Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 29-12-2014

A humanidade dos elefantes

A humanidade dos elefantes

Dia desses, meio que ao acaso, fiquei a meditar sobre os elefantes. Animais fabulosos, os elefantes.

Acreditem: uma das primeiras cenas, talvez a primeira delas, que um elefantinho v� ao chegar neste mundo � a de membros da manada garantindo a seguran�a do parto! Not�vel, isso.

Quando a manada � atacada por le�es ou outras feras, imediatamente os elefantinhos s�o posicionados atr�s dos adultos, de forma a garantir uma melhor seguran�a.

Vejam que at� no ocaso da vida os elefantes s�o not�veis: quando um deles est� velho, ferido ou doente, n�o depara-se jamais com o abandono. Muito pelo contr�rio: a manada fica ao redor, solid�ria e firme.

O curioso � que os elefantes agem assim naturalmente! Este � um padr�o de comportamento - vale dizer, faz parte da natureza deles. N�o houve a necessidade de nenhuma "Declara��o Universal dos Direitos dos Elefantes" elaborada pela "Organiza��o dos Elefantes Unidos" para que eles se comportassem de forma honrada e digna.

Nunca soube que a manada se reunisse para conferir a um de seus membros uma distin��o qualquer por ter este protegido um elefantinho, ou prestado aux�lio a um elefante idoso. Repito: eles veem nisso algo normal, o m�nimo que se espera de um representante de esp�cie t�o nobre.

Enquanto isso, a cada cinco segundos alguma crian�a - humana, claro - morre de fome por este planeta afora. Uma crian�a a cada cinco segundos s�o 518.400 por m�s. Isto d� uns dois mil avi�es de passageiros lotados de crian�as caindo todos os meses, sob as nossas vistas impass�veis. E preferimos nem comentar isso! Conforta-nos o esp�rito pensar que "isso � coisa daqueles pa�ses miser�veis l� da �frica ou do sul da �sia".

Grande engano! Em m�dia uma a cada cinco crian�as dos pa�ses ricos - nosso Brasil inclu�do, juntamente com Estados Unidos, Inglaterra, It�lia e outros - vive na mais negra mis�ria. Uma a cada cinco! Tradu��o: esta absoluta insensibilidade para com os direitos daquelas pobres crian�as acontece aqui mesmo. Sob as nossas vistas. Ali na esquina. E nada fazemos - afinal, n�o somos elefantes.

H� tamb�m as mortes por falta de saneamento b�sico. S�o 900 crian�as morrendo por hora no mundo s� sob esta rubrica. Isto n�o est� acontecendo somente em lugares como Uganda ou Sud�o. Absolutamente. Aqui no Brasil, pelas mesmas ruas que percorremos diariamente, 20 crian�as perecem a cada dia - v�timas inocentes da falta de uma simples rede de �gua e esgoto!

Mas nem s� de crian�as � composta a ra�a humana. H� tamb�m os idosos e os doentes.

Quanto aos idosos, 30% deles passam fome na t�o humana Europa, abandonados por uma sociedade das mais ricas do mundo. E os doentes? Sobre estes, basta uma r�pida visita � maioria dos hospitais p�blicos de qualquer continente que se escolha - os resultados n�o ser�o assim t�o diferentes.

Inclusive, n�o faz muito tempo li uma chocante reportagem sobre pacientes espalhados em ambul�ncias, corredores, recep��es, elevadores e at� banheiros de hospitais ingleses. Sim, isto acontece at� na riqu�ssima Inglaterra.

Tradu��o: n�o falemos em falta de recursos. A uma, pelo cinismo que isto traduziria diante de tanta riqueza desperdi�ada ou desviada sob as nossas vistas. E a duas porque este � um padr�o de comportamento humano. A humanidade � quase toda assim.

Talvez, diante do Natal que se avizinha, fosse o momento de sonharmos com o dia em que, como na can��o de Roberto Carlos, finalmente os homens ser�o civilizados como os elefantes.

Fonte:
 
Por:  Pedro Valls Feu Rosa    |      Imprimir