Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 27-07-2006

SOBRE MOTIVOS E MOTIVAÇÕES
"...ouvi um conferencista explicando a distinção entre “motivos” e “motivações”. Segundo ele, motivos são argumentos racionais que recebemos de..."
SOBRE MOTIVOS E MOTIVAÇÕES

Outro dia ouvi um conferencista explicando a distinção entre "motivos" e "motivações". Segundo ele, motivos são argumentos racionais que recebemos de fora para fazer algo; motivações são os impulsos emocionais que produzimos em nós mesmos para fazer esse mesmo algo. Não basta ter um bom motivo para se casar, por exemplo; é preciso haver uma grande motivação, que, neste caso, podemos chamar de amor.

Comecei a fazer, ali mesmo, durante a palestra, um exame particular da maneira como ando levando a vida, executando minhas atividades, dando andamento em minha história. E fui descobrindo algumas coisas interessantes. Por exemplo, descobri que eu costumava gastar mais tempo com as coisas bonitinhas, para as quais eu tinha apenas motivos suficientes, do que com aquelas (nem tão belas assim) feitas com motivação. Meu dia-a-dia estava mais saturado de bons motivos do que de verdadeiras motivações.

O mundo está cheio de pessoas erradas no lugar errado, no momento errado de suas vidas, fazendo coisas que nunca deveriam ter começado a fazer. Só isso explica a desordem em que tudo parece submerso. Isso porque essas pessoas, por um determinado "motivo", foram jogadas pelas circunstâncias da vida a situações que nunca desejaram para si. Um bom salário pode ser para mim um bom motivo, mas, sem motivação, o trabalho me cansa demais, me envelhece mais depressa, e faz de mim uma pessoa sempre insatisfeita com o resultado final.

Motivos não têm o poder de fazer alguém feliz. Não adianta debruçar-me nas bancas de auto-ajuda da melhor livraria da cidade, se busco ali apenas motivos superficiais para me convencer de algo que não engulo na verdade. Não basta fazer terapia: mais dia, menos dia, o analista, sendo franco, vai me receitar nada mais do que boas risadas em família. Não basta tomar um banho de loja: comprar nunca resolveu e nunca resolverá o problema de ninguém (isso, no máximo, desviará minha preocupação do buraco na alma para o rombo na conta bancária). O que me salvará são as motivações que pulsam em mim, naturalmente, e a sensibilidade de deixá-las pulsar quando e quanto quiserem.

Fiz, então, uma espécie de teste para mim mesmo: eu acordo disposto a cumprir o que escolhi para mim, ou a vontade de dormir me soa como mais importante do que meu papel neste mundo? Quando alguém me pergunta, num momento de lazer, sobre as coisas que faço, sinto-me orgulhoso por fazê-las (pelo menos satisfeito pela forma como as faço), ou as repudio como incompatíveis com qualquer descontração e procuro logo mudar de assunto para não me estressar? Enfim, tenho conseguido dar àquilo que faço a minha cara de satisfação, ou, no final das contas, eu é que tenho ficado com a cara de tédio das coisas que tenho sido obrigado a fazer?

As respostas ainda não vieram, estão sendo processadas aqui, num compartimento interno, entre o contentamento da escolha certa e o medo de chegar a conclusões que me desinstalam.


    Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir