Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 09-02-2015

O carnaval rebola, logo existe!
�As maiores almas s�o tanto capazes dos maiores v�cios como das maiores virtudes�, Ren� Descartes.
O carnaval rebola, logo existe!

Pensemos na exist�ncia. A imagina��o sem simboliza��o. Como diz o texto l�cido da terapeuta Ana Suy Sesarino: "carnaval � tempo de barulho externo, e mudez interna". Concordo! Por�m, h� espa�o para arqu�tipos. Os her�is s�o representados na avenida e o simbolismo aparece somente neste instante social. No aspecto peculiar da singularidade, n�o h� mesmo possibilidade de simboliza��o.

Mesmo assim, por meio da imagem e do imagin�rio aleg�rico, ele, o Carnaval, existe. A cria��o do que est� no imagin�rio, as alegorias, fazem a imagina��o partir para a realidade. "H� algo mais real do que uma fantasia?", questiona Ana em seu texto.

Desta vez percebi algo de diferente nos desfiles. Quando dizem que no Brasil � carnaval o ano inteiro entendo que os cr�ticos utilizam desta m�nima para expressar um ambiente nacional de baderna como uma total aus�ncia do superego por um curto per�odo de tempo, onde os impulsos mais animalescos do id sobrep�em-se no comportamento dos foli�es. Tudo bem, a aliena��o e "franga solta" vemos ainda na maioria dos blocos, desfiles e seguidores de trios el�tricos, mas tamb�m h� aqueles que aproveitam a "farra" para manifestarem suas inquieta��es coletivas ou individuais.

Mesmo para os mais irredut�veis e sem entusiasmo n�o adianta ser pessimista. O Carnaval, al�m de ser uma festa cultural est�vel, � c�clico. Ou seja, sempre vai existir. Isso, por si s�, prova sua exist�ncia. Ent�o � melhor seguir o conselho do psicanalista e escritor S�rgio Telles e se perguntar "mudaria o carnaval ou mudo eu?". A resposta... T�o �bvia e ululante quanto Nelson Rodrigues.

O cuidado com esse "Big Bang" da imagina��o � que ap�s o turbilh�o de impulsos reprimidos durante todo ano pode ocasionar um sentimento de culpa, principalmente durante os meses posteriores � folia. Quarta-feira de Cinzas e a quaresma, para quem acredita que "saiu da linha", s�o per�odos de sacrif�cio e penit�ncia, exatamente quem abusa do �lcool.

Insisto na exist�ncia da imagina��o carnavalesca (cogito, ergo sum). Por isso recorro ao pensamento cartesiano. O carnaval baiano existe, pois, se ele rebola, logo existe. Se para o cantor Belchior "o compositor baiano dizia que tudo era lindo, maravilhoso", outro compositor soteropolitano, Paulo Costa Lima, define o rebolado como condi��o do sujeito. "Significa literalmente girar sobre si pr�prio. Re-bola, bola duas vezes: jogo de cintura, se quiserem".

Por isso concluo concordando com o compositor baiano. Ele diz que "o sujeito � um movimento e o desejo do carnaval � o desejo de acelera��o desse movimento, uma acelera��o que caminha contra a ordem das coisas, que invoca uma esp�cie de mergulho na dissolu��o. H�, portanto, uma esp�cie de revolta no carnaval, uma recusa a ficar quieto, instalado e satisfeito, mas � uma revolta pela alegria".
Enfim, tem que existir para se revoltar, rebolar, fantasiar, pulsar, perdoar e ser perdoado.

*Adaptado do original "Imagine... S�!" publicado no livro "Sem Mais Palavras", lan�ado em 2012, pela Editora ES de Fato, em Cachoeiro de Itapemirim-ES.


Fonte: O Autor
 
Por:  Roney Moraes    |      Imprimir