Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 16-04-2007

FUGIR OU ENFRENTAR A DOR?
Quando a vida nos obriga a enfrentar situa��es dif�ceis - como uma perda pessoal, por exemplo - � preciso entender que a eternidade est� dando mais um passo
FUGIR OU ENFRENTAR A DOR?


Quando a vida nos obriga a enfrentar situa��es dif�ceis - como uma perda pessoal, por exemplo - � preciso entender que a eternidade est� dando mais um passo.

Jorge Luis Borges escreveu algo muito bonito a respeito: "Tu �s nuvem, �s mar, esquecimento/�s tamb�m o que perdestes em um momento/ Somos todos os que partiram. /O reflexo de nosso rosto no espelho muda a cada instante /e cada dia tem o seu pr�prio labirinto/A nuvem que se desfaz no poente � nossa imagem; /incessantemente, uma rosa se converte em outra rosa".

Particularmente, eu detesto o caminho da perda, mas �s vezes n�o h� solu��o, e � preciso encar�-lo. A seguir, algumas hist�rias a respeito.

O sacrif�cio e a ben��o
Um homem fez a promessa de carregar uma cruz at� o alto de um monte, se tivesse certo desejo atendido.

Deus concedeu o que pedia.
Ele mandou fazer a cruz, e come�ou a caminhada. Depois de v�rios dias, achou que a cruz pesava mais do que supunha - e, com um serrote emprestado, cortou boa parte da madeira. Ao chegar no alto do monte, notou que - separada por uma fenda na terra - havia outra montanha.

Nela, tudo era paz e tranq�ilidade; mas precisava de uma ponte para chegar at� l�.

Tentou usar a cruz - mas era curta para isto.

E ent�o reparou: o peda�o que havia cortado era exatamente o que estava faltando para que pudesse cruzar aquele abismo.

Outra hist�ria sobre a cruz

Num certo vilarejo de �mbria (It�lia), havia um homem que se lamentava de sua sorte. Era crist�o, e achava o peso de sua cruz muito dif�cil de ser carregado.

Certa noite, antes de dormir, rezou para que Deus permitisse trocar seu fardo.

Nesta noite teve um sonho; o Senhor lhe conduzia para um dep�si�to. "Pode trocar", dizia. O homem viu cruzes de todos os tamanhos e pesos, com nomes dos seus donos. Escolheu uma cruz m�dia - mas, vendo o nome de um amigo gravado, deixou-a de lado.

Finalmente, como Deus havia permitido, escolheu a menor cruz que encontrou.

Para sua surpresa, viu gravado nela o seu pr�prio nome.

O guru de Mesure

Existia em Mesure, na �ndia, um famoso guru. Conseguiu reunir um bom n�mero de seguidores, e espalhou com generosidade sua sabedoria.

Na meia-idade, contraiu mal�ria. Mas continuava a cumprir religiosamente seu ritual: banhar-se de manh�, dar aulas ao meio-dia, e orar durante � tarde, no templo.

Quando a febre e os tremores o impediam de concentrar-se, ele tirava a parte de cima de sua roupa e a atirava num canto. Seu poder era t�o grande que a roupa continuava tremendo - en�quanto o homem, livre das contra��es, podia fazer suas preces com calma.

No final, voltava a vestir a roupa, e os sintomas retornavam.

"Por que voc� n�o abandona de vez esta roupa, e se livra da doen�a?", perguntou um jornalista, ao ver o milagre.

"J� � uma ben��o poder fazer com tranq�ilidade aquilo que devo fazer", respondeu o homem. "O resto faz parte da vida; seria uma covardia n�o aceitar".

    Fonte: O Autor
 
Por:  Paulo Coelho    |      Imprimir