Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 21-05-2007

O LADO POSITIVO DA VISITA DO PAPA
O que de bom emergiu foi a reafirma��o de uma m�xima que se esconde, especialmente quando se trafega pelo pantanoso terreno da pol�tica
O LADO POSITIVO DA VISITA DO PAPA

A visita do cat�lico Bento "Ser�-o-Benedito" 16 ao Brasil, em que pese todo um "media hype" bem calibrado para conter o avan�o de outras seitas crist�s no pa�s que possuem acesso aos grandes meios de comunica��o, n�o foi apenas um desastre. Coisas boas emergiram, tamb�m.

Claro, o desastre ficou por conta do obscurantismo e obsolesc�ncia da mensagem do Vaticano, completamente distante e dissociada dos verdadeiros desafios que o mundo de hoje enfrenta, e pela obviedade com que Ratzinger e sua turma acharam que tinham o direito de impor seus pontos de vista retr�grados - e at� mesmo perigosos para a sa�de e para a vida - sobre todos os brasileiros, indistintamente, como se n�o exitissem budistas, mu�ulmanos, judeus, macumbeiros, evang�licos, esp�ritas e ateus numa coexist�ncia pac�fica entre n�s.

O que de bom emergiu foi a reafirma��o de uma m�xima que, de vez em quando, se esconde, especialmente quando se trafega pelo pantanoso terreno da pol�tica. "Ningu�m � completamente bom nem completamente mau", diz o ditado. E de onde saiu o positivo? De onde menos se esperava - de Lula et caterva.

Serena, ainda que corajosamente, o presidente bateu de frente com a turma da batina e seus lacaios ao dizer que "o aborto � um problema de sa�de p�blica." N�o sem antes cortar as asas dos anjos de pau oco, que queriam impor o ensino obrigat�rio de religi�o nas escolas p�blicas e, por conseguinte, transformar o Brasil num regime talib� tropical.

Desta vez, por mais incr�vel que possa parecer, Lula est� absolutamente certo. Mesmo que os n�meros n�o sejam impressionantes e falem por si mesmos - segundo dados do Sistema �nico de Sa�de, mais de um milh�o e duzentas mil mulheres foram internadas por causa de complica��es decorrentes de abortos mal feitos, a um custo de quase 165 milh�es de reais nos �ltimos cinco anos - o atual presidente lembrou que, apesar de ser pessoalmente contra a pr�tica do aborto, o Brasil � um estado laico, isto �, existe uma separa��o entre Estado e Igreja.

Se essa defini��o n�o for apenas mais um conto da carochinha, isto significa que o Estado brasileiro chama para si um padr�o de conduta que garante a sa�de de todos os cidad�os, sejam eles de qualquer religi�o e/ou orienta��o sexual. Em outras palavras, o presidente n�o governa apenas para a maioria dos brasileiros, que se dizem cat�licos alco�licos rom�nticos e, de maneira geral, est�o sempre prontos a dar um chute no traseiro de Ratzinger e suas diatribes.

Significa tamb�m que n�o cabe ao Estado brasileiro fazer ju�zo de valor a respeito de seus cidad�os, protegendo apenas os que seguem as leis de Deus de acordo com as interpreta��es do Vaticano. O Estado brasileiro � obrigado a garantir a sa�de e o bem-estar de todos os cidad�os.

Se uma parcela das brasileiras decide fazer o aborto, por qualquer motivo que seja, elas ter�o que conviver com o peso dessa decis�o em suas consci�ncias e enfrentar as conseq��ncias de seus atos pelo resto de suas vidas. Ao governo brasileiro, por meio do seu sistema de sa�de p�blica, resta apenas garantir que a pr�tica da interrup��o da gesta��o n�o resulte na morte dessas mulheres.

O debate em torno do aborto e da reitera��o da separa��o entre Estado e Igreja surgiu numa boa hora, quando o pa�s conta com um ministro da Sa�de dotado de lucidez e, ao que tudo indica, vontade de trabalhar e de debater as grandes quest�es que ainda atrasam essa terra. Ali�s, se n�o me engano, foi o fiel escudeiro de Lula que relembrou a constata��o de que "se homem ficasse gr�vido, essa est�ria de aborto j� tinha sido resolvida h� tempos."


Fonte: Reda��o Maratimba.com
 
Por:  Claudio Lessa    |      Imprimir