Categoria Geral  Noticia Atualizada em 07-10-2014

Passageiros relatam rotina de medo e assaltos em estações
Metroviários deflagraram greve nesta terça para cobrar segurança à CBTU. G1 circulou por plataformas no Grande Recife e ouviu queixas sobre crimes.
Passageiros relatam rotina de medo e assaltos em estações
Foto: g1.globo.com

Metroviários decidiram paralisar as atividades por tempo indeterminado, a partir desta terça (6), para pedir mais segurança nas estações do Grande Recife. O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários de Pernambuco (Sindimetro-PE) afirma que vem cobrando providências à Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) sobre constantes assaltos a funcionários e passageiros, no entanto nenhuma medida foi adotada. O G1 circulou por terminais indicados pela categoria como mais perigosos e ouviu relatos de crimes e medo.

O Sistema de Trens Urbanos do Recife é operado em quatro linhas férreas, com extensão total de 71 quilômetros, abrangendo os municípios do Recife, de Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e do Cabo de Santo Agostinho. Ao todo, são 39 estações, transportando cerca de 400 mil passageiros por dia. A Linha Centro é a que tem maior demanda e estações mais inseguras, de acordo com o Sindicato dos Metroviários.

Já a estação Engenho Velho, em Jaboatão, é uma das que concentra o maior número de relatos de violência. O forneiro Edson Herculano contou que um amigo foi assaltado na saída da plataforma, no período da tarde, por dois homens armados em uma moto, em agosto passado. "De noite fica ainda mais inseguro, não vejo nunca polícia por aqui. A gente tem que ficar com um olho no padre e outro na missa", comentou.

O soldador Renato Santos relatou à reportagem que foi assaltado no último mês de setembro. "Estava entrando na estação, por volta das 18h30, quando dois homens em uma moto levaram meu celular e meu relógio. Ainda abriram a minha bolsa, mas estava sem a carteira na hora. Nem fiz B.O. [Boletim de Ocorrência], já tinha perdido minhas coisas mesmo. Depois disso, se sair do trabalho à noite, eu desço na estação de Jaboatão, que é mais movimentado, e pego ônibus para o Barro", disse.

A estação Werneck, no bairro de Jardim São Paulo, na Zona Oeste do Recife, também figura no topo da lista das mais perigosas, segundo os metroviários. Um auxiliar de serviços gerais que trabalha no local e preferiu não ser identificado, contou que presenciou um assalto em setembro. "Um homem pegou o celular de um passageiro logo na entrada, por volta das 19h. A vítima entrou correndo aqui [na estação] morrendo de medo", afirmou.

Há três anos, o policial militar Evson Napoleão foi assaltado na Rua Cacimbão, ao deixar a Estação Werneck. "Estava saindo, por volta das 18h, quando um homem armado parou a bicicleta e levou meu celular, boné e relógio. Ele entrou na estação e logo depois ouvi um tiro, acho que tentou assaltar mais alguém. Não registrei B.O., e de lá para cá nada mudou. Não vejo nenhuma segurança a mais aqui", apontou.

Por conta de recentes episódios, as estações Santa Luzia, no Recife, e Floriano, em Jaboatão, também entraram na "lista negra". A reportagem teve acesso à foto de um suspeito assaltando a bilheteria da estação Santa Luzia, no bairro da Estância, Zona Oeste da capital, no último dia 22 de setembro, por volta das 18h30. Ele estava armado e fugiu com outro comparsa, lavando dinheiro. A imagem é uma reprodução das câmeras de segurança do local. A CBTU informou que está investigando o crime.

Por conta de casos assim, a servidora pública Meriane Siqueira sempre aguarda o marido ir buscá-la na estação. "Eu não saio sozinha por medo, para não correr risco. É complicado porque, hoje mesmo [sexta, 3], eu já estou esperando ele há mais de meia hora, quando eu poderia estar em casa, adiantando as coisas, mas aqui não tem segurança e lá fora não vejo polícia", garantiu.

Na estação Floriano, os passageiros ouvidos pelo G1 não passaram sentimento de insegurança, mesmo afirmando terem ouvido relatos de crimes no local. "Eu até gosto de morar aqui [no bairro de Socorro]. Já soube de casos de assalto, mas são raros", disse a auxiliar de nutrição Maria Cícera Silva.

Já quem trabalha no metrô não mede críticas à falta de segurança, apontando, inclusive, à redução da guarda terceirizada que atua nos terminais. Segundo os trabalhadores, a maior parte das estações tem apenas uma pessoa fazendo a patrulha por turno, tendo que dividir-se em duas plataformas, de embarque e desembarque.

O cozinheiro Jefferson Justiniano foi assaltado na Estação Tejipió, na Zona Oeste do Recife, e ainda levantou outro aspecto da violência nos vagões. "Estava sentado na rampa da estação com três amigos, quando um homem armado levou dois celulares e R$ 80 da gente. Isso gera uma insegurança na gente, principalmente em dia de jogo, quando tem pessoas de torcida organizada nos trens. Dá medo por conta do vandalismo", argumentou.

Dessa forma, foi até fácil encontrar passageiros com histórias de assaltos em outras estações do sistema. As atendentes de telemarketing Luciana Andrade e Natália Macêdo tiveram os celulares roubados no último mês de agosto no entorno da estação central do Recife. "Um homem na bicicleta ameaçou a gente com uma faca, bem na entrada, por volta das 21h. Não prestei B.O. porque já estava traumatizada com outro assalto que tinha sofrido dias antes, em Camaragibe", disse.

Reivindicações dos metroviários
Os metroviários afirmam que assaltos ocorrem com frequência dentro e fora das estações. Segundo eles, caixas eletrônicos instalados nas estações atraem o interesse de quadrilhas armadas. Conforme o Sindmetro-PE, essa greve não tem nenhum aspecto salarial na pauta, é exclusivamente por segurança. "Desde 2012, a gente vem discutindo esse problema e a CBTU só realiza paliativos, nenhuma solução definitiva. Em fevereiro deste ano, a CBTU apresentou algumas propostas e o documento foi assinado em audiência no TRT, mas nada foi cumprido. Nesta última semana, a empresa também deu sugestões, mas nada concreto, por isso, votamos pela paralisação", disse o presidente do sindicato, Diogo Morais.

Ele acrescentou que as estações citadas na reportagem - Santa Luzia, Werneck, Floriano e Engenho Velho - estão entre as mais inseguras por terem movimento de passageiros relativamente pequeno, o que facilita a ação de bandidos devido à falta de policiamento ostensivo. "Também estamos tendo casos de assaltos dentro de trens nas linhas do VLT, que partem de Cajueiro Seco para o Cabo de Santo Agostinho ou para o Curado", alertou.

Ainda segundo Morais, em assembleia realizada no último dia 30 de setembro, trabalhadores da área de segurança apresentaram um número preocupante: este ano já foram notificadas 1.600 ocorrências nas estações de metrô, entre assaltos, vandalismo e agressões. Ele lamenta que a população não registre queixa nas delegacias. "Nós temos esse problema de subnotificação também dentro da categoria. Os servidores já estão acostumados a fazer relatórios de ocorrência e não obter resposta da empresa. É preciso registrar o B.O. porque isso dificulta até o planejamento da empresa para combater o problema", comentou.

A segurança da parte interna do metrô é de função da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). O G1 procurou a empresa, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. A CBTU informou que, de janeiro a outrubro deste ano, foram registrados apenas quatro assaltos em trens, sendo três na Linha Centro e um na Linha Sul. Já furtos ou tentativas foram 17 na Linha Centro. Na área externa das estações, foram três roubos em terminas da Linha Centro e um da Linha Sul. O telefone da ouvidoria do Metrorec/CBTU para sugestões e reclamações é o (81) 2102-8580.

Em nota, a Polícia Militar (PM) informou que realiza policiamento ostensivo no entorno das estações do metrô da Região Metropolitana do Recife com homens a pé e motorizados, com carros e motos. O órgão afirma que faz operações com abordagens e aponta que a falta de formalização e informação sobre os delitos dificultam a ação da PM na identificação e prisão de criminosos. O telefone da corporação para registrar ocorrências é o 190.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Gabrielly Rebolo    |      Imprimir