Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 13-01-2015

Um mergulho em Rubem
"Sentiu uma coisa boa dentro de si, uma certeza de que nem tudo se perde na confus�o da vida e que uma vaga, mas imperec�vel ternura � o pr�mio dos que muito souberam amar", RB.
Um mergulho em Rubem
Foto: Reprodu��o

Uma responsabilidade falar algo sobre Rubem Braga. Muitos diriam: "imposs�vel escrever uma cr�nica sobre o "Pai" da cr�nica". Concordo, mas n�o estou sozinho nesta empreitada. Uma centena de motiva��es e emo��es surge a cada linha movida pela leitura, participa��o nas edi��es da Bienal (que leva seu nome), nas entrevistas com especialistas e nos depoimentos de escritores renomados sobre, no meu ponto de vista, o mais ilustre cachoeirense. Por isso, n�o h� como escapar e s� me resta curvar a cabe�a e digitar uma singela homenagem aos 102 anos de seu nascimento. Ele mesmo disse: "tudo que nos separava subitamente falhou". E tinha toda raz�o.

Imortalizado em seus textos, nem o tempo e as gera��es foram capazes de fazer com que algu�m n�o se lembre, leia, recomende ou cite Rubem Braga como refer�ncia de excel�ncia textual. Nunca vi ningu�m misturar jornalismo, poesia e prosa de forma t�o simples e, ao mesmo tempo, espetacular como ele. Sem d�vida, o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis.

Em 12 de janeiro de 1913, Cachoeiro de Itapemirim seria o ninho, onde nascera o "Sabi� da Cr�nica". Aos 22 anos publicou seu primeiro livro "O Conde e o Passarinho", em 1936. Uma proeza, pois Rubem Braga foi o �nico autor brasileiro consagrado exclusivamente atrav�s da cr�nica. No depoimento, que concedeu ao amigo e escritor Fernando Sabino, disse: "sou uma m�quina de escrever com algum uso, mas em bom estado de funcionamento".
Outro colega, da �poca em que trabalhava na televis�o, Edvaldo Pacote, definiu Rubem como um turr�o, fechado, ao mesmo tempo po�tico. Somente os amigos muito chegados conseguiam uma fresta de sua aten��o. Adorava as mulheres. Quando n�o estava apaixonado por uma estava por todas.

O escritor cachoeirense Marco Antonio de Carvalho exp�s a alma de Rubem, como ele jamais faria, em seu livro "Rubem Braga � um cigano fazendeiro do ar", que tive prazer em ler o manuscrito intitulado, pelo pr�prio autor, "Nem Deus, nem Marx -Cr�nica da vida de Rubem Braga", antes de sua publica��o. Por obra do destino, sob forte influ�ncia da editora, o t�tulo original foi trocado. Com o livro, Marco, que infelizmente faleceu em junho de 2007, �s v�speras do lan�amento, ganhou um dos mais importantes pr�mios liter�rios do pa�s, o Jabuti.

Com suas "200 Cr�nicas Escolhidas" comecei a vagar pelo universo de Rubem, mas foi a biografia de Marco que me aproximou mais, mesmo que distante, de sua vida. H� uma passagem na biografia que conta um curioso epis�dio do in�cio de sua carreira liter�ria:
"Se a estr�ia liter�ria em 1936 foi feliz, a dificuldade para sobreviver se torna ainda maior, a partir da declara��o de estado de guerra por parte de Vargas. � perigoso escrever: o nome de Rubem Braga n�o pode constar na folha de funcion�rios de jornal algum. � obrigado a se esconder atr�s de pseud�nimos como Jos� Bispo, M. de Carvalho, Chico ou, simplesmente, R. Na pr�pria pens�o onde vive � conhecido pelo nome de Lauro Guedes, surgem perguntas capciosas: "Ah, � jornalista? De que jornal?" E ele responde que escreve para a insossa Vida Dom�stica e que, de pol�tica, s� se interessa pelo que se passa no Flamengo".

Paix�o futebol�stica � parte, e com um pequeno conhecimento sobre o cronista, participei, direta e indiretamente, de todas as edi��es da Bienal Rubem Braga, evento liter�rio j� consolidado em Cachoeiro e considerado um dos maiores do Esp�rito Santo. Para homenagear o ilustre escritor, grandes nomes da cultura nacional, como Affonso Romano de Sant�Anna, T�nia Carrero, Viviane Mos�, Ferreira Gullar, Ant�nio N�brega, Elisa Lucinda, Isabel Lustosa, Dom�cio Proen�a Filho, Ant�nio Carlos Secchin, Ivan Junqueira, Roberto Da Matta, Beatriz Resende, Adriano Esp�nola, Fabr�cio Carpinejar, Xico S�, Zuenir Ventura, dentre outros, contribu�ram para o sucesso dessa iniciativa cultural que foi posta em pr�tica, pela primeira vez, em 2006.

At� fui contribuir com um bate-papo sobre leitura e literatura na �ltima edi��o da Bienal Rubem Braga (2012), mas o evento foi inspirado na cr�nica "A Borboleta Amarela" escrita em 1955. O tema simb�lico: "borboleta" reflete a transforma��o, metamorfose, metanoia (num sentido mais profundo de mudan�a). O que estamos fazendo para divulgar a cultura em nosso munic�pio e assim transformar a vida de in�meros adolescentes que sequer t�m interesse pela leitura, dita popular, que para a maioria deles � erudita?
Quando crian�a, contrariando as estat�sticas, lia de tudo, Rubem, Newton e demais escritores cachoeirenses que sempre estiveram na estante da casa de meus pais... E brincava tamb�m!


Havia uma travessura que faz�amos �s margens do Rio Itapemirim, no bairro Arariguaba, na intitulada "Volta do Caix�o". O nome tenebroso � por ser localizada numa curva acentuada para os ve�culos e onde a maioria dos corpos afogados � encontrada, mas crian�a n�o liga para essas coisas de adultos. Amarr�vamos uma corda numa �rvore e balan��vamos at� despencarmos na �gua. Mal sabia, na �poca, que ali seria realizada a �ltima vontade do cronista. A pedido seu, suas cinzas foram jogadas no mesmo local. Na manh� do in�cio da d�cada de 1990. Portanto, posso dizer, sem sombra de d�vida, que mergulhei, literalmente, em Rubem Braga.

Fonte: O Autor
 
Por:  Roney Moraes    |      Imprimir