Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 09-10-2014

NINO NUNES: AMIGO

NINO NUNES: AMIGO

Passou o domingo das elei��es. Antes que o sol nascesse, o telefone tocou. Seria o sobrinho comentando o resultado das urnas? N�o era. Triste not�cia: chegava ao fim a agonia de um homem que desfrutou da melhor forma poss�vel o jeito que escolheu para viver. Virei-me para a esposa, lac�nico: "-Tio Nino descansou".

Conheci Nino na minha adolesc�ncia. Seu jeit�o "irrespons�vel" de levar a vida exerceu certo fasc�nio sobre mim. E eu embarquei nessa fascina��o, perfeitamente identificado. Alfaiate dos bons, Nino era um cara bem humorado, o tipo que n�o perdia uma piada. Contador de "causos", ele sabia, como poucos, prender a aten��o da rapaziada numa roda de conversa. E isso, sem os efeitos da "cerva" que ele naquele tempo sabia apreciar, com ou sem modera��o. Particularmente, n�o tenho lembran�as de um Nino bebum. Rar�ssimas cenas. A mem�ria fez quest�o de n�o guardar.

Cruzmaltino doente, gostava de mencionar a escala��o dos momentos hist�ricos do seu vasc�o. Bom de bola! Eu o conheci, naturalmente, j� fora dos gramados. Sua esposa diz que al�m de bater um bol�o, Nino ostentava um par de pernas que provocava suspiros nas arquibancadas... E, � claro, ci�mes na namorada!...

A gente se encontrava espa�adamente. De tempos em tempos, sempre era provocado a contar as hist�rias de um certo craque, jogador de v�rzea, que dizia ter sido seu contempor�neo, em Colatina, no norte do Estado. Francisquinho, era o nome da fera, descrito como um cara, magro, espigado, de canelas finas ."-A canela dele era da grossura do meu bra�o!" Nino dizia isso e a gente ria desse detalhe. Francisquinho - dizia ele - era dono de um chute t�o potente que provocava estragos nas planta��es de milho em volta do campo... Nino dizia que quando o time do craque estava em vantagem no placar, o treinador recomendava: "� Francisquinho! Faz cera!!" Pronto. Essa era a senha. Bola nos p�s do craque. Uma embaixadinha e...poof!! Um chute para o alto. O tempo que a bola levava para subir e para descer permitia ali uns bons cinco minutos de espera. Bola no ch�o e o toque de bola continuava at� chegar novamente nos p�s do rapaz de canelas finas para nova "jornada nas estrelas". Acredite quem quiser!

Nino gostava de um bom papo. Numa de suas visitas, descobrimos aqui em Itaipava, um companheiro de mesma gera��o e que tinha morado por algum tempo, naquelas regi�es do norte do Esp�rito Santo. Quer dizer, havia hist�rias em comum... Travaram conhecimento e, invariavelmente, quando nos visitava, ele me convidava para tomar um guaran� no barzinho da filha do amigo que mandava chamar o pai para infind�veis papos. E eu ali, fazendo as minhas provoca��es, sugando de canudinho as li��es de vida daqueles dois mestres na arte de envelhecer. S� alegria. Gostosas gargalhadas. Sei que vou sentir muita falta...

N�o teremos mais o bom humor do Nino. Humor que se manteve, de certa forma, inalterado, mesmo diante de experi�ncias fort�ssimas como a perda de dois de seus filhos ainda jovens, em �pocas diferentes. Filhos a quem ele influenciou grandemente com seu jeito amigo de ser pai. Algu�m comentou a cena comovente vista no vel�rio do filho William, impedido de chegar aos trinta por um fulminante infarto. Nino-pai, emo��o pura, balbuciava junto ao caix�o: "- Dorme, filhinho, dorme..."

Devo dizer que n�o acompanhei a longa agonia do Nino, no hospital. Estive com a fam�lia em sua casa. Nem fui ao seu enterro. Repeti o mesmo comportamento praticado em rela��o � minha m�e Esther. Sempre estou esperando a visita dela de quem me separei geograficamente aos vinte anos. No fundo, no fundo quero ter esse sentimento em rela��o ao Nino. Quando a saudade bater, vou ficar pensando: Caramba! Faz tempo que o Nino n�o aparece por aqui!...

Nino Nunes parte aos oitenta e dois. Sua conviv�ncia de sessenta anos com a fiel companheira Aurora Gavazza deixar�, sem d�vida, profundas e agrad�veis lembran�as nela, nas duas filhas Ludmila e Sandra e no filho Weverton. Genros, noras, netos, sobrinhos, irm�os e amigos... Todos n�s guardaremos boas recorda��es do Nino. Um homem de pequena estatura, com um nome pequeno, mas com um cora��o imenso que s� perde para o vazio que deixou em todos n�s. Saudades, Nino! A palavra "amigo" � adequada para definir voc�!

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Por:  Silvio Gomes Silva    |      Imprimir