Categoria Geral  Noticia Atualizada em 08-11-2014

Morte da avó motiva jovem a estudar no Sudeste para ser médi
Janyele Ferreira, de 18 anos, faz cursinho em Campinas desde fevereiro. O desejo dela é usar o Enem para conseguir vaga em universidade do PE.
Morte da avó motiva jovem a estudar no Sudeste para ser médi
Foto: g1.globo.com

A morte da avó por problemas renais, após um drama de viagens semanais para hemodiálise em outro município, motivou a jovem Janyele Ferreira, de 18 anos, a deixar Custódia, no sertão pernambucano, para enfrentar uma maratona de até 12 horas de estudos por dia em um cursinho no Centro de Campinas (SP) e na casa onde mora com a mãe e o padrasto. Inscrita no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o sonho dela é ser médica.

"Minha avó tinha que viajar para fazer hemodiálise. De carro eram 40 minutos, mas de ônibus eram de uma hora e meia a duas", lamenta Janyele. Segundo a jovem, as sessões eram em Arcoverde (PE), distante 80 quilômetros de Custódia, cidade de 35 mil habitantes no Sertão do Moxotó.

Nefrologia
A estudante escolheu até a área pela qual deseja se dedicar após a graduação universitária. Quer ser especialista em nefrologia, que trata e estuda os problemas renais. Cercada de universidade tradicionais como Unicamp e USP, a jovem pernambucana tem como prioridade estudar e trabalhar no estado onde nasceu. Mas ela também está inscrita em vestibulares no Sudeste.

"Meu foco é lá. Muita gente depende do meu sucesso", defende.O desejo dela é ajudar de alguma forma os moradores de Custódia e região para que tenham tratamento adequado. E que o drama vivido pela avó não se repita em outras famílias. De acordo com estimativa da Sociedade Brasileira de Nefrologia, um em cada dez brasileiros tem problemas renais.

Custódia e Campinas
Há nove meses morando em Campinas, a 2,4 mil quilômetros de casa em trajeto rodoviário, Janyele conta que não tem muito tempo para passeios pela metrópole de 1,1 milhão de habitantes. Segundo ela, a "batalha" pelo Enem e vestibulares é árdua. "Tenho a consciência que estudar aqui é muito caro. Nestes meses fui ao shopping e a uma chácara. Mas no final de semana eu respiro", confessa.

Aluna da rede pública a vida toda, ela conta que chegou a ter alguma dificuldade nas aulas no cursinho do interior paulista, mas aponta que o ensino na cidade dela a ajudou a superar as dificuldades . "Minha escola pública lá não era tão ruim. Minhas maiores dificuldades foram em exatas e humanas. Em escola pública, quem não quer nada atrapalha quem quer", explica. Já no cursinho, a rotina inclui horas de estudos de segunda a sábado com visitas aos plantões de dúvidas.

Seca por todos os lados
"Estou me sentindo em casa", brinca a jovem do sertão de Pernambuco, que ao chegar a Campinas, enfrenta também a realidade da pior seca em 123 anos na cidade, segundo dados do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Entre março a outubro, conhecido como período das águas, o normal é registrar mil milímetros de chuvas, mas a realidade do ano ficou na metade disso.

Em Custódia, segundo Janyele, não tem água nas torneiras todos os dias, mas é comum que os moradores reservem em cisternas e o compartilhamento é hábito. O município pernambucano fica no chamado semiárido, que tem característica de baixa umidade e reduzido volume pluviométrico. É considerado semiárido quando o índice pluviométrico fica abaixo dos 800 milímetros por ano, segundo o governo federal. Custódia está na zona das obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco.

"Me lembro de uma seca, quando tinha uns sete anos. A gente pegava água dos vizinhos. Um ajudava ao outro", recorda. A jovem disse acreditar que a falta de água, um dos assuntos principais no Sudeste desde o início do ano, forme uma consciência maior nos usuários. Ela lembra que no Sertão de Pernambuco tomar banhos rápidos e reutilizar água usada para lavar roupas já é um costume do povo, já que o recurso é escasso.

Em Campinas, a situação chegou ao ponto de moradores irem até a uma bica, em Itupeva (SP), para buscar água sem saber se era potável ou não. Durante onze dias de outubro, a Sanasa, empresa responsável pela captação e distribuição do recurso, teve problemas devido ao baixo volume e sujeira no Rio Atibaia. Tanto a captação como a distribuição chegaram a ser interrompidas em algumas horas do dia.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir