ex-governador: acenava e conversava olhando nos olhos. Também era bem humorado, gostava de fazer brincadeiras.
Naquele domingo, o presidenciável pareceu se incomodar apenas com um acontecimento: "Ele disse que o Santa Cruz podia ter pegado mais leve". O interno Marcelo, 22 anos, vestia a camisa do time tricolor durante o evento com o ex-governador. No dia anterior, o Náutico, time de coração de Campos, perdeu de 3 a 0 para o rival.
Marcelo, Alice, César, Mário e praticamente todos os atendidos na casa de apoio visitada por Eduardo Campos no dia 10 de agosto se reuniram com a reportagem do G1 nesta quinta (14), em uma mesa longa utilizada para as refeições. O bate-papo teve mais silêncios e cabeças baixas do que outra coisa. Estavam abatidos e mal conseguiam acreditar que o homem que os visitou no último fim de semana havia morrido de forma trágica, repentina. César resumiu o sentimento coletivo daquele espaço: "Sempre que falam da morte dele, parece que está acontecendo de novo".
O acidente
As outras vítimas do acidente foram o assessor Carlos Percol e os fotógrafos Alexandre Severo e Marcelo Lyra; Pedro Almeida Valadares Neto, assessor de campanha e ex-deputado federal; e os pilotos Geraldo Magela Barbosa da Cunha e Marcos Martins.

O acidente que matou Eduardo Campos aconteceu em Santos, SP, na manhã da quarta (13), e matou sete pessoas, sendo dois tripulantes e cinco passageiros. O jato particular caiu sobre um bairro residencial e matou as sete pessoas que estavam a bordo. Chovia no momento da queda. A Aeronáutica vai apurar as causas da queda do avião. Em paralelo, a Polícia Civil também irá investigar o caso para buscar possíveis responsáveis.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Gabrielly Rebolo    |      Imprimir