Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 08-11-2007

IGNORÂNCIA GEOGRÁFICA
Engraçado. Durante a semana, pensei em escrever algo sobre a incompetência oficial na área do transporte aéreo - sempre evidente, mas assunto de muito pouca expressão
IGNORÂNCIA GEOGRÁFICA

Engraçado. Durante a semana, pensei em escrever algo sobre a incompetência oficial na área do transporte aéreo - sempre evidente, mas assunto de muito pouca expressão até que dois aviões gigantes se espatifaram - um, na lúgubre floresta amazônica**; outro, no fim da pista de um minúsculo porta-aviões cercado por uma cidade.

A confusão que tomou conta do setor aeronáutico brasileiro e perdura até agora - afinal, não há setor que resista a Zuanazzis e Jobins - foi destaque durante a semana porque um passageiro qualquer perdeu inúmeras horas ao fazer as conexões Recife- Rio-Miami. O que era para ser uma viagem corriqueira, ainda que desconfortável, tornou-se uma verdadeira odisséia, na qual o passageiro, se disposição tivesse, teria tido tempo para ler "Guerra e Paz" umas duas vezes, calmamente.

Foi aí que me ocorreu a lembrança da "síndrome de segunda classe" vivida pela suposta elite brasileira. De um lado, os empresários choram a baixa do dólar, mas eu afirmo que Deus é Pai, e que a mão invisível do mercado - mais dia, menos dia - vai trazer dólar e real ao mesmo patamar na marra, sem bravatas, nem decretos, nem medidas provisórias. De outro, ainda incapazes de olhar para a experiência de outros países - especialmente o vizinho mais bem- sucedido, os EUA, se sentem confortáveis com apenas dois grandes hubs na aviação, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro. O resto do país - inclusive o recifense acima - que se dane.

E foi aí, para repetir a expressão mais uma vez, em cima de tudo isso, que me chega em casa a notícia de que em matéria de conhecimentos geográficos, os brasileiros são de uma ignorância estelar, e por isso mesmo já perderam o direito de gozar dos americanos. Ficou claro, também, que essa ignorância - fruto em boa parte da MacEducação instituída no Brasil de hoje - atinge os mais velhos, como a pretensa elite que finge governar o fazendão.

Se se dessem conta da realidade e das potencialidades (já em fase de realização) do salto que se observa em diversos setores de serviços, inclusive o do aerotransporte, as ôtôridade responsáveis por regulamentar o funcionamento de setores como o da aviação comercial já teriam determinado, encorajado, sugerido, obrigado (use o termo que mais lhe convier) as empresas a criar hubs em outras cidades brasileiras, desafogando o tráfego e acabando com o pesadelo das conexões mal resolvidas.

A distância de Recife ao Rio de Janeiro é de aproximadamente mil e oitocentos quilômetros. De Recife a Miami, é de aproximadamente seis mil quilômetros. Não é preciso ser um gênio para entender que viajar mil e oitocentos quilômetros no sentido inverso para depois viajar mais mil e oitocentos quilômetros até o local original de partida para então seguir viagem para o destino seis mil quilômetros adiante é uma perda de tempo, dinheiro, combustível, paciência - além de ser uma prova de imbecilidade de quem criou e mantém esse tipo de sistema. Aliás, imbecilidade ou são certas malas que circulam pelos céus de anil que mantêm o status quo?

O Brasil está mais de vinte anos atrasado na questão dos hubs. Recife é apenas um exemplo. Natal, Fortaleza, Brasilia e Salvador, entre outras cidades estrategicamente posicionadas no mapa (ainda que a pesquisa do instituto Ipsos revele que a população e, pelo visto, nem as ôtôridade saibam onde ficam) resolveriam diversos problemas dos viajantes, das empresas, e do próprio país (leia-se "governo", que daria novo impulso a mais pólos de turismo).

**Não quis interromper o fluxo do texto, mas persistem as questões paralelas: se ninguém viu o avião se esborrachar no meio da mata, ele fez barulho? Se ninguém ouviu os gritos de dor e desespero dos malfadados passageiros, quer dizer que eles não sofreram?

Fonte: O Autor
 
Por:  Claudio Lessa    |      Imprimir