Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 04-05-2007

FORA DE SINTONIA
Quem tem tempo para perder, al�m de curiosidade e paci�ncia infinitas, constata que a observa��o do que acontece no Brasil � uma fonte inesgot�vel de reflex�o
FORA DE SINTONIA


Quem tem tempo para perder, al�m de curiosidade e paci�ncia infinitas, constata que a observa��o do que acontece no Brasil � uma fonte inesgot�vel de reflex�o. � impressionante o tempo que se perde com o debate de n�o-assuntos - ou seja, aqueles temas em que apenas o aproveitamento da experi�ncia de pa�ses mais adiantados por parte de um governo s�rio resolveria em dois tempos um caminh�o de problemas.

Claro, esse tipo de conceito passa longe dessas terras. O neg�cio aqui � reinventar a roda, sob o patroc�nio do roque santeiro de plant�o. O atual, revestido de teflon, est� sempre pronto para bancar o pai de todos e declarar que n�o se pode comparar o que acontece aqui com a realidade dos outros pa�ses. Algo, mais ou menos, como se viv�ssemos num planeta � parte, inexplicavelmente ligado aos outros pa�ses da Terra pelos meios f�sicos convencionais.

Vejamos o caso da maioridade penal, por exemplo. Est� mais do que claro, dos pontos de vista te�rico e pr�tico, h� muitos anos - vamos usar como refer�ncia de tempo, arbitrariamente, o surgimento da p�lula anticoncepcional. Pelo menos desde que surgiu a p�lula, est� claro que uma pessoa de catorze, quinze anos de idade, tem uma no��o muito mais completa, n�tida, transparente do que � certo e do que � errado. Do que � um comportamento aceit�vel e do que � um crime.

No entanto, n�o � de hoje que brasileiro adora uma masturba��o mental. Parece que isso ajuda a passar o tempo sem que nada seja resolvido, para benef�cio daqueles que j� est�o com a vida ganha. Do futebol � f�rmula um, da pol�tica partid�ria ao sistema eleitoral, do sistema de governo � lei de execu��es penais, nada muda. Todo mundo sabe o que � preciso ser feito para consertar o pa�s, mas nunca h� clima.

O menor de idade que arrastou o garotinho de seis anos preso ao cinto de seguran�a do carro pelo lado de fora sabia o que estava fazendo. Ele estava desesperado porque � pobre, sem chances de ascens�o social? N�o � desculpa. Ele estava maconhado, ou coisa pior? N�o � desculpa. Ele estava possu�do por um esp�rito maligno que lhe dizia ao ouvido que fizesse coisas ruins e orientasse seus asseclas para o mal? A� j� � apela��o de advogado de porta de cadeia. Nem a m�dium Allison Dubois, nem a moreninha bem nutrida de Ghost Whisperer entrariam nessa.

O que acontece � que num pa�s onde todo mundo tem horror � palavra responsabiliza��o - ningu�m quer ser respons�vel por absolutamente nada - jogar o que se acredita ser um piano de cauda desse tamanho nas costas da pobre juventude inocente e pura � algo impens�vel. Ningu�m parou para pensar num velho ditado - "quem n�o deve, n�o teme". Para o jovem que anda na linha, a maioridade penal pode ser estabelecida aos sete anos de idade, como na Austr�lia ou na �ndia, ou em alguns estados norte-americanos, ou aos oito anos, como no Reino Unido, ou aos doze, como na Espanha e no Canad�. N�o vai fazer a menor diferen�a.

Agora, por aqui, no fazend�o, onde o moto ideol�gico parece ser mesmo o de criar uma sociedade sem freios, vamos de arrast�o em arrast�o, de avi�ezinhos em avi�ezinhos no rumo que o nosso inimput�vel l�der nos levar.


    Fonte: O Autor
 
Por:  Claudio Lessa    |      Imprimir