Categoria Geral  Noticia Atualizada em 04-10-2014

"Fiquei 4 dias sem comida", desabafa transexual
Jhenifer Dalbosco, 28 anos, passou quase 1 m�s presa e perdeu 10 kg. Ga�cha, que se recupera na It�lia, diz que dormia no ch�o de um corredor.

Foto: g1.globo.com

Um dia ap�s desembarcar na It�lia, a transexual ga�cha Jhenifer Dalbosco, 28 anos, presa no Egito no in�cio do m�s passado por suspeita de prostitui��o, ainda se recupera da experi�ncia vivida no pa�s africano. Acompanhada de outra transexual brasileira que tamb�m havia sido presa e pesando cerca de 10 kg a menos, a jovem diz que precisou tomar rem�dios para poder relaxar ap�s a pris�o. Desde 4 de setembro, quando foi detida em um hotel no Cairo, dormia no ch�o do corredor de uma penitenci�ria de El Dokki. Ela foi solta na quarta-feira (1�).

"Foi horr�vel. Fiquei quatro dias sem comida, s� com �gua. Voltei s� com a roupa do corpo. Estou me recuperando de tudo", desabafou ao G1 nesta sexta-feira (3).
Hospedada na casa de uma amiga, Jhenifer voltou a se alimentar e a repousar em uma cama.

"Elas chegaram fisicamente e psicologicamente abaladas, e eu dei alguns calmantes para elas poderem descansar. � uma hist�ria bem longa e muito sofrida, algo inacredit�vel. Eu s� acreditei porque vi o estado em que as duas apareceram", relatou a amiga Nicole Robalo
Ourique, 31 anos, tamb�m transexual, que vive na It�lia com o marido.

Agora, ela se defende da acusa��o de prostitui��o, que no Egito � crime com pena prevista de um a tr�s anos. "N�o tinha prova nenhuma contra mim. Eu fui para fazer uma cirurgia no olho. Tenho um e-mail que comprova isso, que a gente n�o ia se prostituir", garantiu.

Em 4 de setembro, Jhenifer desembarcou no Cairo, onde, segundo ela, realizaria uma cirurgia para a troca da cor do olho. Horas depois, no entanto, ela diz que foi detida quando dormia em um quarto de hotel da capital eg�pcia. Uma amiga, tamb�m transexual, estava no quarto ao lado e foi presa da mesma forma.

"Invadiram nosso hotel. Levaram tudo da gente. Foi horr�vel. Olhavam para nossa cara,
riam. A gente n�o fala �rabe, tampouco ingl�s. Mas sabia que estavam fazendo gracinhas conosco", recordou.

As humilha��es n�o se limitaram a xingamentos, segundo ela. "Eles batiam nossa cabe�a uma na outra. Estou com algumas hematomas", descreveu.

No dia seguinte, foram levadas a uma penitenci�ria. Por�m, conforme ela, n�o foram encaminhadas a uma cela. "Tinha uma cela feminina e duas masculinas. E um corredor entre elas. A gente ficou nesse corredor. Sem banheiro, sem cama, dormindo no ch�o. N�o tinha comida, s� tinha �gua", contou.

De dentro da pris�o, Jhenifer n�o tinha not�cias sobre seu processo de soltura e n�o entrou em contato com familiares ou amigos. "Me senti esquecida".

Da It�lia, a amiga Nicole, ao saber do desaparecimento das duas brasileiras, recorreu ao consulado brasileiro. Sem ajuda, entretanto, contratou um advogado e pediu apoio ao consulado italiano para obter a liberdade das duas.

"O consulado brasileiro apareceu depois que procurei a Ouvidoria do Itamaraty e insisti muito. S�o coisas indignantes", disse Nicole.

Jhenifer ainda n�o tem planos de voltar ao Brasil. "Com todos esses gastos, seria imposs�vel viajar agora", afirmou ela, que mant�m contato com familiares e amigos de Porto Alegre.

O Minist�rio das Rela��es Exteriores informou que as duas transexuais receberam a mesma assist�ncia consular a partir do dia em que Embaixada do Brasil no Cairo foi informada da deten��o. "As autoridades eg�pcias n�o haviam informado a embaixada, at� aquela data (15 de setembro), da deten��o de nacional brasileira. A embaixada reiterou � Chancelaria local que casos de brasileiros detidos no Egito devem ser reportados � embaixada com a rapidez poss�vel, para a presta��o da devida assist�ncia consular. Trata-se de situa��o enfrentada, tamb�m, por detidos de outras nacionalidades", informou o Itamaraty por meio de nota assinada pela assessoria de imprensa.

O Itamaraty disse ainda que ofereceu alimenta��o para ambas e trabalhou no processo de soltura. "Tomou, em seguida, provid�ncias para disponibiliza��o de alimenta��o di�ria e acompanhamento, pela embaixada, das audi�ncias judiciais que resultaram, no dia 23 de setembro, na decis�o de liberta��o sob pagamento de fian�a, concretizada no dia 1� de outubro", afirmou, em nota oficial.

"Em momento algum queixou-se a nacional brasileira de que a embaixada n�o lhe disponibilizava quantidade adequada de alimentos. Esse aux�lio espec�fico foi-lhe proporcionado ap�s haver reclamado da qualidade da alimenta��o na deten��o. Carece de fundamento a afirma��o de que n�o houve apoio consular adequado", concluiu o texto.

Atraso na soltura
Uma audi�ncia na �ltima ter�a-feira (23) havia decidido pela liberdade imediata, sob fian�a, de Jhenifer, por�m tr�mites burocr�ticos impediram a soltura imediata da brasileira. O valor foi pago pela fam�lia e amigos da ga�cha, que poder� responder ao processo sem precisar permanecer no pa�s africano. Entretanto, ela foi solta apenas na �ltima quarta.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Ana Luiza Schetine    |      Imprimir