Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 15-06-2007

A LAGOSTA E O PEROÁ
Num dia desses frios de outono, a Dona Lagosta estava quieta em sua loca, quando passou por ali o Seu Peroá, com a intenção de trocar uma idéias com ela.
A LAGOSTA E O PEROÁ

Num dia desses frios de outono, a Dona Lagosta estava quieta em sua loca, quando passou por ali o Seu Peroá, com a intenção de trocar uma idéias com ela.

"Bom dia, Dona Lagosta", falou o Seu Peroá, tendo ouvido a seguinte resposta: "Bom dia nada, Seu Peroá... ando muito triste com as coisas que andam acontecendo naquela cidadezinha logo ali na frente, que há pouco tempo atrás pulsava de alegria e de vida fervilhante no verão. Só tinha gente bonita e com disposição para gastar dinheiro na praia. Mas nem areia a praia tem mais. Parece que os humanos estão fazendo de tudo para que ela vire uma cidade fantasma."

"Pois á, Dona Lagosta...", falou o Peroá, "dizem que nessa cidade a maioria das pessoas não se preocupa em preservar nada, muito pelo contrário, parece que estão fazendo de tudo para o que há ou havia de bom acabe. Até minha espécie está rareando por essas águas, a Sr.ª não percebe? Esses dias o Sr. Camarão veio me contar que no verão estavam cobrando 20 reais por um peroá frito, acredita?"

"É, seu Peroá... a coisa anda feia mesmo. Eu soube que tem até personagem que foi um dos maiores responsáveis pela míngua da cidade que está pretendendo voltar ao cenário político."

"Mas não é, Dona Lagosta? Fiquei sabendo também. O pior é que, enquanto o atual prefeito fica queimando pestana para arrumar a confusão que alguns dos seus asseclas mais atrapalhados fazem, os baluartes da desinformação e do atraso fazem planos de galgar ao degrau mais alto lá daquele lugar que antes era o Depósito do Roberto."

"Ah um cranco!", falou o Sr. Camarão, que passava pela loca e aderiu à conversa. "Não dá para acreditar que as pessoas que moram nessa cidade ainda acreditam nessas pessoas." "Esses cabruncos já mostraram a que vieram e não dá para acreditar que ainda tem gente que ainda acredita neles."

"Sê bobo, rapaiz....", falou o Peroá. "O que manda nessa cidade é o dinheiro que rola por trás disso tudo. São poucos, quase nada, os que verdadeiramente se preocupam com os rumos que a cidade vem tomando, desde que ela se emancipou daquela outra. Quem conhece essa outra é o Dr. Camarão Pitu, que mora no Rio que passa por lá."

"Ah um câncer pra corroer os imbigo desse povo que quer só sugar o sangue da cidade", falou a Dona Lagosta. "Ta doido, rapaiz... será que ninguém percebe isso não?

"Percebe sim, Dona Lagosta", falou o Peroá. "O problema é que essas vozes estão caladas, preocupadas apenas em sobreviver à margem disso tudo, como se isso fosse possível."

"É verdade...", falou o Camarão. "O problema é que não dá para se colocar do lado de fora dessas questões graves da cidade, como se muros altos fossem suficientes para dizer que isso não é problema deles"

"É... a vida é assim mesmo", disse a Dona Lagosta. A cidade precisa acordar. "Vou citar até um poema de Eduardo Alves da Costa, que erroneamente atribuem a Bertold Brecht e até mesmo a Maiakovski, para ver se ajuda a esses humanos dessa cidade a acordarem antes que seja tarde":

"No Caminho com Maiakovski
Eduardo Alves da Costa

Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada."

Fonte: O Autor
 
Por:  Ronald Mignone    |      Imprimir