Categoria Religião  Noticia Atualizada em 12-05-2007

Freiras deixam clausura por Bento XVI
Foi um dia especialmente memorável para 140 freiras de 17 mosteiros da Federação das Irmãs Clarissas do Brasil
Freiras deixam clausura por Bento XVI
Foto: AE

Foi um dia especialmente memorável para 140 freiras de 17 mosteiros da Federação das Irmãs Clarissas do Brasil, que vivem reclusas mas receberam autorização especial para sair da clausura e ver o papa. O encontro aconteceu neste sábado, 12, na igreja construída especialmente para a visita do pontífice. Foi o primeiro compromisso de Bento XVI na Fazenda da Esperança, em Pedrinhas, Guaratinguetá, onde chegou com cinco minutos de atraso, 10h35.

Bento XVI dirigiu-se para o interior da capela, onde as freiras já o esperavam. Elas receberam o papa cantando "Bento, bendito que vem em nome do Senhor", hino oficial da visita do papa ao Brasil, escrito por frei Luiz Turra. "Todas as nossas orações são cantadas", explicou a irmã Maria Esther da Cruz, de 28 anos, há sete vivendo no Mosteiro Mater Christie, fundado em 2000 num casarão vizinho às terras do centro masculino da Fazenda Esperança, em Guaratinguetá. Ali vivem oito irmãs. As demais vieram de outros mosteiros espalhados pelo Brasil.

De Bento XVI, as freiras ouviram palavras de incentivo, "um gesto de carinho do sucessor de Pedro às irmãs enclausuradas", por uma vocação em franco declínio. O papa agradeceu às irmãs pela retaguarda espiritual que dão ao trabalho de recuperação de dependentes químicos. "Nesta Fazenda da Esperança unem-se as orações das Irmãs Clarissas ao trabalho árduo da medicina e da laborterapia para vencer as prisões e quebrar os grilhões das drogas que fazem sofrer os filhos amados de Deus."

"Onde a sociedade não vê mais futuro ou esperança são os cristãos chamados a anunciar a força da Ressurreição. Justamente aqui nesta fazenda, onde estão tantas pessoas, principalmente jovens, que procuram superar o problema das drogas, do álcool e da dependência química que se testemunha o Evangelho de Cristo no meio de uma sociedade consumista", disse o papa.

Bento XVI pediu às irmãs que não perdessem a esperança. E, assim como em seu discurso aos jovens, voltou a falar em paixões. "É o Cristo ressuscitado que cura as feridas e salva os filhos e a filha de Deus, salva a humanidade da morte, do pecado e da escravidão das paixões."

"O mundo está sugando as pessoas e elas não têm mais tempo para Deus", disse irmã Maria Esther, emocionada com a fala do pontífice. "O papa é nossa autoridade maior e nos deu esse privilégio para que ouvíssemos suas palavras de incentivo." As irmãs entregaram a Bento XVI toalhas do altar bordadas e velas. Os objetos foram entregues à Fazenda da Esperança, já que o papa não pode receber presentes pessoalmente.

Para muitas, foi a primeira vez fora dos muros dos mosteiros, desde que fizeram os votos pela vida religiosa de oração e contemplação. Antes do encontro, elas só se conheciam por carta ou telefone. Ao se encontrarem, na sexta-feira, à espera do grande dia de encontro com o papa, o falatório rapidamente tomou conta dos aposentos do mosteiro, normalmente silencioso.

São freiras como irmã Emanuela, de 51 anos, quinze deles vividos em clausura, durante os quais só obteve autorização para sair em quatro ocasiões, quando a sua mãe estava doente. A última experiência além dos muros do mosteiro foi há quatro anos. "É bom sair, principalmente para uma ocasião como essa", disse.

Ela era uma das mais antigas religiosas. Muitas eram jovens, ainda não ordenadas freiras, chamadas de vocacionadas, como Fernanda Soares, de apenas 23 anos, de Goiânia. O encontro com o papa marcou, para ela, o ingresso definitivo à Ordem das Irmãs Clarissas. De Guaratinguetá, ela seguiu para Marília, onde viverá enclausurada. "Também estive no Pacaembu para ver o papa. O encontro com ele só reafirmou a minha vocação", disse.

As irmãs acordaram às 5h30, fizeram as primeiras orações, e às 7 horas já estavam prontas para seguir ao centro masculino e sede da Fazenda Esperança, em Pedrinhas, a 18 quilômetros de Guaratinguetá. Perfumada e com discreta base cobrindo a pele do rosto, a sorridente irmã Angélica, de 40 anos, veio do Rio Grande do Norte só para ver o papa. "Não aqui não tem maquiagem. Só bloqueador solar e muito", garantiu. "É um privilégio muito grande. Um momento único nas nossas vidas de religiosas."


Fonte: http://www.estadao.com.br
 
Por:  José Rubens Brumana    |      Imprimir