Categoria Geral  Noticia Atualizada em 29-10-2014

Designer cria projeto para revitalizar trechos da ciclovia d
Carolina Ferrés quer transformar muros e pontes em galeria de arte. Ideia nasceu durante processo de superação do fim de seu casamento
Designer cria projeto para revitalizar trechos da ciclovia d
Foto: g1.globo.com

Foi tentando superar o fim de seu casamento que a designer Carolina Ferrés, de 37 anos, desenvolveu um projeto para transformar o Rio Pinheiros em uma galeria de arte. Uruguaia radicada no Brasil, ela utilizava a ciclovia, localizada na margem leste do rio, para praticar exercícios e refletir.

"Sempre pedalei. Comecei a ir com mais constância como um lugar para pensar. Me incomoda o cheiro, mas eu estava tão incomodada com tudo que o cheiro era só mais um. E você vai acostumando, chega uma hora que você não sente mais", relata.

Ao pensar estratégias para transformar pontes e muros que integram a paisagem do rio, Carolina encontrou uma forma de minimizar sofrimentos pessoais. "Tinha me separado no final de 2013, mas foi em março desde ano que me dei conta de que não teria volta, foi quando caiu a ficha. Mas nada que um projeto novo não ajude a melhorar", afirma.

No comparativo, o local que utilizava como escape passou a representar um problema maior. "Eu pensava: "se eu estou ruim, imagina o rio". Há anos levando cascudo na cabeça. Ele tem uma aparência de agonizante. Mas apesar de tudo você vê capivara, garça", comenta.

A designer deixou o Uruguai ainda criança, aos sete anos. Morou em algumas cidades do interior de São Paulo, e há 12 vive na capital paulista. Embora esteja há três décadas no Brasil, a referência à terra natal é forte.

Uma das heranças do país vizinho explica o interesse em modificar a realidade da Marginal Pinheiros. "Moro no aqui faz tempo, mas sou uruguaia. Lá tem muito rio. Toda cidade pequena o foco é o rio", descreve.

Desde março deste ano ela planeja maneiras de atrair as pessoas para o problema ambiental. A proposta é discutir temas relacionados à água e interferir artisticamente para despertar ao menos o incômodo com a poluição do rio, o mau cheiro.

"A ciclovia trouxe umas pessoas para o rio. Antes não tinha nem isso. O local não é bonito nem gostoso, mas é um protesto. Você começa a ficar irritada de não ter um rio bonito", explica.

Carolina já trabalhava com intervenções urbanas e tinha uma experiência bem sucedida no Parque Linear das Corujas, na Vila Beatriz, na Zona Oeste da cidade. Há dois anos, em parceria com um grupo de amigos e a comunidade do bairro, ela transformou o local em galeria de arte, horta e pomar.

"Nas minhas andadas pela ciclovia comecei a olhar os espaços de muros, viadutos, superfícies que daria para fazer na mesma lógica do que fizemos com o Projeto Coruja, e trazer conteúdo para o Rio", explica.

Após seis meses de maturação, Carolina lançou o programa em um site de financiamento coletivo para pedir ajuda financeira e divulgação. Dividido em duas partes, o projeto mapeou oito pontos de intervenções na ciclovia da Marginal Pinheiros - desde a ponte do Jaguaré até a Vila Olímpia.

Para a primeira etapa, a designer conseguiu patrocinador. No dia 23 de novembro, com a ajuda de uma revista especializada em ciências e meio ambiente, será inaugurada uma linha do tempo contando a história do Rio Pinheiros.

Na data, ela também pretende convidar os demais apoiadores para um passeio de bike, almoço-piquenique no Parque do Povo e uma conversa-debate sobre questões relacionadas a questão da água – principalmente a crise de abastecimento que atinge o estado.

Em 2015, a iniciativa ganhará novas cores. Em parceria com um grupo de artistas, ela pretende grafitar muros e pontes do espaço determinado. "O primeiro semestre do próximo ano será focado em fazer uma galeria ao longo da ciclovia. A temática vai ficar sendo o rio. Vamos falar sobre soluções, sentimentos. Cada artista pode sugerir o que quiser", explica.

Para essa segunda etapa, Carolina recorreu a editais do governo estadual e aguarda resposta. Na página de financiamento coletivo, é possível empenhar de R$25 a R$240 para bancar o projeto. Os brindes variam conforme o valor doado.

Além de mudar esteticamente as margens do Rio Pinheiros, a jovem pretende elaborar encontros para que novas soluções para o problema da poluição sejam pensadas.

"Queremos dar bastante enfoque das oficinas para conversar sobre o assunto água. É importante que as pessoas saibam o que podem fazer para ajudar. Gostaria que as pessoas começassem a vir mais e questionar porque nós não temos um rio como coluna da cidade. Tomar banho no Rio Pinheiros eu acho muito difícil, mas se criássemos um parque linear e um espaço público, que fosse navegável, já seria uma grande mudança e melhoria."

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir