Categoria Geral  Noticia Atualizada em 08-11-2014

Facção tentou usar período da Copa para se infiltrar no Ento
Organização criminosa pretendia dominar o tráfico de drogas na capital. Polícia identificou 27 membros da facção; 13 serão transferidos de presídios.
Facção tentou usar período da Copa para se infiltrar no Ento
Foto: g1.globo.com

Parte da facção criminosa que foi desarticulada nesta sexta-feira (7) pela Polícia Civil do Distrito Federal pretendia aproveitar o período da Copa do Mundo para se infiltrar no Entorno da capital federal, informou o chefe da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco), Fábio de Souza.

Segundo o titular, os criminosos acreditavam que a segurança pública estaria completamente voltada para o Mundial e que, por esse motivo, seria fácil implantar a organização na região. Temendo rebeliões de presos durante o campeonato, a polícia passou a monitorar os presídios e acabou descobrindo uma célula atuante que pretendia dominar o tráfico de drogas na capital federal.

"Eles tentaram se favorecer de um período onde teria a segurança pública toda voltada para o grande evento e deixar algumas áreas descobertas para que eles pudessem cada vez mais ganhar terreno", diz o delegado. "Foi um trabalho preventivo. Nós tínhamos uma grande preocupação em função do grande evento, de termos rebeliões no nosso sistema penitenciário ou de termos realmente uma tentativa da facção criminosa de se instalar, que foi o que nós detectamos."

Segundo o delegado, a organização criminosa tenta se infiltrar há 14 anos no DF e teve facilidade de se organizar no Entorno por conta da falta de investimentos e pela vulnerabilidade nos presídios instalados.

O delegado recordou o caso do preso Marco Willians Camacho, o Marcola, apontado como chefe de uma facção criminosa comandada de dentro dos presídios de São Paulo e que esteve encarcerado em 2001 no DF.

"Era necessário que nesse ano, um ano de Copa do Mundo, nós estivéssemos muito atentos a essa possibilidade, essa tentativa de mais uma vez se estabelecer aqui [uma facção criminosa] na capital da República", disse. "Foi quando nós montamos uma equipe com especialistas, com pessoas que conhecem o histórico dessa organização criminosa e de seus integrantes que estão aqui estabelecidos no nosso sistema penitenciário."

Ao todo, a polícia identificou 27 suspeitos de integrarem a facção. Durante a madrugada, a corporação desencadeou a "Operação Tabuleiro" e deteve 13 pessoas em presídios em Luziânia, Águas Lindas, Santo Antônio do Descoberto e Novo Gama, em Goiás, e em São Paulo e Ceará.

Eles prestaram depoimento e vão ser indiciados por integrar quadrilha armada. Uma pessoa estava em liberdade também foi detida e quatro estão foragidos. Os demais ainda serão investigados e podem ser presos nos próximos dias.

O comando da célula do Entorno do DF atuava de um presídio de Fortaleza. A liderança em outro estado servia como tática, segundo o delegado, para despistar as investigações na quadrilha. Segundo a polícia, os presos serão transferidos para presídios de segurança máximo em outros estados.

"A prisão preventiva é para o caso de um deles receber algum tipo de alvará em outro processo, para que ele não seja solto", diz. "A grande efetividade é a transferência para outros presídios federais e o bloqueio das contas para que eles não recebam mais rifas."

Parceiros
O delegado Fábio Souza diz também que a facção criminosa fazia pesquisa de preços em três países para poder comprar droga mais barata e ter um lucro maior.

"Eles buscam fornecedores na América do Sul para conseguir preços mais vantajosos, para poder expandir e quebrar a concorrência", disse. "Eles vão buscando contatos via familiares, via comunicações telefônicas, para poder negociar essa droga lá. Inclusive mandavam representantes para negociar."

A polícia não soube precisar a quantidade de droga ou quantos estrangeiros estariam envolvidos no esquema.

"Irmãos"
A polícia afirma que os suspeitos de integrarem a facção criminosa se intitulam "irmãos", possuem matrícula nacional e são iniciados na organização por meio de um ritual de batismo.

Para serem batizados, os presos precisavam decorar um estatuto e também ter um padrinho – alguém considerado de referência para ser indicado ao comando da célula. Depois disso, ele passa por uma avaliação e em seguida pode ser chamado de "irmão".

Os membros que estão em liberdade contribuem mensalmente com R$ 400, valor usado para financiar o tráfico de drogas. Eles também são obrigados a adquirir "rifas" por R$ 30 ao mês.

Para a operação, batizada de "Tabuleiro", a polícia empregou 120 agentes e 12 delegados. Segundo a corporação, o DF seria a 23ª unidade da federação a receber uma célula da facção criminosa. Os suspeitos vão responder pelos crimes de organização criminosa armada, cuja pena é de 8 a 20 anos de prisão.

Segundo a polícia, a ação da organização representa um risco para os moradores do DF, pois os bandidos se mantêm com o dinheiro dos crimes praticados.

"O perigo é que a cada dia eles recrutam duas, três, quatro pessoas, e, quanto mais gente, mais pagamento de cebola [dinheiro arrecadado para a facção], mais mensalidade, mais poderio para dominar o mercado da droga e, com isso, partir para outros crimes, como corrupção de agente públicos para poder entrar com celulares nos presídios, e para poder dominar outras áreas junto às comunidades."

Em agosto, segundo a polícia, um caminhão com uma tonelada de maconha foi apreendido no DF. A droga fazia parte do tráfico de drogas organizado pela facção.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir