Categoria Geral  Noticia Atualizada em 24-03-2015

Histórias da Casa Branca: o fantasma israelita e um improváv
A vitória de Netanyahu está a obrigar a Administração Obama a «rever» a sua relação com Israel. Ao mesmo tempo, a ameaça do ISIS tem colocado EUA e Irão com interesses comuns. Quem diria?
Histórias da Casa Branca: o fantasma israelita e um improváv

Há vários temas quentes na agenda de política externa do Presidente Obama até ao fim do seu segundo mandato.

Dois deles são óbvios e prementes: a luta contra o avanço do Estado Islâmico e a ameaça russa no Leste da Europa.

Outros dois têm a ver com a definição de estratégia a longo prazo: o tal «shift» para a Ásia-Pacífico, para conter a ascensão da China, ideia base dos anos Obama, que tem sido adiada pelos olhares mediáticos, mais atraídos por outras crises imediatas; e uma reaproximação à Europa, já sinalizada com a preocupação de Washington com o caso grego e com a intenção de Barack Obama de selar enquanto estiver na Casa Branca um grande acordo transatlântico de comércio livre, que torne o eixo EUA/Europa como o maior espaço económico do Mundo.

Há ainda uma frente em que o Presidente Obama gastará boa parte dos seus últimos trunfos: a concretização do acordo com Cuba, perante o plano republicano de o tornar mínimo, por uma espécie de boicote legislativo, via Congresso.

Se a contenção da China, a reaproximação à Europa e o acordo com Cuba têm sido apostas políticas planeadas por Barack Obama, o mesmo já não poderemos dizer da alteração de posições a que poderemos estar a assistir, na relação dos EUA com Israel e com o Irão.

A vitória de Netanyahu nas eleições da semana passada, a todos os títulos inesperada, está a obrigar a Administração Obama a «rever» a sua relação com Israel, aliado crucial na posição norte-americana no Médio Oriente.

Ao mesmo tempo, a ameaça crescente do Estado Islâmico, na sua condição de terrorismo com ideologia «wahabista», provoca uma inesperada condição comum a americanos e iranianos: ambos têm urgência em travar os jiadistas sunitas.

As vantagens de aprofundar esta inesperada cooperação Washington/Teerão são maiores que os riscos (que também existem, claro). Para lá do inimigo comum (o terrorismo do ISIS), existe também uma rara vontade nas lideranças políticas de Obama e Rohani. E isso pode explicar a desconcertante carta escrita pelo senador republicano Tom Cotton, em tom de irresponsável ameaça ao Presidente do EUA.

Mas ainda há desconfianças mútuas, claro. O maior envolvimento dos iranianos em terreno dominado pelo Estado Islâmico nunca será admitido como aliança real entre EUA e Irão. Mas ambos sabem que dependem do outro.

Stephen Hayes, na «Time», nota: «O Irão é uma oportunidade, não uma ameaça. É um parceiro potencial, não um inimigo. Por mais de seis anos, a visão do Irão guiou as decisões de Barack Obama. O presidente declarou, de forma repetida, a sua vontade clara de abraçar o Irão na comunidade das nações civilizadas. As suas palavras, por vezes, sugerem que o Irão tem uma escolha a fazer. Conseguir entrar nessa tal mítica comunidade de nações civilizadas depende, de algum modo, do seu próprio comportamento. Mas, nestes seis anos, pouco aconteceu que possa indicar-nos que o Irão quer mesmo isso».

O fator Netanyahu está a tornar este jogo ainda mais perigoso para a política externa de Obama. O convite dos senadores republicanos ao primeiro-ministro israelita extremou posições nos dois campos político que dominam Washington.

A via norte-americana para lidar com o Irão conhecido consenso bipartidário há mais de três décadas. Isso está, neste momento, em risco. Obama quer travar o fantasma do programa nuclear iraniano com um acordo que os republicanos, agora em maioria no Senado, nunca assinarão.

Torna-se difícil ver desfecho feliz para este jogo de sombras: Israel, com Netanyahu reforçado, não admite a aproximação EUA/Irão, com medo do nuclear e de apoio de Teerão a inimigos de Telavive; os republicanos no Congresso sem dar cobertura ao caminho do Presidente em fim de mandato; Barack Obama desesperadamente a lutar contra o relógio, querendo juntar o Irão à lista de conquistas da sua atribulada presidência.

Fonte: www.tvi24.iol.pt
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir