Categoria Geral  Noticia Atualizada em 22-12-2014

Ex-gerente da Petrobras diz ter alertado Graça Foster pessoa
Veja principais trechos de entrevista exibida pelo Fantástico no domingo. Petrobras diz que ex-gerente foi responsabilizada por uma comissão interna.
Ex-gerente da Petrobras diz ter alertado Graça Foster pessoa
Foto: g1.globo.com

Numa entrevista exclusiva, apresentada no domingo (21) pelo Fantástico, a ex-gerente da Petrobras, Venina Velosa da Fonseca – personagem de novas denúncias de corrupção na Petrobras – disse que tinha avisado, pessoalmente, a presidente da estatal, Graça Foster sobre as irregularidades na empresa. Veja os principais trechos da entrevista.

Glória Maria - A senhora prestou depoimento ao Ministério Público, inclusive entregou inúmeros documentos que comprovariam irregularidades nos negócios da Petrobras. Desde quando começou a fazer as denúncias?

Venina Velosa - Desde a primeira vez que eu percebi que havia irregularidades na minha área. Isso aconteceu em 2008. Desde 2008 eu venho fazendo essas... Eu venho reportando esses problemas aos meus superiores, o que culminou agora eu realmente estar levando essa documentação toda ao Ministério Público.

Glória Maria - Que tipo de irregularidades a senhora constatou ou verificou nos contratos da Petrobras?

Venina Velosa - São vários tipos. Irregularidades de pagamento de serviços não prestados, de contratos que aparentemente estavam superfaturados. De negociações que eram feitas onde eram solicitadas comissões para aquelas pessoas que estavam negociando e uma série de problemas que feriam o código de ética e os procedimentos da empresa.

Glória Maria - A senhora informou a que funcionários, a que pessoas da Petrobras sobre essas irregularidades?

Venina Velosa – Num primeiro momento, em 2008, como gerente executiva, eu informei ao então diretor Paulo Roberto Costa. Informei a outros diretores, como a Graça Foster. E, em outro momento, como gerente geral, eu informei aos meus gerentes executivos, José Raimundo Brandão Pereira e o Abílio, que era meu atual gerente executivo.

Informei ao diretor Cosenza. Tanto quanto diretor, como ele era meu par, como gerente executivo. Informei ao presidente Gabrielli. Informei a todas as pessoas que eu achava que podiam fazer alguma coisa para combater aquele processo que estava se instalando dentro da empresa.

Glória Maria - A atual presidente da Petrobras, Graça Foster, diz que que a senhora mandou e-mail, mas que ela não teria entendido o que era. A senhora fez denúncia através de e-mail ou esteve com ela pessoalmente?

Venina Velosa - Eu estive com a presidente pessoalmente quando ela era diretora da área de gás e energia. Naquele momento, nós discutimos o assunto. Foi passada documentação para ela sobre processo de denúncia na área de comunicação. Depois disso, a gente... Ela teve acesso a essas irregularidades nas reuniões da diretoria executiva.

Glória Maria - Ela diz que não entendeu o que a senhora disse na época, o que a senhora acha disso?

Venina Velosa - O que eu posso falar é o seguinte: se falar que irregularidade na área de comunicação é problemas na licitação. Se isso não está suficientemente claro, eu, como gestora, posso falar o seguinte: eu buscaria uma explicação, principalmente por uma pessoa que eu tinha muito acesso. Nós sempre tivemos muito acesso.

Eu conhecia a Graça na época que ela era gerente de tecnologia, na área de gás, e eu era gerente do setor na área de contratos. Éramos próximas. Então, ela teria toda liberdade de falar: Venina, o que está acontecendo.

Glória Maria - A senhora diz que vem recebendo várias ameaças, inclusive com arma apontada para sua cabeça, que as suas filhas vêm sendo ameaçadas. O que está acontecendo?

Venina Velosa - Depois que eu apurei essa questão da área de comunicação, durante esse processo todo da área de comunicação, a gente recebeu várias ameaças por telefone. As minhas filhas deveriam ter 5 e 7 anos. Eram bem novas.

Teve outros momentos mais difíceis. A opção que eles fizeram em 2009 foi realmente me mandar para o lugar mais longe possível, isso está entre aspas, onde eu tivesse o menor contato possível com a empresa. Aparentemente eu estaria ganhando um prêmio indo para Cingapura, mas o que aconteceu foi que realmente quando eu cheguei lá me foi dito que eu não poderia trabalhar, que eu não poderia ter contato com o negócio, era para eu procurar um curso.
Simplesmente o que eles fizeram foi me afastar do meu país, das empresas que eu tanto gostava, dos meus colegas de trabalho. Eu fui para Cingapura, eu não vi minha mãe adoecendo. Minha mãe ficou cega, fez transplante de coração, eu não pude acompanhar minha mãe. Meu marido não pôde mais trabalhar, ele teve que retornar.

Eu fui o tempo todo pressionada para fazer coisas que não eram dentro do código de ética da empresa. A única coisa que me sobrou foi meu nome. E quando eu vi que eles colocaram meu nome associado a coisas que eu não fazia, eu chamei minhas duas filhas e falei: ou eu reajo e tento fazer, limpar meu nome, ou vou deixar isso acontecer, a gente vai ter uma certa tranquilidade agora e o trator vai passar por cima depois. O que nós vamos fazer? Minhas filhas falaram: vamos reagir.

Glória Maria - Você vai até o fim? Você tem medo?

Venina Velosa - Eu vou até o fim, sim. Eu também tenho muito medo sim. Eu não posso falar que eu não tenho porque no momento que você denuncia, em vez de você ver respostas para denúncias, você vê simplesmente a empresa tentando o tempo todo falar o seguinte: você não é competente, você fez um monte de coisa errada. E o tempo todo as pessoas tendo que responder, mostrando documentos, que aquilo não é verdade. É uma máquina que passa por cima da gente. Ela está passando. Eu tenho medo? Eu tenho medo. Mas eu não vou parar, eu espero que os empregados da Petrobras. Porque eu tenho certeza que não fui só eu que presenciei, eu espero que os empregados da Petrobras criem coragem e comecem a reagir. Nós temos que fazer isso para poder realmente fazer a nossa empresa ser de volta o que era. A gente tem que ter orgulho, os brasileiros têm que sentir orgulho dessa empresa. Eu vou até o fim, estou convidando vocês para virem também.
A Petrobras voltou a declarar que tomou todas as providências para elucidar os fatos citados por Venina da Fonseca. A empresa também repetiu que, possivelmente, a funcionária trouxe a público as denúncias porque foi responsabilizada por uma comissão interna.
A Petrobras reafirmou que Graça Foster e José Carlos Cosenza não sabiam de irregularidades – e que a presidente da Petrobras só foi informada dessas irregularidades, por Venina da Fonseca, no dia 20 do mês passado.
O ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, afirmou que nunca foi informado diretamente por Venina sobre a existência de corrupção na empresa.
O advogado de defesa de Paulo Roberto costa disse que praticamente todos os aspectos investigados pelo Ministério Público Federal foram mencionados na delação premiada do ex-diretor. Os demais citados na entrevista não foram encontrados.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Ingrid Leitte    |      Imprimir