Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 23-10-2007

MINHA MíE, DEUS LHE PAGUE
Aquele quarentão, com toda a sua experiência de vida, às vezes se sentia fragilizado, como que querendo “colo” e literalmente parecia que era isso...
MINHA MíE, DEUS LHE PAGUE

Aquele quarentão, com toda a sua experiência de vida, às vezes se sentia fragilizado, como que querendo "colo" e literalmente parecia que era isso mesmo que ele pretendia quando se deparava com momentos tão deprimentes em sua vida.

Aloísio era um tipo que não tinha muito do que reclamar. Três vezes na semana, ele deixava o seu lar e se dirigia ao seu trabalho em outro município, distante a quarenta quilômetros de sua cidade. E aquela rotina na vida de Aloísio era como um ritual.

Levantava pela madrugada e saía em um dos primeiros coletivos ao seu emprego, que lhe garantia "o pão nosso de cada dia". Estabilizado profissional e sentimentalmente, não financeiramente, porque num país de desigualdades sociais, país de "Nicolaus", "Jorginas", "Nahas", José Dirceu" "Renans", "Maluf", alguém tem que ser sacrificado e ser desvalorizado para que outros possam usufruir o melhor. Mas quanto a isso até que ele era um homem resignado sem ser passivo.
Naquela manhã, dentro do ônibus, quando retornava do seu serviço, Aloísio começou a refletir:
"Existe alguém que sofreu muito para que Aloísio chegasse aonde se encontra no momento. Esse alguém lutou muito, aconselhou-o, orientou e sobretudo lhe deu Educação. Como Aloísio lamenta nesse momento em que não pode mais contar com essa pessoa."

Falar de suas angústias, suas tristezas, decepções, alegrias e sucessos. "Oh, meu Deus, por que o Senhor foi ingrato com ela. Eu sei não devia estar lhe questionando sobre isto. Mas, Senhor, por que tanto sofrimento para ela? Ela que tinha saúde, era muito ativa, tentava solucionar os problemas de todos principalmente, os de seus filhos."

Bastava chegar até ela e lhe contar suas dificuldades, suas dúvidas e, prontamente, ouvia e sempre tinha uma palavra de ânimo ou uma orientação precisa e segura.
Aloísio está triste, seu peito dói, a angústia toma conta de todo o seu ser. Ele chora, o seu choro é sem lágrimas. Só o seu interior é que sabe disso, mas mesmo assim sua face o denuncia.

Aloísio olha pela janela a paisagem tão natural que é descortinada. Percebe atentamente as montanhas, o verde dos matos, o céu muito azul e limpo. Ele sabe que Deus não se esqueceu dele nem de sua família, mas a tristeza ainda está instalada no seu ser. Ele queria ouvir a voz daquela que tinha representado tudo para ele, que lhe deu amor, carinho, vida e o incentivava em tudo. Oh! Quanto incentivo ele teve dela. Sempre ela o empurrava para o alto, exaltava suas qualidades, falava de sua capacidade e competência e com um jeito muito especial também lhe falava sobre os seus defeitos e sugeria algo como melhorá-los e grande era a alegria e satisfação na vida de Aloísio.

Aloísio quer "colo", ele sabe que não o terá, mas reconhece e acredita que se hoje é o senhor Aloísio, cidadão honesto e respeitado é porque ela o tornou e na sua mente se materializa o seguinte pensamento de gratidão que maquinalmente ele balbucia: Minha mãe, Deus lhe pague.

Fonte: O Autor
 
Por:  Luiz Antônio Damasceno    |      Imprimir