Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 28-08-2006

UM TESTE DESAGRADÁVEL
Um homossexual e uma prostituta entram em sua frente na fila da comunhão. Na outra fila, aquele deputado acusado de participar do esquema do mensalão ou dos Sanguessugas
UM TESTE DESAGRADÁVEL

Um homossexual e uma prostituta entram em sua frente na fila da comunhão. Na outra fila, aquele deputado acusado de participar do esquema do mensalão ou dos Sanguessugas (nessa época eles costumam aparecer...). Por qual situação sua alma piedosa mais enfaticamente brada o zelus domus tuae comedit me – o zelo por tua casa me consome (Sl 68,10)? Infelizmente, boa parte dos católicos se escandalizaria apenas ao ver comungarem os que transgrediram a moral sexual da Igreja; outra parte, atenta ao conselho do pe. Marcelo Rossi, talvez até se decidisse votar naquele deputado, que ao menos é um corrupto católico.

A moral sexual da Igreja deve ser acreditada e observada, é claro. Mas a própria moral católica reconhece que os pecados não podem ser colocados no mesmo nível de gravidade. Aqueles dois que vão à sua frente na fila incorrem no sexto mandamento da lei de Deus, ou seja, atentam contra a castidade, enquanto aquele deputado católico (mais católico do que cristão), é réu do primeiro mandamento (amou seus próprios interesses sobre todas as coisas), do quinto (colaborou com a morte ao desviar verba pública), do sétimo (pois roubou), do oitavo (pois mente) e do décimo (cobiçou as coisas alheias, públicas).

O nosso povo religioso parece ter desenvolvido uma apatia crônica, uma indiferença mórbida diante da corrupção. Escandaliza-se com a desordem sexual e deixa passar batida a imoralidade civil; não admite o descontrole da libido alheia, mas faz vistas grossas à maior das indecências, que é a política. Afinal, há uma desproporcionalidade absurda em nossa forma de enxergar o pecado: quantas vezes já levamos ao confessionário os maus pensamentos e os prazeres da carne e quantas vezes já confessamos não termos exigido nota fiscal do que compramos? Ou será que a sonegação de impostos, com todas as conseqüências sociais que provoca, não causa prejuízo maior aos planos de Deus do que uma queda no propósito da castidade?

Na verdade, o povo nunca possuiu verdadeiramente a prerrogativa de ser a voz de Deus. Nem o povo de Deus! Deus se dirige a Israel várias vezes chamando-o de "povo de cabeça dura" (Ex 32,9; 33,3.5; 34,9). Na âmbito da cidadania a coisa é pior. Entre nós, o chamado "jeitinho brasileiro" denuncia a corrupção como marca registrada. E não culpemos a nossa história por isso! Não dá mais para dizer que nossa cultura está fadadamente maculada por uma colonização mal feita, que importou levas e mais levas de transgressores da lei para cumprir pena longe da limpeza européia; ou ainda por termos sido colônia de exploração e não de povoamento, como a América do Norte, nossa pretensa mater et magistra, de quem – ela pensa – não passamos de um quintal. Isso é um pecado coletivo. Com ele, todos vamos ter que nos ver diante do tribunal de Cristo, o mesmo que chamou Herodes de raposa (cf. Lc 13,31-32) mas que afirmou que as prostitutas precederiam os hipócritas da religião no reino dos céus (cf. Mt 21,31).


    Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir