O PAC da Copa tem tudo para dar certo, o que nos faz pensar como seria bom tamb�m ter um PAC para os hospitais p�blicos...
Foto: Paulo Ara�jo O domingo do dia 25 de novembro tinha tudo para ser um domingo de festa. O
Esporte Clube Bahia, uma das maiores torcidas do Nordeste, tinha finalmente a
chance de subir para a segunda divis�o.
Precisava apenas de um empate contra o Vila Nova de Goi�s e o jogo era em
Salvador. N�o precisa nem dizer que os baianos lotaram o arcaico est�dio da
Fonte Nova para empurrar seu time e subir junto com ele para o segundo escal�o
da elite do futebol brasileiro.
O Bahia subiu, mas 12 torcedores ca�ram. Ca�ram sem que �rbitros, jogadores,
jornalistas e nem sequer a maior parte da torcida percebesse. Ca�ram de uma
altura de 25 metros por causa de um buraco de 4 metros de comprimento por 70
cent�metros de largura que se abriu no anel superior do est�dio.
O Bahia subiu e, ao final do jogo, torcedores invadiram o campo para comemorar
sem nada saber da trag�dia que meia hora depois seria anunciada. Depois disso, a
festa transformou-se em luto. Dos doze que ca�ram, seis morreram na hora, um n�o
resistiu aos ferimentos e sucumbiu enquanto era atendido e cinco escaparam
milagrosamente.
O que aconteceu afinal? Infelizmente mais um descaso na hist�ria desse pa�s que
ser� sede da Copa do Mundo de Futebol, l� adiante, em 2014. O Est�dio da Fonte
Nova, como tantos outros espalhados por esse pa�s, estava em peti��o de mis�ria.
A medi��o de sua estrutura � vergonhosa. Entre 2002 e 2003, medi��es feitas com
sism�grafos descobriram que quando a torcida pulava, abalava o concreto das
arquibancadas. O p�blico passou a ser limitado a 60.000 pessoas, pouco mais da
metade da capacidade original. Isso n�o bastava, para garantir a seguran�a dos
torcedores era preciso gastar 50.000 reais por m�s na manuten��o estrutural da
"Fonte Velha".
O Est�dio pertence ao governo estadual, da� come�a a ficar mais f�cil entender
os porqu�s do buraco fatal. Em 2006, por exemplo, o governo gastou apenas 10%
desse valor. No come�o deste ano, a Fonte Velha estava t�o deteriorada que o
governo interditou 75% dos lugares, porque peda�os de cimento da arquibancada
superior ca�am sobre os torcedores das cadeiras inferiores.
Toda a arma��o de concreto precisava ser reparada, mas foram feitos somente uns
remendos, algo parecido assim com o "tapa-buraco" das nossas estradas. Uma m�o
de tinta depois, o est�dio foi inteiramente liberado.
O governo baiano n�o tomou nenhuma provid�ncia, pois n�o queria interditar o
est�dio para n�o prejudicar a campanha do Bahia e irritar seus torcedores.
Jaques Wagner, governador da Bahia, simplesmente n�o sabia o que fazer com o
est�dio.
Salvador � candidata a ser uma das sedes da Copa de 2014 e precisa ter um
est�dio decente para ser confirmada. Na cruel d�vida entre implodi-lo e
construir um novo em seu lugar ou apenas reform�-lo e erguer um campo novo para
a Copa em uma �rea afastada, o governador nada fez at� o momento em que a
arquibancada ruiu.
Vejam s� a que ponto chegamos na hist�ria desse pa�s: a trag�dia pode at� ter
sido um al�vio para a grande d�vida do governador. Agora ficou f�cil, � s�
demolir aquele trambolho e construir um novo com todas as modernidades impostas
pela FIFA.
Sem puni��o nenhuma para os respons�veis pelo descaso; ali�s, demolir parece que
virou moda. No Par� uma mo�a menor foi presa numa cela repleta de homens e
depois de ser estuprada a bel prazer pelos marmanjos at� o momento em que saiu
na imprensa, a �nica decis�o concreta at� agora foi a de demolir a cadeia.
Simples, n�o �? Ao inv�s de punir os culpados, demole-se as constru��es. Um PAC
ao inverso, ou, se preferirem, um PAD, Plano de Acelera��o da Demoli��o.
Enganam-se os que pensam que esse tipo de trag�dia � exclusividade dos baianos.
Al�m da Fonte Nova, o Sinaenco" Sindicato das Empresas de Arquitetura e
Engenharia Consultiva avaliou a situa��o de outros 26 est�dios situados nas
capitais candidatas a sediar jogos da Copa.
Nenhum deles coloca os torcedores em risco, mas a maior parte precisa ser
reformada para que possa ser usada em 2014, mesmo que seja s� para treinos das
sele��es. Vejamos a situa��o de apenas tr�s.
O Serra Dourada, em Goi�nia, inaugurado em 1975 e com capacidade para 50.000
torcedores apresenta seis pilares e vigas de sustenta��o com muitos pontos de
corros�o e diversas �reas da estrutura de concreto danificadas por infiltra��es.
J� o Mineir�o, em Belo Horizonte, inaugurado em 1965, com capacidade para 75.000
pessoas, apresenta pontos de corros�o em fase inicial na estrutura do anel
superior e tamb�m sofre com infiltra��es.
Quanto ao Morumbi, em S�o Paulo, inaugurado em 1960, com capacidade para 73.000
pessoas, embora bem conservado, tamb�m apresenta corros�o na laje superior do
anel superior, com exposi��o do a�o do concreto armado que sustenta as
arquibancadas.
Nada disso, no entanto, deve ser problema porque, embora o presidente da CBF
esteja garantindo que n�o ser� usado dinheiro p�blico para reformas e constru��o
de est�dios, podemos prever o lan�amento de um PAC para a Copa. Assim,
chegaremos em 2014 com est�dios confort�veis, seguros e modernos nas cidades
onde ser�o disputados os jogos enquanto que no resto do pa�s os torcedores ter�o
que conviver com a incerteza se devem ou n�o pular para comemorar um gol sem
correr o risco de o est�dio desmoronar.
O PAC da Copa tem tudo para dar certo, o que nos faz pensar como seria bom
tamb�m ter um PAC para os hospitais p�blicos, para as escolas e at� para os
esgotos. Sim, porque no dia em que saiu a not�cia de que o Brasil ingressara no
pelot�o dos pa�ses desenvolvidos e, segundo o nosso presidente, virara um pa�s
"chique", saiu tamb�m a not�cia de que todos os brasileiros ter�o esgoto s�
daqui a 115 anos.
� f�cil entender por que, aconselho at� a leitura da cr�nica "Vala negra, m�e
gentil", de Andr� Petry, na revista VEJA desta semana. Como ele diz, "as v�timas
preferenciais da falta de esgoto s�o mulheres gr�vidas e crian�as de 1 a 6 anos.
Mulheres n�o comandam o voto em casa. Crian�as n�o votam. Esgoto � obra que,
correndo por baixo da terra, n�o se v�. Pol�tico n�o gosta de obra invis�vel que
atende gente que n�o vota.
A faixa et�ria mais atendida por esgoto no pa�s � a que vai dos 50 aos 54 anos.
Eleitores em plena forma. A menos atendida � a de zero a 4 anos. Eleitores
long�nquos".
S� para finalizar, existe um outro PAC que tamb�m vem fazendo muito sucesso. O
Plano para Ajeitar um Companheiro, o famoso trem da alegria de cargos de
confian�a e empregos afins no servi�o p�blico.
"¿Por qu� no te callas?"
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Fonte: O Autor
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