Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 20-11-2007

HUGO CHÁVEZ E OS CRISTíOS
A Igreja Católica não é uma democracia, diga-se de uma vez. A Igreja não acredita que "a voz do povo é a voz de Deus", e...
HUGO CHÁVEZ E OS CRISTíOS

A Igreja Católica não é uma democracia, diga-se de uma vez. A Igreja não acredita que "a voz do povo é a voz de Deus", e a história de Israel, "povo de dura cerviz", mostra isso. A hierarquia católica não foi simpática à derrocada da monarquia na Europa, nem às proclamações das repúblicas modernas, que significaram o crescimento do secularismo dos Estados. Porém, no século XX, essa mesma Igreja desenvolveu sua Doutrina Social e se colocou decididamente do lado dos processos democráticos, sendo voz de inúmeros anseios dos povos pelo fim dos autoritarismos e ditaduras militares. Hoje, a Igreja Católica é reconhecidamente uma organização que fomenta a reflexão sobre o processo democrático e zela pela moralização das instituições republicanas.

A América Latina, nesta primeira década do século, vem se modificando profundamente na sua política" mais que em sua economia" no que diz respeito à elevação ao poder de figuras representativas das bases, advindas das esquerdas. Brasil, Equador, Chile e alguns outros governos vêm se evidenciando no cenário internacional como contestadores (ainda que como "fogo amigo") da antiga ideologia imperialista estadunidense, mas é na Venezuela que a situação tem sido mais paradigmática. Para fazer frente às doutrinações colonialista, capitalista e neoliberal, que nos legaram séculos de atraso no desenvolvimento e exploração na cultura e economia, Hugo Chávez se apresenta como um ícone do levante latino-americano e da afirmação da "vontade popular". Declaradamente seguidor das idéias de Simón Bolívar, líder revolucionário que entre os séculos XVIII e XIX lutou pela independência dos povos da América do Sul, Chávez usa e abusa, sem escrúpulos, de sua condição de militar, identifica sem medo o projeto de reconstrução da Venezuela com suas convicções socialistas, escancara com deboche e certa arrogância a sua ojeriza a tudo o que lembra a monarquia e o capitalismo.

Hugo Chávez vem recebendo forte oposição da Igreja Católica na Venezuela, primeiramente por causa de suas idéias socialistas, já que o catolicismo e o comunismo nunca se deram; mas sobretudo por causa das atitudes radicais que vem tomando: não renovou a concessão do maior canal televisivo do país por considerá-lo traidor da revolução, modificou as cartilhas escolares para implantar outra versão da história da América, está há nove anos no poder e planeja modificar a Constituição para permanecer por mais tempo etc. Recentemente, Chávez enfrentou até mesmo o Papa, ao criticar duramente seu discurso em Aparecida no qual afirmou que o Evangelho trazido para a América nunca incentivou a exploração.

O presidente Chávez é, de fato, um risco à democracia pensada como estamos acostumados a pensá-la, ou seja, do ponto de vista das nações ricas; mas é um risco muito maior à política de dominação que as nações ricas vêm empreendendo na América Latina como se fosse "colaboração". Chávez, até mesmo ao exagerar com a ideologia socialista, nos ajuda a perguntar: por que não nos revoltamos contra a ideologia capitalista ? Ao ensaiar uma verdadeira ditadura marxista, ele deve nos fazer pensar: por que não temos medo da ditadura neoliberal ? Ao sermos prudentes com Chávez, não podemos esquecer de sê-lo muito mais com Bush, este sim, um perigo mundial, líder de um projeto explorador que já assassinou centenas de milhares de pessoas pelo mundo em nome da civilização e da paz à la Tio Sam.

Para nós, cristãos, continua atual a velha pergunta: o que é melhor? uma ditadura com justiça social ou uma democracia com privilégios para poucos? Como eliminar o que há de pior nas duas opções?

Autor: Juliano Ribeiro Almeida

Fonte: O Autor
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir