Categoria Geral  Noticia Atualizada em 11-10-2014

Absolvida, Carla Cepollina diz que vai defender direitos
Fui absolvida seis vezes, em todas as inst�ncias, diz advogada. Ela foi acusada de ter matado o ex-namorado coronel Ubiratan.
Absolvida, Carla Cepollina diz que vai defender direitos
Foto: g1.globo.com

A absolvi��o da acusa��o de ter matado o ex-namorado coronel Ubiratan Guimar�es e o fim da possibilidade de recursos de seu julgamento encerram oito anos de uma luta de Carla Cepollina na Justi�a para provar sua inoc�ncia. � assim que a advogada v� o fim de todo este processo ap�s transitar em julgado no Superior Tribunal de Justi�a (STJ), em Bras�lia, recurso do Minist�rio P�blico de S�o Paulo contra decis�o do Tribunal de Justi�a de S�o Paulo que a inocentou, em 20 de junho de 2013. "Fui absolvida seis vezes, em todas as inst�ncias", diz a advogada.

Cepollina admite ter enfrentado uma depress�o e diz que agora tenta retomar a vida ap�s provar sua honra.

"Estou reconstruindo minha vida. Minha vida nesses anos foi destru�da. Voc� sai de um processo desse definitivamente mutilada. Do ponto de vista profissional, emocional, social, ficou uma espada sobre a minha cabe�a esperando para resolver. Meu pai morreu com a dor de ter uma filha acusada de assassinato", afirmou Carla em entrevista concedida ao G1.

Em novembro de 2012, Carla foi declarada inocente pelo Tribunal do J�ri da acusa��o de ter matado o Coronel Ubiratan Guimar�es. Os jurados consideraram as provas insuficientes.
Ex-aluna do tradicional Col�gio Dante Alighieri, formada em direito pela Universidade de S�o Paulo (USP) e com p�s-gradua��o na Funda��o Get�lio Vargas, Carla est� disposta agora a ajudar pessoas que enfrentam na Justi�a a mesma situa��o que ela enfrentou.

"Nesses �ltimos oito anos, por for�a do destino, acabei aprendendo muito sobre direito penal e j�ri e fa�o quest�o absoluta de fazer um trabalho para ajudar pessoas, porque sei que nem todo mundo tem a f�, a coragem, a for�a e o conhecimento que eu tive para superar a barb�rie a que fui submetida", afirmou. "Eu conhe�o os dois lados. Eu sei o que � ser v�tima de opress�o, pr�-julgamento. Eu tive a mesma dor. Eu n�o teria conseguido sem a for�a, sem as ora��es da minha fam�lia e meus amigos", disse.

Carla revela que se colocou � disposi��o da Comiss�o de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDD) e do Movimento de Defesa da Advocacia (MDA) para ajudar pessoas que passam pela mesma experi�ncia que ela passou. "O triunfo de um inocente sobre um processo desse deveria ser alguma coisa que deveria dar alento a outros inocentes", disse a advogada inocentada pela morte do coronel Ubiratan.

Ubiratan foi o comandante da invas�o do pres�dio do Carandiru, na Zona Norte de S�o Paulo, em 1992, quando 111 presos foram mortos pela Pol�cia Militar. O coronel chegou a ser condenado pela Justi�a a 632 anos de pris�o, mas foi absolvido pelo �rg�o especial do TJ-SP. � �poca de sua morte, Ubiratan era deputado estadual.

Carla diz n�o ter raiva ou m�goa do processo que enfrentou e deixa claro que o preju�zo que sofreu � maior do que qualquer indeniza��o. "Eu n�o tenho raiva, eu tenho talvez solidariedade. S� quando voc� alcan�a esse limiar de dor, voc� consegue respeitar tanto o pr�ximo e a dor do pr�ximo. Tem alguma indeniza��o que pague o que eu passei? Quanto que paga oito anos da minha vida? Eu chegar a um lugar, dar o cart�o e as pessoas me olharem com aquela cara "Foi ela? N�o foi? � ela que est� no jornal?". Quanto que paga meu irm�os terem algum tipo de embara�o. As pessoas que s�o encarregadas, que a gente espera que sejam defensores da ordem e da lei n�o conduziram o processo da maneira que se espera que eles conduzam. Tenho que fazer as pazes com isso".

Cepollina diz que retoma a vida profissional. Segundo ela, sua defesa tomou a frente de toda e qualquer outra ambi��o. "Sua vida para. Voc� n�o tem uma intera��o social normal quando � acusada de assassinato. Quando saiu isso, as pessoas que me conhecem, que fizeram Dante [Col�gio Dante Alighieri] ou qualquer uma das faculdades que eu fiz, que sabem meu temperamento, sabem como sou, n�o acreditaram. Mas voc� se sente tolhido. E a prioridade na sua vida � isso. Eu sempre tinha sido boa aluna e sempre tinha trazido honra para a fam�lia. A minha miss�o na vida era acabar aquilo. Voc� fica anestesiada para as outras coisas da vida. Eu tenho dupla cidadania [brasileira e italiana], mas jamais iria embora, porque minha fam�lia est� aqui, meu nome est� aqui. Tenho senso de honra, de dever, de tudo."

A advogada diz que o sucesso em sua defesa n�o tem rela��o com sua posi��o social. "Fui criada ouvindo que a gente n�o se conforma com opress�o e luta pelo que a gente acredita. Meus dois av�s s�o her�is condecorados de guerra. Eu falei: "eu morro, mas n�o vou ceder." Isso n�o tem a ver com classe social. Eu sou corintiana: tem a ver com isso. Perdeu o jogo, no dia seguinte tem de estar com a camisa na rua. Tem a ver com vontade de sobreviver. Nesse processo, fazem de tudo para quebrar seu esp�rito", afirmou. "Voc� pensa que eu n�o entrei em depress�o? Quando marcaram o j�ri, eu estava mal.

Carla sugere que o caso Ubiratan seja reaberto. "Sugiro que telefonem para o division�rio do DHPP (Departamento de Homic�dios e Prote��o � Pessoa) e pe�am que seja reaberto o caso Ubiratan. Se precisar, colaboro com as investiga��es. Mas isso n�o tem nada a ver com a Carla Cepollina. Se as pessoas tiverem um pouco de dec�ncia, que me deixem em paz."

Ela n�o indica suspeitos, mas v� falhas na investiga��o. "Eu acho que quando um deputado estadual que est� em campanha, que participou do Carandiru, � morto, a gente n�o investiga s� a namorada e n�o fala que foi a namorada depois de 24 horas."
O coronel Ubiratan Guimar�es foi achado morto em 10 de setembro de 2006 em seu apartamento, nos Jardins, em S�o Paulo. Com base na investiga��o policial, o MP acusou Carla de ter atirado no namorado motivada por ci�mes.

Em 7 de novembro de 2012, ap�s tr�s dias de julgamento, o 1� Tribunal do J�ri da Capital absolveu Cepollina. Ela havia sido denunciada por homic�dio duplamente qualificado (motivo torpe e mediante recurso que impossibilitou a defesa da v�tima) sob alega��o de ter matado Ubiratan com um tiro no abdome ap�s suposta discuss�o. O MP recorreu e o recurso foi negado pelos desembargadores do Tribunal de Justi�a de S�o Paulo, por tr�s votos a zero, no dia 20 de junho de 2013.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Ana Luiza Schetine    |      Imprimir