Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 11-06-2007

O PULHA
Embora a palavra seja um pouco forte, todos n�s temos um pulha na vida (o dicion�rio Aur�lio define o termo como �indiv�duo sem car�ter, sem dignidade, sem brio�)
O PULHA

Embora a palavra seja um pouco forte, todos n�s temos um pulha na vida (o dicion�rio Aur�lio define o termo como "indiv�duo sem car�ter, sem dignidade, sem brio"). Ele � a pessoa que tenta se destacar mais na �poca em que somos adolescentes, quando lutamos para afirmar nossas identidades, nossos sonhos, nosso lugar no mundo. Estamos cheios de d�vidas sobre o que fazer, e de repente o pulha est� ali: � sempre o l�der, o que se acha mais bonito, mais inteligente, mais capaz de enfrentar os desafios do futuro.

Para manter-se nesta posi��o, ataca nossa auto-estima: quer nos fazer acreditar que somos feios, sem gra�a, sem futuro, e que todos dev�amos nos espelhar nele e na sua maneira de liderar a turma da rua (ou do pr�dio, ou do condom�nio). No caso dos rapazes, normalmente se imp�e por sua for�a bruta ou por suas atitudes "espertas", como se soubesse mais que todo mundo. No caso das mo�as, � sempre aquela que parece atrair os olhares de todos os homens, ser convidada para todas as festas, estar sempre mais elegante.

O pulha (tanto feminino como masculino) nos olha com um certo ar de superioridade, e procura ditar as normas do grupo. Evidente que ficamos intimidados com sua conduta, n�o sabemos o que fazer, e terminamos deixando que nos guie por algum tempo. Embora n�o saibamos, estamos dando ao pulha o poder que ele n�o tem e n�o merece, e este ser� o �nico momento da vida que conseguir� brilhar sua luz ef�mera. Mas faz parte de nosso aprendizado, j� que atrav�s disso desenvolvemos nossas defesas no futuro.

E crescemos. Pouco a pouco, cada um vai fazendo suas escolhas, o grupo da adolesc�ncia se dissolve, o pulha desaparece, embora guardemos ainda sua imagem de beleza, sabedoria, lideran�a, eleg�ncia, for�a, superioridade.

Todos n�s, durante este importante rito de passagem que � a adolesc�ncia, fomos testados em nossos valores fundamentais � menos o pulha. Enquanto sofr�amos o descaso, a inseguran�a, a fragilidade, ele passava ao largo: afinal de contas era o nosso(a) l�der! N�o teve que amargar as horas dif�ceis que todos n�s passamos nas noites em claro e nos dias de chuva.

Um belo dia, j� adultos, pensamos em encontrar nossos amigos de juventude. Organizamos uma reuni�o, geralmente em um restaurante � onde todos comparecem com suas mulheres ou maridos. Nada melhor que sentar-se em volta de bons pratos, de bom vinho, e relembrar um pouco os anos que formaram tudo que somos hoje.

O pulha aparece � geralmente tamb�m casado(a). Todos n�s estamos interessados no que ocorreu em sua vida, existe ainda uma certa fascina��o e deslumbramento por aquela atitude t�o cheia de autoconfian�a. Aonde chegou aquele que invej�vamos e admir�vamos secretamente?

A primeira surpresa � que o pulha n�o chegou a lugar nenhum. Melhor dizendo, pode ter dado um ou dois passos bem-sucedidos, mas logo a vida foi implac�vel com a sua arrog�ncia � o mundo dos adultos � bastante diferente daquele que vivemos quando jovens.

Mas o pulha ainda tem um �nico ref�gio: sua turma de adolesc�ncia. E como acha que o mundo n�o andou adiante, deseja reviver seus momentos de gl�ria. No in�cio do jantar, parece que voltamos atr�s, mas logo nos damos conta que ele foi apenas um instrumento para que pud�ssemos crescer. Depois de alguns goles de �lcool, vemos o pulha acuado, tentando provar uma for�a que j� n�o existe mais, achando que ainda acreditamos que continua l�der de todos n�s.

N�s sorrimos, confraternizamos com todos, pagamos a conta, e sa�mos com aquela impress�o de que o pulha fez a escolha errada. Pensamos: "essa pessoa tinha tudo para dar certo, e n�o deu".

Todos n�s tivemos um pulha na vida. Ainda bem.


Fonte: O Autor
 
Por:  Paulo Coelho    |      Imprimir