Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 11-06-2007

REGRAS DO JOGO DEMOCRÁTICO
O que vem primeiro: o ovo ou a galinha? Qual a diferença entre proibir e não autorizar? A reflexão política às vezes me leva às aulas de Lógica que tive no curso de filosofia...
REGRAS DO JOGO DEMOCRÁTICO

O que vem primeiro: o ovo ou a galinha? Qual a diferença entre proibir e não autorizar? A reflexão política às vezes me leva às aulas de Lógica que tive no curso de filosofia... Todos acusam Hugo Chávez de atentar contra a democracia ao fechar a RCTV, emissora que representava, para o público da Venezuela, mais ou menos o que a TV Globo representa para os brasileiros (bonitinha mas ordinária...). Chávez, por sua vez, alega que não fechou; apenas não concedeu a permissão para continuar aberta... e que fez isso em nome da mesma democracia, uma vez que teria provas de que a tal emissora participara, em 2002, da tentativa de golpe ao seu governo, democraticamente eleito.

O reflexo dessa jogada toda aqui no Brasil também foi bastante falaciosa e contraditória. Líderes no Senado de partidos como os Democratas (nome que, diga-se de passagem, já é um paradoxo em si mesmo, bastando notar-lhe as reminiscências de cacifes que estão por cima desde o regime militar...) pronunciaram-se a respeito, repudiando a atitude do presidente venezuelano. Ainda que a resposta tenha sido de baixo escalão do ponto de vista diplomático, Chávez tem razão ao nos inspirar a pergunta, que ora não quer calar. Quem vê o nosso Legislativo de fora vai mesmo é ficar se perguntando: que moral tem essa gente, toda enrolada em escândalos e mais escândalos de corrupção, para vir querer ensinar a fazer "democracia" no país alheio?

Voltando ao ovo e à galinha, há que se concordar que o presidente Hugo Chávez tem sido fiel representante do socialismo. Em nenhum momento ele tem sido incoerente com aquilo que sempre pregou em campanha. O atual discurso de Hugo Chávez foi o mesmo que o fez presidente de uma república que já não agüentava mais a situação em que se encontrava.

Se o povo venezuelano deu a Chávez o poder executivo, e se esse poder inclui o de dar ou não a concessão de sinal a um canal televisivo, é bem de se esperar que, não ultrapassando o limite da legalidade, esse poder vá tentar calar os que o tentam derrubar. É como imaginar alguém patrocinando um atirador de pedras esquecendo-se de que tem um telhado de vidro. É bem verdade que não se deve ter uma única versão das coisas, um único posicionamento ideológico, uma única forma de pensar a política, pois isso é próprio de um regime ditatorial. Essa é a grande tentação que parece perpassar os governos de origem socialista.

Mas, por outro lado, o que a RCTV e todas as grandes emissoras geralmente fazem, ao utilizar o seu poder de influenciar as massas, não deixa de ser também uma ditadura. Afinal, elas normalmente são propriedades de grandes grupos econômicos e se interessam inevitavelmente em difundir um lado apenas da questão. E na verdade, há uma diferença básica entre direito de livre expressão e manipulação política. Democracia não é todo mundo falando o que quiser, da forma que quiser. Liberdade de expressão não significa expressão livre de regras. E uma das regras elementares é essa: não se pode ser inconseqüente na emissão de opinião; ou seja, devo arcar com as conseqüências das coisas que falo. A TV dizia o que queria: "não queremos você como presidente, e se pudermos, tiraremos você daí". Agora, o presidente responde à altura: "eu também não quero vocês aí; e como eu posso, tirarei vocês do ar!". São as regras do jogo...

Pax tecum
Juliano Ribeiro Almeida

Visitem meu Blog
http://julianoribeiro.blogspot.com



Fonte: O Autor
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir