Categoria Geral  Noticia Atualizada em 25-11-2014

Negociação nuclear com o Irão foi prorrogada até Junho
Obama e Rohani não desistem mas correm o risco de perder margem de manobra nos próximos meses, por razões internas
Negociação nuclear com o Irão foi prorrogada até Junho
Foto: publico.pt/

Não houve acordo em Viena sobre o nuclear iraniano. Para evitar uma ruptura de efeitos dramáticos, Teerão e as potências do 5+1 (EUA, Grã-Bretanha, França, Rússia, China e Alemanha) decidiram ontem prolongar as negociações até 30 de Junho de 2015. A ausência de acordo, que era previsível nos últimos dias, constitui um relativo desaire para os presidentes Barack Obama e Hassan Rohani, cuja margem de manobra para fazer concessões tende a diminuir com o tempo.

A prorrogação "é um mal menor", explicou à AFP uma fonte iraniana. O cenário pior seria uma ruptura que criasse "um clima de confronto e uma escalada de parte a parte. Por exemplo, que o Irão respondesse a novas sanções com o relançamento do seu programa nuclear". Resumiu o analista Jeremy Bowen, da BBC: "Todos querem um acordo por isso não abandonam a negociação. A razão é que a alternativa ao acordo poderia ser uma guerra."

No fim dos trabalhos, esta segunda-feira, John Kerry, secretário de Estado norte-americano, declarou aos jornalistas que tinha havido "progressos substanciais" e que, durante os próximos sete meses, não haveria novas sanções nem alívio das actuais. Apelou à comunidade internacional e ao Congresso americano para que apoiem a continuação das negociações. "Seríamos estúpidos se as abandonássemos."

Por sua vez, o Presidente Rohani falou aos iranianos pela televisão, explicando que as negociações da passada semana permitiram "regular a maior parte dos diferendos" e que "este caminho levará a um acordo definitivo".

Divergências
O acordo preliminar assinado a 24 de Novembro de 2013 expirava ontem à meia-noite. Em Junho falhou uma primeira tentativa de compromisso final. Obama advertiu há dias: "Ainda há um fosso importante e poderemos não ser capazes de o ultrapassar [até 24 de Novembro]".

Os dois principais pontos de divergência são o número de centrifugadoras que o Irão será autorizado a manter e o ritmo de abrandamento das sanções. Os iranianos dispõem de 19 mil centrifugadoras, das quais nove mil em funcionamento, enquanto os EUA querem a redução para entre quatro e seis mil. Em matéria de sanções, o Irão pedia o seu levantamento imediato e total, enquanto os ocidentais apenas aceitavam levantá-las gradualmente, à medida que o Irão vá executando o acordo.

Em Janeiro, a título de "medidas de confiança", os iranianos transferiram para a Rússia uma parte do seu stock de urânio enriquecido para ser transformado em barras para uso estritamente civil, suspendendo também a actividade de enriquecimento; por seu lado, os ocidentais levantaram algumas sanções menores e deixaram de se opor à exportação de petróleo iraniano.

Efeitos políticos
O impasse de Viena terá consequências para Teerão e para Washington. No Irão, está em jogo a credibilidade do "moderado" Rohani, que em larga medida assenta na capacidade de chegar a um compromisso com o 5+1 e obter o levantamento das sanções que estrangulam a economia iraniana. O Presidente confronta-se com uma forte oposição a um acordo. Por exemplo, o general Ali Jafari, comandante dos Guardas da Revolução, criticou publicamente as negociações de Viena. Esta oposição traduz em larga medida uma implacável disputa pelo poder entre as várias facções do regime. A linha de Rohani terá um largo apoio na opinião pública. Se falhar, ficará politicamente anulado.

Por sua vez, partir de Janeiro, Obama terá pela frente um Congresso dominado pelos republicanos e hostil a concessões ao Irão. Para a maioria dos republicanos, o acordo de 2013 foi um erro grave e o actual impasse seria a prova da má-fé de Teerão. E não têm vontade de "oferecer" a Obama uma grande vitória diplomática. Não por acaso, senadores republicanos pediram ontem que a prorrogação deverá ser acompanhada por um reforço das sanções e que, se houver um "compromisso final", ele deverá ser submetido à aprovação do Senado. Não é o que Obama tenciona fazer.

As negociações de Viena têm também efeitos no Médio Oriente. Países como Arábia Saudita temem que uma normalização das relações entre Washington e Teerão coloque os iranianos no centro do tabuleiro político da região. E Israel não esconde a sua desconfiança.

Para lá da cooperação no combate ao Estado Islâmico, a Casa Branca entende que uma normalização das relações com o Irão lhe daria maior liberdade de acção no Médio Oriente e ajudaria a superar a grande linha de fractura entre Estados sunitas e xiitas que incendeia a região.

Fonte: publico.pt/
 
Por:  Adriano Costa Pereira    |      Imprimir