Categoria Geral  Noticia Atualizada em 20-11-2014

Dia da Consciência Negra reforça luta contra a discriminação
Mapa da Violência 2014 mostra que a maioria dos negros assassinados no Estado era jovem.
Dia da Consciência Negra reforça luta contra a discriminação
Foto: ariquemesonline

Manaus - O Dia Nacional da Consciência Negra, nesta quinta-feira (19), representa um marco na luta pela igualdade de direitos, segundo Arlete Anchieta, uma das organizadoras do Fórum Permanente de Afrodescendência (Fopaam).


"Precisamos combater e cada vez mais dar visibilidade para o caso de assassinatos de negros, pois isso sempre aconteceu. Temos a impressão que só agora isso está acontecendo. Esses casos acontecem há bastante tempo e deixam os jovens negros sem esperança de um futuro mais igualitário", disse.


Arlete acredita que os movimentos sociais e a imprensa precisam ser grandes aliados na defesa de políticas públicas para os negros. "Precisamos assegurar políticas contra violência e isso passa pela educação. Se não conseguirmos assegurar a educação, como por exemplo a Lei 10.639/03, que garante o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, ressaltando a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira, estaremos ensinando as crianças e jovens a não serem racistas", defendeu. "Assim, vamos quebrando todos os preconceitos da sociedade", acredita.


Neste dia da Consciência Negra, Arlete destaca que os negros passam por grandes dificuldades na luta por igualdade de direitos como o sistema de cotas em universidades.


"A Ufam (Universidade Federal do Amazonas) ainda não está atenta para cotas de negros e indígenas e a universidade precisa ser uma bandeira de luta de toda a sociedade. É algo que vai ajudar os meninos a saírem da criminalidade, eles saberem que podem ter sonhos e um desses sonhos é poder ir para universidade como qualquer um. Temos crianças que não conseguem imaginar-se tornando jovens e indo para a universidade", comentou Arlete.


A coordenadora defendeu que a polícia precisa ter sensibilidade ao tratar os negros.


"Ela precisa perceber que temos que tratar os problemas de violência e de drogas com o mínimo de racismo possível. Não é só o menino negro que está à frente da problemática. É preciso acabar com casos de policiais tratando o negro sempre como um marginal. Se melhorarmos a situação dos negros, melhoramos a dos brancos e, assim, vamos ter uma sociedade cada vez mais igual", comentou Arlete.


Violência

Em dez anos, do total de assassinatos registrados no Amazonas, 92% das vítimas eram negras, segundo dados do ‘Mapa da Violência 2014: Os jovens do Brasil’, divulgado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais. Dos negros assassinados, mais da metade era jovem.


No período de 2002 a 2012, o Mapa da Violência apontou 8.876 homicídios no Estado. Desses, somente 8% - 695 mortes - foram de pessoas consideradas brancas. O índice do Amazonas ficou acima da média da Região Norte, que registrou 88% dos casos contra negros, e da média nacional que foi de 81%.


Conforme os dados do Mapa da Violência, dos 8.181 assassinados, 60% eram jovens negros. O documento considera como jovem pessoas com idade entre os 15 e os 29 anos.


No relatório do Mapa da Violência, a categoria negro envolve o somatório das categorias preto e pardo, que é a nomenclatura utilizada pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE).


Os números

8,8 mil homicídios ocorreram no Estado, segundo o Mapa da Violência 2014. Apenas 8% dos casos, 695 mortes, foram contra brancos;
92% das vítimas assassinadas, no Amazonas, em dez anos, eram negras, segundo dados do Mapa da Violência 2014. Mais da metade era jovem;
56 mil pessoas foram assassinadas no Brasil, em 2012, segundo o mesmo estudo. Destas, 30 mil são jovens entre 15 e 29 anos e, desse total, 77% são negros.


Campanha tenta mobilizar sociedade


A Anistia Internacional, movimento global com mais de 3 milhões de apoiadores, lançou a campanha Jovem Negro Vivo, em novembro, mês em que é comemorado o Dia Nacional da Consciência Negra.


O objetivo é mobilizar a sociedade e romper com a indiferença em tratar o assassinato de jovens negros no Brasil.


Conforme o Mapa da Violência de 2014, em 2012, 56 mil pessoas foram assassinadas no Brasil. Destas, 30 mil são jovens entre 15 e 29 anos e, desse total, 77% são negros. A maioria dos homicídios é praticada por armas de fogo e menos de 8% dos casos chegam a ser julgados.


No Brasil, os homicídios de jovens negros cresceram 32,4%, em dez anos. Os de jovens brancos, 32,3%. Considerando a relação com a população, entre jovens negros, a taxa de homicídios por cem mil habitantes cresceu 6,5%; entre jovens brancos caiu 28,6%.


Com o lema ‘Mais chocante que a realidade, só a indiferença. Você se importa?’, a campanha colhe assinaturas reivindicando políticas públicas mais efetivas no combate à violência e à mortalidade de jovens negros.


De acordo com o diretor executivo da Anistia Internacional Brasil, Átila Roque, "pior do que esta realidade, só a indiferença da sociedade brasileira".


Segundo ele, "precisamos urgentemente de ações governamentais que revertam este quadro, à semelhança do que foi feito com a fome no Brasil, na década de 90", alertou.

Fonte: ariquemesonline
 
Por:  Ingrid Leitte    |      Imprimir