Categoria Música  Noticia Atualizada em 25-08-2007

Pato Fu, Djavan e medalhões seguem sem gravadoras
Pato Fu, Djavan e medalhões tocam carreiras sem grandes gravadoras Em tempos de crise, artistas cuidam de promoção, gravação e fabricação de discos. Amado Batista diz já ter vendido 200 mil cópias em negócio próprio.
Pato Fu, Djavan e medalhões seguem sem gravadoras
Foto: http://g1.globo.com

Com a crise no mercado fonográfico brasileiro, artistas de grande e médio porte que antes desfrutavam de uma boa estrutura nas principais gravadoras agora arregaçam as mangas para cuidar de assuntos que vão bem além de compor ou se apresentar ao vivo: é a prática independente tomando cada vez mais espaço.

Pato Fu, Djavan, Amado Batista e Natiruts, que já passaram ou chegaram perto do milhão de cópias em suas carreiras, são alguns dos nomes que agora precisam ter um mínimo de conhecimento sobre questões empresariais.

Marcar shows? Decidir o fabricante de CDs? Negociar com distribuidores? Agendar entrevistas? Imaginar a capa do disco ou como será o visual do clipe? Interagir com fãs? Em maior ou menor grau esses artistas precisam estar muito mais inteirados desses assuntos se comparado ao passado, quando numerosos departamentos eram os responsáveis.

O grupo mineiro Pato Fu, que acabou de lançar o disco "Daqui pro futuro", se diz contente nesta nova fase. O anterior, "Toda cura para todo mal" (2005), já era independente e somente a distribuição estava confiada a uma grande gravadora. "Fazia tempo que a gente não ficava tão animado em um lançamento de um disco", afirma John Ulhoa, o cérebro da banda.

"Nessa indústria que ficou velha as decisões demoram para acontecer. Você fala: 'eu quero fazer isso'. E aí precisa passar por quatro reuniões com uma pessoa que você nunca viu. A indústria está sofrendo com a pirataria, com a internet, mas continua lenta para caramba, com muita gente que não é especialista na área", diz John.

O alagoano Djavan já vai para o seu terceiro disco na independência desde que deixou a Sony - sua gravadora por duas décadas - e fundou a Luanda Records. A diferença em relação a outros artistas é que todas as etapas do processo estão a cargo do cantor - até a distribuição do produto aos lojistas.

Essa estrutura permite alcançar diferentes mercados, algo que não acontecia antes: "Antes, se a Sony de Portugal, por exemplo, não se interessasse no meu disco, não lançava e o prendia, impedindo que outro lançasse. Agora, negociamos país a país. Tem lugar em que vendemos para a Universal, outro para a Sony, outro para a Warner ou mesmo para alguma independente. Estamos livres", contou ao jornal "O Globo", à época de "Vaidade" (2004), o primeiro disco na independência.

"Matizes" será lançado no dia 10 de setembro. Sua assessoria disse que o cantor ainda não está concedendo entrevistas, mas informou que o trabalho, produzido pelo próprio Djavan, sai com 25 mil cópias para as lojas e a R$ 25 como preço sugerido.

E um valor mais adequado à realidade atual do mercado pode fazer a diferença. Amado Batista está vendendo o seu mais recente trabalho, "Perdido de amor", pelos preços de R$ 10 (CD) e R$ 18 (DVD). O "cantor das empregadas" está sendo um dos mais bem-sucedidos entre os novos empreendedores musicais, sendo que o novo disco já passou de 200 mil cópias como lançamento da sua AB Music - por sinal, as iniciais do artista. O disco foi o primeiro após o rompimento com a gravadora Warner.

"O que eu ganhei nesse disco ["Perdido de amor"] é o que eles [a gravadora] me ofereceram para quatro anos", afirma Amado, que já pagou o seu investimento de R$ 400 mil feito para o trabalho em esquema independente. "Claro que me deu muito mais trabalho. Eu tive que pensar no comercial, no marketing..."


Importância da internet

A banda brasiliense Natiruts decidiu deixar a EMI em 2002 logo após o fim do contrato com a gravadora porque os integrantes perceberam que poderiam se garantir na independência. "Já não éramos mais assessorados com toda força pela EMI. Para fazer um trabalho básico, vimos que poderíamos fazer sozinhos", diz o vocalista e guitarrista Alexandre Carlo.

"No entanto, se não tivéssemos uma aceitação tão espontânea das pessoas, seria realmente quase impossível chegarmos a esse nível de popularidade sem o investimento de uma gravadora", pondera o músico, que lançou de forma independente o álbum "Nossa missão" (2005) e o DVD "Natiruts reggae power" (2006).

"Com o avanço tecnológico cada vez mais as pessoas terão acesso a música de forma gratuita na internet", diz. "Acho que é hora de se adaptar a essa realidade e abandonar as antigas fórmulas. Vai ser preciso criatividade daqui pra frente", opina o vocalista, acrescentando que não se incomoda com o fato de as pessoas baixarem as músicas do Natiruts na web.

O rapper carioca MV Bill - autor do projeto "Falcão", que inclui documentário, livro e álbum sobre os meninos do tráfico no Rio de Janeiro - concorda. "Não sei se é uma regra, mas acho que uma banda hoje tem de ser boa de palco. Quem toca bem ao vivo tem mídia espontânea, o caminho do futuro é esse", comenta. "Talvez o CD perca lugar para o DVD, já que une o áudio e o visual."

Bill criou a produtora Chapa Preta para cuidar de todos os seus lançamentos, inclusive de um DVD ao vivo que está prestes a sair. "Hoje me considero um artista privilegiado, colhendo os frutos do que investi. Consegui montar uma estrutura, e é o meu pessoal que faz as coisas para mim", diz. "Tocar muito no rádio não é mais sinônimo de sucesso. O que mais importa é ter credibilidade e levar pessoas aos shows."

por Anderson Del Angelus

www.jussanguinis.com e www.kefra.net

Fonte: http://g1.globo.com
 
Por:  José Rubens Brumana    |      Imprimir