Categoria Geral  Noticia Atualizada em 10-02-2015

“Não é uma tarefa fácil”
Ministro da Saúde, em entrevista ao Diário da Manhã, afirma que chuvas trazem problemas de saúde como dengue e chikungunya. Chioro diz ainda que gestão do setor é complexa e lista gastos em Goiás de R$ 5,7 bilhões
“Não é uma tarefa fácil”
Foto: dm.com.br

Marcelo Mendes, Da editoria de Cidades

Falta de leitos, de atendimento, de medicamentos, aids, dengue, chikungunya, filas, todas essas situações fazem parte da realidade dos brasileiros. E para falar sobre essas questões a equipe de reportagem do Diário da Manhã entrevistou o ministro da Saúde, Arthur Chioro, que é médico sanitarista, doutor em saúde coletiva, professor universitário e pesquisador.



Diário da Manhã – Atualmente quais são as principais dificuldades do SUS?

Arthur Chioro – Garantir o acesso universal à saúde como direito para a população brasileira não é uma tarefa fácil. Para que isso ocorra é preciso implantar medidas constantes de melhoria do acesso ao atendimento.

Entendemos que nosso esforço deve ser contínuo uma vez que muito ainda precisa ser feito. Identificamos que após ampliar o atendimento na atenção básica, a principal demanda da população em relação à saúde é o acesso a serviços especializados. Desta forma, vamos implantar o Programa Mais Especialidades para expandir a oferta em tempo oportuno a consultas, exames e procedimentos especializados no SUS, ofertando um cuidado integral e resolutivo.

Também é preciso ampliar a produção de medicamentos e equipamentos pelo fortalecimento do complexo industrial brasileiro de saúde; cuidar com dignidade e em liberdade dos pacientes com transtornos mentais e dependentes químicos; modernizar e qualificar o processo de gestão do SUS.



DM – Quais os fatores que ocasionaram o déficit de leitos na rede pública?

Arthur Chioro – O Ministério da Saúde vem reorganizando a rede de assistência, criando alternativas de atendimento fora dos hospitais e ampliando leitos nas áreas de maior necessidade, como os leitos de UTI. Dessa forma, busca investir em uma saúde pública mais resolutiva, onde os pacientes precisem recorrer cada vez menos a hospitais e tenham assistência mais próxima de suas casas. Essas iniciativas seguem tendência mundial e levam em conta os avanços em equipamentos, medicamentos e cuidados em regime ambulatorial e/ou domiciliar, a redução do tempo de internação e, no caso dos leitos obstétricos, também a queda no número de partos ocorrida nos últimos anos.

Cabe ressaltar, que a redução no número de leitos hospitalares é uma tendência mundial devido aos avanços em equipamentos, medicamentos e cuidado em regime ambulatorial e/ou domiciliar. Hoje, a atenção em regime de internação hospitalar exige leitos mais qualificados e resolutivos. Com isso, temos a redução no quantitativo dos leitos não resolutivos.



DM – Existem projetos de incentivo para a instalação de novos leitos no próximo ano?

Arthur Chioro – Inicialmente, cabe ressaltar que os mecanismos de pactuação e planejamento da expansão de leitos implicam no levantamento das necessidades loco-regionais. E ainda, como os hospitais, em sua grande maioria, são de gestão estadual, municipal ou filantrópico, a implantação de novos leitos não depende exclusivamente do Ministério da Saúde.

Mas para áreas fundamentais, o Ministério da Saúde vem desenvolvendo estratégias para o aumento de leitos, de forma qualificada, para assegurar a atenção hospitalar nas Rede de Urgência e Emergência e Cegonha, de Saúde Mental em hospital geral, Programa Melhor em Casa. Com a Rede Cegonha e a Rede de Urgência e emergência, por exemplo, há incentivo para o aumento do número de leitos de UTI adulto e UTI neonatal. Com o Melhor em Casa, além de prestação de uma atenção mais humanizada, deixa-se de ocupar vagas nos hospitais do SUS. No que se refere à Rede de Atenção Psicossocial, a partir estratégias de apoio à gestão dos estados e municípios para implantação da Rede e o aumento do financiamento, o Ministério da Saúde vêm induzindo a implantação de leitos de saúde mental em Hospitais Gerais. A expansão destes leitos, no entanto, deve ser articulada aos demais componentes da Rede de Atenção Psicossocial.

Além da manutenção destas iniciativas o Ministério da Saúde incentivará a criação de novos leitos para realização de transplantes de células-tronco hematopoiéticas de doador não parente (alogênico não-aparentado) pelo SUS. Com isso, aumentará a possibilidade para a realização de mais cirurgias diminuindo o tempo de espera para a realização desse tipo de transplante.



DM – Qual atitude está sendo tomada para a redução das filas no SUS?

Arthur Chioro – O Ministério da Saúde vêm fortalecendo os instrumentos de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), que apoiem a organização das redes e fluxos assistenciais bem como o fortalecimento do processo de regionalização, hierarquização e integração das ações e serviços de saúde nos estados e municípios, responsáveis pela gestão e gerência dos serviços de saúde. Nesse contexto, o Ministério vem incentivando e financiando a implantação de Centrais de Regulação, que visam à organização da demanda e oferta existente no sentindo de qualificar o acesso baseando-se em critérios de classificação de risco. Buscando desta forma, efetivar a disponibilização da alternativa assistencial mais adequada, e no tempo oportuno, à necessidade do cidadão por meio de atendimentos às urgências, consultas, leitos e outros que se fizerem necessários.



DM – Quais ações serão tomadas em relação a dengue e a chikungunya nesse período de chuvas?

Arthur Chioro – Com início do período de chuvas, é fundamental que a população reforce as ações para a eliminação dos criadouros dos mosquitos Aedes aegypti, principalmente porque, além da dengue, agora o mosquito também pode transmitir febre chikungunya. Para intensificar as medidas de vigilância, prevenção e controle de chikungunya e dengue, o Ministério da Saúde repassou um recurso adicional de R$ 150 milhões a todos os estados e municípios brasileiros. Os recursos são para qualificação das ações de combate aos mosquitos transmissores da dengue e da febre chikungunya, Aedes aegypti e Aedes albopictus, o que inclui vigilância epidemiológica e o aprimoramento dos planos de contingência.

Desde novembro do ano passado, o Ministério da Saúde e as secretarias municipais de saúde veiculam a campanha de combate à dengue e ao Chinkungunya, que tem como slogan "O perigo aumentou. E a responsabilidade de todos também". Como parte das medidas de prevenção, o Ministério da Saúde, em conjunto com as secretarias estaduais, realizou, em 6 de dezembro, uma mobilização nacional contra os focos do mosquito aedes aegypti, responsável pela transmissão da dengue e da febre chikungunya. Um novo Dia D está marcado para 7 de fevereiro. O Ministério da Saúde convocou estados e municípios a realizarem mutirões de limpeza urbana e atividades para alertar os profissionais de saúde ao diagnóstico correto das doenças.

O número de casos de dengue registrados no país em 2014 apresentam uma redução de 59,5%, em comparação com 2013. Foram 1,4 milhão de casos em 2013 contra 587,8 mil em 2014. Os óbitos por dengue também apresentaram redução de 40% em 2014. Foram 405 mortes, contra 674 confirmadas em 2013.



DM – A contaminação por HIV aumentou nos jovens nos últimos anos. Quais as estratégias serão tomadas pelo ministério da saúde?

Arthur Chioro – No período de 2004 a 2013, no Brasil, a taxa de detecção de aids em jovens (15 a 24 anos) cresceu de 9,6 para 12,7 casos por 100 mil habitantes, o que significa um aumento de cerca de 25%. O crescimento da aids entre jovens não é um fenômeno exclusivo do país, mas caraterístico dos países que como o Brasil tem epidemia considerada concentrada em populações de risco acrescido com vulnerabilidade.

Para enfrentar essa situação, os jovens tem sido foco de campanhas de prevenção ao longo de todo o ano. Em 2014, a campanha, lançada no dia 1º de dezembro, teve como público alvo, justamente, os jovens, com material segmentado para a população jovem gay e travestis. A estratégia deste ano prevê a continuidade da campanha, com adaptações, para festas populares, como carnaval e outros eventos, durante todo o próximo ano. Além disso, o Ministério desenvolve em conjunto com as secretarias estaduais e municipais de saúde ações e campanhas regionais e municipais por ocasião de eventos específicos destinados à juventude, como shows e festas regionais.



DM – Alguns hospitais suspenderam as cirurgias eletivas alegando falta de verba. Qual é a real situação enfrentada?

Arthur Chioro – A realização de cirurgias eletivas é outro exemplo de estratégia para redução das filas e ampliação do acesso da população ao atendimento nos estados e municípios, reduzindo, desta forma, o tempo de espera para a realização dos procedimentos e, melhorando a qualidade de vida das pessoas que aguardam pela realização de cirurgias eletivas no Sistema Único de Saúde.

Em 2014, o Ministério da Saúde liberou R$ 284,9 milhões aos estados e municípios, mediante publicação de cinco portarias para dar continuidade a estratégia das cirurgias eletivas. Em complementação, o Ministério da Saúde já está realizando novo levantamento sobre a demanda dos estados para de liberação de recurso ainda no primeiro trimestre de 2015.



DM – Quanto é repassado para a saúde no Brasil e para o estado de Goiás?

Arthur Chioro – O Ministério da Saúde tem assegurado investimento crescente, estável e contínuo para a saúde pública em todo o país. Na última década, o orçamento federal executado mais do que triplicou, passando de R$ 24,7 bilhões (2002) para R$ 83,1 bilhões (2013), exclusivamente, em ações e serviços públicos de saúde em todo o país. Em 2014, o orçamento executado em ações e serviços públicos em saúde chegou a R$ 91,9 bilhões e para 2015, a previsão é de R$ 99,5 bilhões. Entendemos que a saúde precisa de um progressivo aumento de recursos. Para o estado de Goiás, o Ministério da Saúde repassou R$ 5,7 bilhões desde 2012. Em 2014, foram repassados R$ 2,1 bilhões, 15% a mais em relação a 2013, quando foram transferidos 1,8 bilhão. Os repasses se referem ao conjunto de serviços de saúde existentes no estado. As transferências são efetuadas em seis blocos: Atenção Básica, Média e Alta Complexidade, Vigilância em Saúde, Assistência Farmacêutica, Gestão do SUS e Investimento. Cabe esclarecer que todos os repasses financeiros do Ministério da Saúde, por meio do Fundo Nacional de Saúde (FNS), levam em consideração fatores como adesão aos programas federais como, por exemplo, o programa Saúde da Família, Agentes Comunitários de Saúde, Saúde Indígena, Saúde Bucal, entre outros. Além disso, são utilizados critérios populacionais e epidemiológicos, considerando as características de doenças transmissíveis ou crônicas existentes em cada região.

Fonte: dm.com.br
 
Por:  Ludyanna Ferreira    |      Imprimir