Categoria Geral  Noticia Atualizada em 09-12-2014

Lula diz à Comissão da Verdade que militares fizeram "burric
Em depoimento, ex-presidente disse que prisão em 1980 estimulou greve. Ele afirmou que foi tratado com "dignidade" e manteve atuação sindical.
Lula diz à Comissão da Verdade que militares fizeram
Foto:

Em depoimento nesta segunda-feira (8) à Comissão Nacional da Verdade, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os militares fizeram uma "burrice" ao prendê-lo em 1980 quando liderava as negociações entre trabalhadores e empresários por aumentos salariais. Na ocasião, trabalhadores de fábricas automotivas estavam em greve havia 17 dias. Para o ex-presidente, a paralisação caminhava para o fim, mas ganhou força depois da prisão.
"Os militares cometeram a burrice de me prender, porque não tinha mais como continuar a greve. O que aconteceu quando eles me prenderam? Foi uma motivação a mais para a greve continuar, as mulheres fizeram uma passeata muito bonita em São Bernardo do Campo, depois foi aquele primeiro de maio histórico, em que foi o Vinícius de Moraes, e a greve durou mais quase 30 dias", relatou Lula em depoimento de uma hora e meia a Maria Rita Kehl e Paulo Sérgio Pinheiro, membros da Comissão Nacional da Verdade.
As declarações de Lula sobre a luta sindical entre 1970 e 1980, durante a ditadura militar, foram gravadas e divulgadas pela CNV nesta terça-feira (9). O ex-presidente relatou que, nos 31 dias em que ficou preso, foi tratado com "dignidade" e conseguiu liberação para ver a mãe que estava com câncer.
Ele contou ainda que conseguiu com Romeu Tuma, na época diretor-geral do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), uma TV para assistir a uma partida de futebol entre Corinthians e Botafogo.
"A gente foi tratado lá com um certo respeito porque tinha muita gente do lado de fora, não era um preso comum, tinha trabalhador, estudante, intelectuais, igreja, todo mundo", disse.
Monitoramento
O ex-presidente afirmou à comissão que, antes de ser preso, era monitorado pela Volkswagen, empresa onde trabalhava. Documentos da CNV mostram que vários trabalhadores eram espionados por empresas brasileiras e estrangeiras. Um desses documentos contém detalhes de como foi a assembleia dos mutuários de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, realizada em 19 de junho de 1983.
No relatório constam dados como horário de início e de término, local, quantidade de pessoas presentes, nome completo e função dos oradores e até mesmo o que foi dito na assembleia. Segundo o documento, os mutuários eram contra o aumento de 130% na prestação da casa própria e Lula afirmava que a única maneira dos mutuários acabarem com "essa pouca vergonha do governo" era não pagar mais as prestações do Banco Nacional da Habitação (BNH).
"Eles me vigiavam em cinema. Na assembleia, a gente notava que eles estavam lá. Às vezes, disfarçados no bar do sindicato. Na minha casa, por exemplo, eles paravam a perua na porta e passavam a noite. Às vezes, para encher o saco, a Marisa [Letícia, esposa de Lula] mandava fazer café e mandava levar para eles. Foram uns três ou quatros anos que eles monitoraram e me acompanharam antes da prisão", disse o ex-presidente.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir