Categoria Geral  Noticia Atualizada em 30-04-2015

Proibição do Uber no Brasil: solução ou retrocesso?
Nesta semana a justiça de São Paulo, segundo informou o site G1, determinou a suspensão dos serviços do aplicativo Uber no Brasil. A decisão, acatada pelo juiz Roberto Luiz Corcioli Filho, é uma vitória para taxistas de todo o país. Mas será que beneficia
Proibição do Uber no Brasil: solução ou retrocesso?
Foto: agambiarra.com

Em um período onde diversas outras decisões tão polêmicas quanto esta têm levantado a questão da censura ou privação de facilidades e direitos alheios, a resolução contra o Uber representa um retrocesso; principalmente se analisarmos todas as situações envolvidas ou partes impactadas.

De um lado, temos os motoristas de taxi, que viram no aplicativo uma ameaça ao seu trabalho. Não se pode deixar de lado a insegurança que assola os taxistas; e se você perguntar a qualquer um deles, com certeza vai ouvir alguma história de assalto ou sequestro envolvendo amigos, parceiros de profissão ou eles próprios.

Do outro lado, as reclamações dos usuários que, em grandes centros, sofrem todos os dias com um serviço precário e quase nunca fiscalizado. Quantidade insuficiente de carros ou taxistas regulamentados são as principais reclamações, indo até abusos e mau atendimento, ou à má fé de alguns, que se aproveitam de turistas para fazerem trajetos mais longos e, consequentemente, lucrarem mais. Tudo isso potencializado pela falta de qualidade nos transportes públicos que, em teoria, deveriam ser a primeira opção de todo cidadão.

A proibição do Uber no Brasil é um retrocesso

Mas a questão não chega a ser esta. Sim, todos os pontos, de ambos os lados, deveriam ser analisados e debatidos com cuidado. A proibição do Uber no Brasil, no entanto, representa a maneira errônea como quase sempre se resolvem os problemas no país.

Proibir um aplicativo que possibilita a conexão de motoristas autônomos com usuários em busca de transporte fere o direito à liberdade de cada um. Na teoria, deveríamos ser livres para fazer o que quisermos. Na prática, a coisa não é bem assim.

Sob multa de R$ 100 mil diários ainda passível de recurso, a nova resolução esbarra na velha mania de tentar resolver à força alguma situação. Se eu deixo de pedir um taxi para experimentar caronas com quem eu não tenho nenhuma garantia, o problema é meu – e o Uber ainda oferece um sistema de avaliações para manter a qualidade de seus motoristas, coisa que as empresas de táxi, em geral, não levam a sério.

Agora, se isso tem diminuído o lucro dos taxistas, ou colocado a profissão deles em risco, o problema não é meu. Nunca foi. Talvez a massificação do Uber pudesse finalmente fazer os próprios taxistas olharem para os serviços prestados por eles, que, em geral, continuam longe de serem satisfatórios pelo preço cobrado. Mas não é o que tem acontecido.

Repensar em vez de proibir

Seria a hora dos taxistas se reinventarem, a hora em que eles se alertassem que o principal serviço não é entregue com qualidade no final das contas. Seria a hora de repensar estratégias e fazer com que a população voltasse a utilizar os taxis de forma espontânea.

A proibição só reforça ainda mais o poder concentrado na mão de poucos, e cria uma distância cada vez maior entre taxistas e usuários. Proíbe-se o Uber. Mas eu continuo podendo procurar caronas em grupos no Facebook ou Whatsapp. Em meio aos protestos de taxistas, a assessoria do Uber informou que os downloads do aplicativo cresceram em 500%.

Uma decisão liminar como esta não resolve e nem estanca o problema; só o agrava. Taxis ainda continuarão sendo alvo de reclamações, enquanto a população continuará insatisfeita.

Foi uma decisão errada que conseguiu seguir adiante por conta da força de um sindicato incapaz de olhar para si, mesmo antes de tentar atitudes extremas. Foi uma decisão que feriu o sentimento de livre-arbítrio, uma imposição. E enquanto esta questão não for resolvida, tudo continuará a mesma bagunça.

Quem sabe a tal atitude extrema não seja capaz de finalmente tirar a sujeira escondida debaixo do tapete, mostrando aos taxistas que no final das contas, mais vale um cliente feliz na mão do que dois clientes insatisfeitos viajando dentro de carros desconhecidos?

Tentar tirar do ar à força um aplicativo que significou a modernização do setor talvez sirva de exemplo, mesmo que errôneo, para milhares de taxistas: vocês estão errados. É hora de reconhecer as falhas e lutar por melhorias. Mas melhorias de verdade, que beneficiem a profissão e aqueles que utilizam o seu serviço buscando um mínimo de respeito e qualidade.

Fonte: agambiarra.com
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir