Categoria Geral  Noticia Atualizada em 07-05-2015

Presidente do Chile demite todo o seu Governo
Uma medida inédita para enfrentar uma crise política grave. A popularidade de Michelle Bachelet está em mínimos históricos mas os escândalos envolvem políticos da esquerda à direita.
Presidente do Chile demite todo o seu Governo
Foto: www.publico.pt

Michelle Bachelet já tinha tentado recuperar as rédeas da crise e resistiu, enquanto pôde, a medidas drásticas. Acabou por avançar com este anúncio: "Há algumas horas pedi a demissão de todos os ministros e vou demorar 72 horas a decidir quem fica e quem sai. É tempo para uma mudança de gabinete", afirmou na quarta-feira à noite (madrugada de quinta em Portugal) num programa televisivo de grande audiência.

A popularidade da Presidente que governou o Chile entre 2006 e 2010, gozando então de taxa de aprovação superior a 80%, se afastou para trabalhar nas Nações Unidas e regressou ao Chile para ser de novo eleita, o ano passado, desceu como nunca e Bachelet conta hoje com 31% de opiniões favoráveis. Ao mesmo tempo, há 64% de chilenos que condenam a sua gestão do país.

"Considerei necessário fazer uma avaliação de múltiplos elementos, incluindo a gestão mas também a equipa que me vai acompanhar neste novo ciclo", disse a socialista numa entrevista a Mario Kreutzberger no seu programa Don Francisco.

Bachelet toma esta decisão depois de semanas em que se multiplicam escândalos de financiamento político investigados pela Procuradoria, e que atingem, de forma transversal, o Governo, os partidos e o Congresso. Isto depois de ela própria ter estado debaixo de fogo por causa de um caso que envolve o seu filho e nora, o processo Caval.

Sebastián Dávalos, filho de Bachelet, foi acusado de ter usado a sua influência para conseguir um empréstimo bancário favorável para a empresa da sua mulher, Natalia Compagnon. Foi a 5 de Fevereiro que uma revista publicou a descrição de um encontro, em 2013, em plena campanha eleitoral, em que Dávalos teria solicitado a um alto funcionário do Banco do Chile o empréstimo 9 milhões de euros para investimentos imobiliários muito lucrativos para Compagnon – o crédito foi aprovado no dia seguinte à eleição de Bachelet.

Dávalos, de 36 anos, demitiu-se da direcção de uma instituição de caridade ligada ao Governo na sequência do escândalo. Foi investigado e o regulador nacional bancário considerou-o inocente da acusação de tráfico de influência ou de quaisquer ilegalidades.

Mas o escândalo atingiu a confiança em Bachelet, para além de ter aberto uma desconfiança profunda entre a Presidente e o seu ministro do Interior, Rodrigo Peñailillo, considerado como uma espécie de filho político da chefe de Estado e peça fundamental no Governo que tomou posse em Março de 2014.

Quando a revista Qué Pasa denunciou o negócio, Bachelet estava de férias, no Sul do Chile, com a família. Coube a Peñailillo gerir a crise e a Presidente admite agora que deveria ter regressado à capital. "Telefonavam-me e contavam-me uns bocadinhos. Caso contrário, teria regressado de imediato a Santiago", disse Bachelet na entrevista em que anunciou a demissão do Governo.

O escândalo de Peñailillo
Entretanto, Peñailillo viu-se envolvido no seu próprio escândalo. Em Abril, soube-se que tinha prestado serviços a uma empresa fundada por Giorgio Martelli, mais conhecido por angariar dinheiro para campanhas políticas. Recebeu 245 milhões de pesos (352 mil euros) de uma empresa mineira do ex-genro de Augusto Pinochet por estudos que a Procuradoria suspeita que nunca se chegaram a fazer.

O ministro começou por assegurar que tinha realizado os relatórios e no último domingo iniciou uma operação mediática destinada a prová-lo, divulgando partes desses estudos. Na quarta-feira, a imprensa chilena escrevia que parágrafos inteiros são quase iguais a relatórios realizados por outra empresa, em 2009.

Às crises no seu Governo juntam-se escândalos de fraude fiscal e de financiamento ilícito de campanhas que envolvem poderosos empresários. A maioria destes casos afecta a União Democrática Independente, da direita. O seu presidente, Ernesto Silva, demitiu-se a 12 de Março.

Bachelet tentou recuperar o controlo da agenda política no fim de Março, quando anunciou uma reforma profunda contra a corrupção e um processo constituinte para substituir por fim a Constituição de 1980, herdada de Pinochet. A situação de Peñailillo, cuja demissão era pedida por muitos, voltou a complicar tudo e levou a Presidente a escolher este caminho. Primeiro, esperou que se realizassem eleições internas nos partidos, a União Democrática Independente mas também os socialistas, que elegeram Isabel Allende, filha do ex-Presidente.

Agora, chegou o momento do tudo ou nada. Ninguém sabe quem fica ou sai nesta remodelação governamental. Peñailillo não ficará certamente.

Fonte: www.publico.pt
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir