Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 19-05-2007

45 ANOS
"Nascer nos anos 50 ou 60 foi barra. Toda geração rompe com a anterior, mas essa mudou todos os conceitos de várias gerações. Faz pouco mais de 50 anos que apareceu a televisão..."
45 ANOS

"Nascer nos anos 50 ou 60 foi barra. Toda geração rompe com a anterior, mas essa mudou todos os conceitos de várias gerações. Faz pouco mais de 50 anos que apareceu a televisão, o chuveiro elétrico, a declaração dos direitos humanos e a revista Playboy. Casar era pra sempre, sustentar filhos era até quando eles conseguissem emprego, as certezas duravam a vida toda. As avós eram umas velhinhas e hoje uma mulher de 40 ou 50 anos é um mulherão.

Todos nos vestimos como nossos filhos. Não existem mais velhos como antigamente. Essa foi uma geração que mudou tudo. Culpa da pílula, dos Beatles, da internet, da globalização, do muro de Berlim, da televisão, da tecnologia, do viagra. Até morrer ficou diferente. Com a pílula, a mulher teve os filhos que quis. Como não conseguimos mais sustentar uma família, elas foram à luta e saíram para poder pagar a comida congelada, a luz e o celular. Se a coisa não vai bem: é fácil a separação, difícil é pagar a pensão.

Hoje aprendemos a ouvir as crianças falando sobre o namorado da mãe e o pai do irmão, ou o namorado do irmão e a namorada da irmã e temos apenas 15 minutos para achar que isso é normal e saudável e para dar uma opinião sobre o aquecimento global, os transgênicos, as mortes das baleias, a guerra no Iraque, o orgasmo múltiplo, a venda e a falta de empregos, os muçulmanos, a reforma agrária. Sem esquecer de ser politicamente correto, é claro.

Em 50 anos tiraram a filosofia da educação e como o pensamento era reprimido pela revolução tudo virou libertação. Pedagogia da libertação, teologia da libertação, psicologia da libertação. Deu no que deu. Burrice liberada. Burrice eleita.

As pessoas de mais de 40 anos aprenderam à tapa e na urgência a assimilar todas as mudanças do mundo. Os filhos, por falta de emprego, não têm mais anseios de ir embora. Ficam morando eternamente e mandando na casa e com os controles remoto da TV, do DVD, do ar-condicionado na mão. Afinal, quem detém o poder do controle remoto manda na casa. São eles.

As pessoas de mais de 40 anos sabiam de cor a escalação do Botafogo de Gerson e Jairzinho. Hoje aprenderam a escalação do Botafogo de Ribeirão Preto, que tinha no ataque Polleto, Buratti, Barquete e Palloci. E como esses caras roubavam no jogo! Palhaço era o Carequinha. .Hoje o povo inteiro é palhaço. Bandido era Lúcio Flávio, hoje os bandidos tomaram conta dos palácios, das Câmaras, Assembléias e Senado e de uma cidade que não existia, chamada Brasília. Ângela ‘Guaiamum’ dançaria só na zona.

Naqueles tempos, frango não ficava gripado, no Sul só tinha enchente e no nordeste seca, presidente era alfabetizado e inspirava respeito, experiência com feijão e algodão germinando a gente fazia na escola e não em vôo espacial. Movimento social era reunião dançante, dia da mentira não era data nacional, piercing era coisa de índio botocudo, mansão do lago era algo de filme de terror e não lugar onde se divide dinheiro roubado.

O homem chegava à lua e descobria que a Terra era azul, hoje um brasileiro se emocionou ao ver o Brasil lá do alto, é marrom e fede; caseiro não era mais ético do que ministro; quadrilha era dança junina e não razão de existir de partido político; operário era padrão e não rimava com ladrão. Ninguém tinha um esqueleto no armário nem dava tiro no pé. Manteiga era usada pelo Marlon Brando no Último Tango em Paris. Pizza se comia em casa e era bem alta, com molho de tomate e sardinha; hoje entregam uma a toda semana no Congresso. O clube dos cafajestes eram uns playboys e não um País.

As pessoas de mais de 40 anos estão assim meio tontas, mas vão levando. Fumaram e deixaram de fumar, beberam whisky com muito gelo, tomaram muita cuba-libre, hoje tomam sustos, foram marxistas até descobrir quem foram os irmãos Marx, não têm mais certeza de nada e a única música dos Beatles a tocar é "Help".


    Fonte: O Autor
 
Por:  Manoel Manhães    |      Imprimir