Categoria Geral  Noticia Atualizada em 30-04-2015

Cérebro está programado para «odiar» dietas, indica estudo
Uma pesquisa sugere que o cérebro humano foi programado para «odiar» dietas. Segundo cientistas americanos no Campus de Pesquisa Janelia Farm, do Instituto Médico Howard Hughes, células do cérebro sensíveis à fome, conhecidas como neurónios AGRP, são as r
Cérebro está programado para «odiar» dietas, indica estudo
Foto: diariodigital.sapo.pt

Os investigadores fizeram experiências que mostraram que estes neurónios são responsáveis pelas sensações desagradáveis associadas à fome, que tornam os petiscos irresistíveis.
Segundo o líder do grupo de pesquisa, Scott Sternson, as emoções negativas associadas com a fome podem transformar a dieta e a perda de peso numa tarefa muito difícil, e a explicação pode estar nestes neurónios.
Num ambiente no qual a comida está sempre disponível, os sinais difíceis de ignorar enviados por estes alimentos podem parecer irritantes para quem está de dieta, mas, do ponto de vista da evolução dos humanos, estes sinais podem fazer sentido.
Para os primeiros humanos - e para animais selvagens - a busca por alimentos e água podia significar a entrada num ambiente arriscado, algo que só poderia acontecer se o humano ou animal recebesse um estímulo.
«Suspeitamos que estes neurónios estão a impôr um custo por não lidar com as suas necessidades fisiológicas (como a fome)», afirmou Sternson.
Os neurónios AGRP não levam um animal directamente a comer, mas ensinam-no a responder a pistas sensoriais que sinalizam a presença de comida no ambiente.
«Acreditamos que estes neurónios são um sistema motivacional muito antigo que obrigam o animal a satisfazer as suas necessidades fisiológicas», afirmou Sternson.
A equipa do cientista americano também demonstrou que existe um grupo diferente de neurónios especializado em gerar sensações desagradáveis de sede.
As descobertas foram publicadas na revista especializada Nature.
A fome afecta quase todas as células do corpo e vários tipos de neurónios são dedicados a fazer com que um animal se alimente quando os seus níveis de energia estiverem baixos.
Mas, segundo Sternson, até agora, o que os cientistas sabiam sobre estes neurónios não combinava totalmente com o que todos já sabiam: ter fome é desagradável.
«Havia uma previsão anterior de que haveria neurónios que fazem uma pessoa sentir-se mal quando está com fome ou sede. Isto faz sentido de um ponto de vista intuitivo, mas todos os neurónios analisados pareciam ter o efeito oposto», afirmou o cientista.
Em estudos anteriores, os pesquisadores descobriram que os neurónios que promovem a alimentação faziam-no aumentando os sentimentos positivos associados à comida. Noutras palavras, a fome faz a comida ter um gosto melhor.
Alguns cientistas começaram a suspeitar de que a ideia sobre um sinal negativo no cérebro a motivar a fome poderia estar errada.
Mas o seu conhecimento sobre o sistema era incompleto. Os neurónios AGRP, localizados numa área do cérebro conhecida como hipotálamo, estavam claramente envolvidos nos comportamentos de alimentação.

Quando falta energia no corpo, os neurónios AGRP ficam activos e, quando estes estão activos, os animais alimentam-se. Mas ninguém tinha investigado a estratégia destes neurónios para gerar esta motivação.
Os investigadores tentaram, por conseguinte, descobrir como é que isto funciona a partir de uma série de experiências comportamentais. No primeiro teste, os cientistas ofereceram a camundongos bem alimentados dois tipos de gel com sabor; um de morango e outro de laranja.
Nenhum gel continha nutrientes, mas os camundongos experimentaram os dois.
De seguida, os cientistas manipularam os sinais de fome nos cérebros dos animais ao ligar os neurónios AGRP enquanto eles comiam um dos dois sabores. Em testes seguintes, os animais evitaram o sabor associado com o sinal falso de fome.
Noutra experiência, os cientistas "desligaram" os neurónios AGRP enquanto os animais famintos consumiam um sabor em particular. Os animais desenvolveram a preferência pelo sabor que levou à desactivação dos neurónios AGRP, sugerindo que foram motivados pela inactivação do sinal desagradável enviado pelas células.
Os cientistas também observaram noutras experiências que os camundongos também aprenderam a procurar lugares onde os neurónios AGRP tinham sido silenciados e evitar os lugares onde estavam quando estes neurónios estavam activos.
Os cientistas também usaram um microscópio para examinar dentro dos cérebros dos camundongos famintos e monitorizar a actividade dos neurónios AGRP.
Como esperado, as células ficaram activas até que os camundongos encontrassem comida.
O surpreendente, segundo Sternson, é que os camundongos não tinham necessariamente que comer para aquietar os neurónios. Assim que o animal via o alimento, ou mesmo recebesse um sinal de que iria ser alimentado, a actividade destes neurónios parava. E a actividade permanecia baixa enquanto o animal estava a comer.
Os cientistas também fizeram experiências relacionadas com a sede, manipulando neurónios ligados a esta sensação, encontrados numa região do cérebro conhecida como órgão subfornical.
E o comportamento dos camundongos foi parecido: evitavam lugares onde estes neurónios estavam activos indicando que as células geravam uma sensação negativa.
E, novamente, as descobertas correspondiam às experiências comuns.
«Há uma qualidade motivacional parecida entre a fome e a sede. Queremos que as duas acabem», disse Sternson.

Fonte: diariodigital.sapo.pt
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir