Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 26-10-2007

A PIZZA DA F-1
Quando eu era adolescente, nada inflamava mais os meus horm�nios � no sentido negativo, diga-se de passagem � do que ler a arrogante express�o �c.q.d.�
A PIZZA DA F-1

Quando eu era adolescente, nada inflamava mais os meus horm�nios � no sentido negativo, diga-se de passagem � do que ler a arrogante express�o "c.q.d." ao final das explica��es dos teoremas no livro de �lgebra, que eu n�o conseguia entender de jeito nenhum. O "como quer�amos demonstrar" era o irrevers�vel atestado de que, para mim, n�o havia salva��o. Para mexer com n�meros e com a l�gica imposta por eles, eu era a mais completa nulidade.

Entretanto, a vida continua, o mundo gira, a Lusitana roda, outros sentidos afloram, e a gente acaba aprendendo por outros caminhos. Justamente por minha pedra n�o ser a ametista nem minha cor o amarelo, � que sem a arrog�ncia do "como quer�amos demonstrar" lembro a quem l� a coluna regularmente: voc� n�o deve estar surpreso(a), de forma alguma, com o resultado do campeonato mundial de F�rmula 1 de 2007. Kimi Raikkonen, o hom�nculo de gelo, levou a corrida e a ta�a com a cara de sempre, de quem chegou em d�cimo lugar na prova com os quatro pneus furados.

Foi aqui, h� dois domingos, no espa�o que me � reservado todas as semanas, que sugeri: o fermento oculto na pizza assada pela FIA durante o imbroglio jamesbondiano Ferrari-MacLaren seria o castigo supremo para a MacLaren: apesar de manter os pontos de seus pilotos na disputa pelo mundial � uma irracionalidade, visto que eles eram os principais benefici�rios do esquema de espionagem �, os brit�nicos teriam que abrir espa�o de alguma forma, por mais teatral que f�sse, ao melhor estilo do teatro de Shakespeare, para que a Ferrari f�sse devidamente compensada. Assim, o campeonato seria encerrado com muita expectativa, recordes de bilheteria, audi�ncia de tev� nas alturas e com a necess�ria preserva��o da imagem da disputa como sendo algo l�cito, sem marmelada. E� convehamos: ficaria muito feio cortar os pontos de Hamilton e Alonso a meio caminho andado quando este se revelava o mas disputado campeonato mundial de F-1 dos �ltimos anos.

Entretanto, o ato de "estacionar" o carro na brita na entrada dos boxes na corrida anterior, por parte de Hamilton � uma atitude absolutamente n�o-caracter�stica de sua habilidade natural e n�vel de compet�ncia profissional adquirido � foi a marca indel�vel de que vinha coisa pela frente.

Assim foi scriptado, e assim foi executado. Em Interlagos, come�ou havendo u�a misteriosa "falha eletr�nica" no carro de Hamilton, que teve que dar o boot no sistema com o carro andando para poder fingir que se mantinha no jogo. J� o carro de Alonso n�o foi abastecido com o combust�vel fornecido com sua costumeira dose de Viagra, o que deixou o espanhol zanzando pela pista como um zumbi, ainda que ele tenha chegado em terceiro para manter a credibilidade do roteiro previamente tra�ado.

Quando se configurou a pantomima na MacLaren, executou-se a segunda parte da trama. Felipe Massa, que n�o apenas fez a pole como deu show do come�o ao fim e n�o teria perdido a corrida de jeito nenhum, foi trazido aos boxes para que Raikkonen desse suas voltas voadoras e se mantivesse em primeiro, mesmo entrando nos boxes para reabastecimento e troca de pneus. Vamos e venhamos: desta vez, fazia sentido. Era o tudo ou nada, era a �ltima corrida do ano, e era � acima de tudo � o supremo teste de companheirismo e de esp�rito de equipe para quem assinou um contrato com a Ferrari at� 2010. N�o era uma quest�o de privilegiar um piloto sobre outro, sem motivo. Massa j� estava fora da disputa pelo t�tulo. Raikkonen, n�o. Ainda tinha alguns dedos na ta�a, e de uma forma "limpa" acabou com as duas m�os sobre ela.

O jogo de equipe foi justificado e a pizza deixou todo mundo feliz, de barriga cheia. Agora, � desligar os motores e esperar as "emo��es" reservadas para 2008. Arrivederci!

Fonte: O Autor
 
Por:  Claudio Lessa    |      Imprimir