Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 23-09-2007

SINDICATO DE LADRÕES
Você já conhece a resposta à (agora velha) pergunta sobre qual o tormento comum de Bill Clinton, Cebolinha e Renan Calheiros, é claro
SINDICATO DE LADRÕES

Você já conhece a resposta à (agora velha) pergunta sobre qual o tormento comum de Bill Clinton, Cebolinha e Renan Calheiros, é claro. Mas já imaginou o intrépido Renan no cockpit de uma MacLaren? Pois é. O primeiro alagoano na Fórmula 1! "O que une a Fórmula 1 a Renan Calheiros?", você perguntará, entre o incrédulo e o impaciente. "Uma saborosa pizza", responderei eu.

Esses dois eventos – a pizza no Senado e a pizza no tapetão de asfalto – mostram que o mundo não tem mais jeito, mesmo. Com Renan, a culpa foi toda da mídia. Foi a imprensa que o fez enveredar pelo caminho da política. Foi a imprensa, também, que ofereceu a ele dinheiro sob as mais variadas formas em troca de sua influência para que ele enriquecesse de maneira meteórica. Em outras palavras, a culpa da imprensa é, como se diz no reino da loteria animal, do primeiro ao quinto. A imprensa pariu Renan, criou a figura, alimentou-a com dinheiro e influência em tempo recorde, e depois decidiu, num capricho, retirar tudo o que havia dado.

Claro que o rebento haveria de se rebelar e revelar todo o sórdido esquema urdido por uma imprensa tão volátil. Alicerçado por seus sólidos conhecimentos no sindicato de ladrões onde passou a se movimentar com desenvoltura, estava mais do que óbvio que a pizza sairia quentinha, assada a seu – e somente seu – gosto.

Na Fórmula 1, a espionagem ficou sacramentada na troca de e-mails entre o espanhol Fernando Alonso e o colega Pedro de la Rosa a respeito de detalhes técnicos do time rival – e até mesmo a volta exata em que ocorreria a parada dos carros vermelhos numa determinada corrida. Seria chover no molhado repetir que corrida de automóveis é um esporte de equipe, mas de algum modo, não foi isso que o Conselho Mundial encarregado de julgar o caso entendeu. A decisão acabou consagrando a idéia de que é perfeitamente lícito que os pilotos corram "dopados" (nesse caso, abastecidos com informações obtidas ilicitamente) desde que a equipe providencie o "doping" (as informações obtidas ilicitamente) para seus pilotos, e não eles mesmos.

A pizza assada no tapetão de asfalto ficou com sabor semelhante à que foi entregue pelos cozinheiros de Renan Alhonso, no minúsculo senado. O piloto alagoano não apenas tocou rodas com seus pares – entre eles, alguns de seus mais ferrenhos "opositores", que ouviram as provocações caladinhos, sem esboçar reação – como ainda teve o prazer de testemunhar o aviso dado por uma felpuda e caquética raposa a todos os presentes: a prática de crimes de natureza tributária não deve ser considerada uma violação do decoro, pois isso um dia pode se virar contra qualquer um dos integrantes do – pelo visto, agora oficializado – sindicato de ladrões.

Com isso, está aberto o caminho para o campeonato de 2007. Para Renan Alheiros de la Rosa, tudo indica que os outros dois ou três processos por quebra de decoro devem parar na lata do lixo. Para a MacLaren, o título mais vistoso – o do mundial de pilotos – deve parar nas mãos de Lewis Hamilton, a sensação da F-1 atual, ou de seu comparsa Fernando Alonso (que já começa a ser chamado de Dick Vigarista). Não, a comparação aí é com o germânico Michael, não com o alagoano Renan.

Fonte: O Autor
 
Por:  Claudio Lessa    |      Imprimir