Categoria Geral  Noticia Atualizada em 30-01-2015

No Brasil, para ser médico basta pagar R$ 6 mil por mês, diz
55% dos recém-formados foram reprovados em exame do Conselho de SP. MEC diz que faz avaliação periódica rigorosa da qualidade dos cursos.
No Brasil, para ser médico basta pagar R$ 6 mil por mês, diz
Foto: g1.globo.com

O resultado do exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) reprovou 55% dos estudantes recém-formados pelas faculdades paulistas em medicina. O maior índice de reprovação foi para alunos que estudaram em instituições particulares: 65,1%. Nas universidades públicas, a reprovação foi de 33%. Para o Cremesp, a má qualidade do ensino médico explica a baixa proficiência dos recém-formados.
"No Brasil, para ser médico hoje, basta pagar R$ 6 mil por mês", criticou Braulio Luna Filho, presidente do Cremesp e organizador do exame, em referência ao valor médio das mensalidades das faculdades particulares de medicina.

Ele sugere que o Cremesp faça um acompanhamento dos recém-formados que não são aprovados no exame (veja no vídeo acima).
Renato Azevedo Júnior, primeiro-secretário do Cremesp, acrescenta: "As nossas escolas não fazem uma avaliação adequada dos alunos. Todos os alunos saem aprovados. Dos 100 alunos que entram, 100 saem formados."
O Ministério da Educação considera a crítica "inapropriada" e diz que "a melhoria da formação médica é prioridade", destacando a intensificação dos procedimentos de supervisão, aperfeiçoamento dos instrumentos de avaliação in loco para os cursos de medicina e implantação de um programa permanente de monitoramento.

Obrigatório, mas não impeditivo
Ao todo, 2.891 recém-formados, de 20 universidades particulares e dez públicas fizeram a prova, sendo 1.302 aprovados e 1.589 reprovados. Para ser aprovado, era preciso acertar 60% das 120 questões de múltipla escolha. Segundo o Cremesp, das 30 escolas participantes, 20 não conseguiram atingir a nota de corte. As cinco maiores aprovações foram de instituições públicas. As dez piores, de faculdades particulares.
Todo recém-formado que queira atuar como médico no estado de São Paulo tem que fazer a prova do Cremesp. Mas não passar no exame não impede o estudante de obter o certificado para exercer a medicina (CRM).
Tramita, no Senado Federal, desde 2004, o projeto de lei 217/2004 que exige a aprovação em um exame nacional de proficiência de medicina para exercício da profissão. Atualmente, nem a residência médica é exigida para que recém-formados trabalhem como médicos.

Riscos

Renato Azevedo Junior, sublinhou que o resultado do exame mostra o risco de profissionais não capacitados podem gerar.
"Nós temos hoje certeza de que o recém formado que não consegue acertar 60% da prova tem graves problemas em sua reformação médica e não vai atender adequadamente a população", disse.
"Existe um problema na formação dos médicos no estado de São Paulo e no Brasil. Quando mais da metade não consegue atingir a média 6 na prova, há um problema grave. A sociedade brasileira precisa estabelecer leis para impedir que eles exerçam a medicina no Brasil."
Os representantes do Conselho apontaram a má qualidade das instituições de ensino superior, as quais não teriam a estrutura para fornecerem um curso adequado para os alunos.
"São abertas escolas de medicina que não têm condições de formar um aluno de medicina. Não têm professores qualificados, não têm laboratório, não têm biblioteca, não têm nada. Pior, não têm hospital escola", enumerou Renato Azevedo Júnior, apontando em seguida o grande número de escolas de medicina no estado de São Paulo.
"Nós temos 30 escolas. O estado de São Paulo tem mais escolas de medicina que a Inglaterra. Estamos com 246 escolas no Brasil, isso se não abriu uma de ontem para hoje", ironizou Azevedo Junior.
O presidente do Cremesp também criticou a eficiência da avaliação de conhecimento dos formandos em medicina feita pelo goveno por meio do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). "A prova do Enade é uma boa prova, mas não tem consequência, nem para o aluno, nem para a escola", diz Luna Filho.
"Não posso impedir que um incompetente se torne médico, e que ele tenha o mesmo direito que eu tenho. Isso porque ele tem um papel que uma instituição credenciada pelo MEC emitiu. E eu tenho que reconhecer", completa o presidente do Cremesp.
MEC faz avaliação periódica
Em nota, o MEC diz que desenvolve ações para a maior qualidade dos cursos de medicina do país como a "instituição de avaliação específica para curso de graduação em medicina, a cada dois anos, com instrumentos e métodos que avaliem conhecimentos, habilidades e atitudes, e de avaliação específica anual para os Programas de Residência Médica".
Destaca ainda "a reformulação da política regulatória para os cursos de medicina, ampliando os critérios exigidos para o funcionamento dos cursos"; "a adoção de nova sistemática para abertura de cursos de medicina, com a possibilidade de chamadas públicas para apresentação de propostas de cursos a serem abertos em municípios pré-selecionados"; e a "intensificação dos procedimentos de supervisão, aperfeiçoamento dos instrumentos de avaliação in loco para os cursos de medicina e implantação de um programa permanente de monitoramento dos cursos".
Sobre as críticas ao Enade, o MEC afirma que "o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) não se baseia somente numa prova pontual, isolada, como é o exame realizado pelo Cremesp, e além do Enade, conta também com etapas de auto-avaliação da instituição e avaliação externa in loco, realizada pelo Inep, com a contribuição de especialistas na área de educação médica".
O MEC apresentou em dezembro de 2014 um conjunto de mais de 20 cursos de medicina que tiveram conceito insatisfatório, e que entrarão em processo de supervisão por parte da autoridade regulatória. O governo vai ainda criar 3.615 novas vagas de medicina em instituições federais de educação até 2017.
O G1 entrou em contato com a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) para comentar as declarações dos diretores do Cremesp, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir