Categoria Educa�ão  Noticia Atualizada em 01-01-2008

Idosas desafiam o tempo e voltam a estudar
Mulheres na 'melhor idade' resolveram estudar e est�o se saindo bem
Idosas desafiam o tempo e voltam a estudar
Foto: AFP

Cursar uma faculdade � principal objetivo da maioria dos jovens, principalmente porque o diploma � um dos requisitos para a inser��o no mercado de trabalho. Para essas quatro mulheres, no entanto, a situa��o � bem diferente. Todas na chamada "melhor idade", elas resolveram estudar simplesmente para realizar um sonho ou para alcan�ar uma satisfa��o pessoal.

A �nica coisa que faltou foi o est�gio

Benedicta S�nia de Campos Oliveira Paes, 80, est� no quinto ano do curso de direito na Pontif�cia Universidade Cat�lica de Campinas (PUC-Campinas).

Como casou-se muito nova, parou de trabalhar como t�cnica cont�bil para cuidar do filho e de tr�s irm�s mais novas depois que sua m�e morreu. Proporcionou estudo para todos eles e aos 72 anos achou que era hora de correr atr�s de um antigo sonho, que teve que deixar para tr�s: prestou faculdade para o curso de direito e passou na primeira chamada.

"Decidi estudar porque nunca fiz faculdade. Como eu morava perto do cursinho, n�o tive dificuldades. Aproveitei que a minha nora era estudante e me inscrevi para as aulas junto com ela. Prestei o vestibular na PUC-Campinas e fui aprovada na primeira chamada. Foi um presente dos c�us", disse.

Segundo dona Benedicta, o mais dif�cil da gradua��o foi ter de trancar matr�cula por um per�odo por problemas de sa�de e depois n�o conseguir est�gio para complementar o curso.

"Tudo para mim era novidade, mas eu me habituei � rotina dos jovens estudantes. Tamb�m fui muito bem aceita pelos colegas e professores. A �nica coisa que n�o consegui fazer foi est�gio, nenhum escrit�rio me aceitou, embora eu tenha me candidatado v�rias vezes. Acho que por isso perdi uma parte importante do aprendizado do direito, mas faz parte do processo", contou.

No final deste ano, Benedicta defendeu a monografia de conclus�o de curso e alcan�ou nota 9. "Fiquei realizada. Agora s� faltam tr�s disciplinas para eu me formar e vou curs�-las em 2008", disse. Ap�s terminar a gradua��o, dona Benedicta n�o pensa em parar de estudar. "Pretendo prestar o exame da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] e fazer uma especializa��o em direito civil", afirmou a estudante.

Sou uma fortaleza

Formada em pedagogia e aposentada desde 1974, a mineira Elisa de Castro Tito, 90, decidiu voltar a estudar e conseguiu: prestou vestibular para o curso de direito na Faculdade Arnaldo Jansen, em Belo Horizonte, e foi aprovada. Ela j� se matriculou e voltar� para a sala de aula em fevereiro de 2008.

"A in�rcia nos leva � falta de disposi��o, falta de vontade de viver. Eu leio jornais, revistas, estou sempre em atividade. Desde que me aposentei eu me dedico �s artes, fa�o aulas de croch�, cer�mica, porcelana. N�o podemos viver no marasmo, isso n�o nos acrescenta nada. Por isso, decidi procurar uma outra ocupa��o e quis voltar a estudar", disse.

Quando decidiu se inscrever no vestibular, Elisa s� contou para um dos netos e pediu que ele guardasse segredo. "A fam�lia toda s� soube quando saiu o resultado e eu disse que estava aprovada. Foi uma euforia quando eu contei".

Questionada sobre como vai lidar com a diferen�a de idade entre ela e os demais estudantes, Elisa afirmou que n�o se preocupa com isso. "Eu vou enfrentar o desafio. J� trabalhei com adolescentes porque eu era diretora de escola e o aprendizado foi muito bom. Quero levar o conv�vio numa boa e acho que estou � altura deles", afirmou a nova estudante, que tem nove filhos, 22 netos e tr�s bisnetos.

Elisa disse que j� comprou uma mochila e que est� preparada para a volta �s aulas. "S� n�o vou participar dos 'chopinhos' com a turma porque n�o gosto. Minha sa�de est� �tima, minha press�o tamb�m, n�o tenho nada no cora��o. Sou uma fortaleza", disse.

Em busca do sonho de ser universit�ria

Nascida em Quebrangulo, no sert�o de Alagoas, terra de Graciliano Ramos, a dona de casa Eliete Soares Calixto, 88, conhecida como dona Nina, teve uma inf�ncia complicada e por isso s� cursou dois anos do ensino fundamental: a segunda e a quarta s�rie.

Parou de estudar muito nova e depois que se casou, n�o p�de mais pensar nos estudos, pois o marido n�o queria que ela sa�sse de casa. M�e de tr�s filhos, seis netos e tr�s bisnetos, ela tinha que se dedicar aos afazeres dom�sticos.

Apesar da proibi��o do marido, dona Nina se matriculou num curso de supletivo para terminar o 1� e o 2� grau e freq�entava as aulas escondida dele. Dizia que ia visitar amigas doentes. "Ele achava ruim, mas eu me esfor�ava. Teve um per�odo que eu tinha que estudar sozinha em casa porque n�o dava mais para ir �s aulas", conta.

S� seis anos depois de ficar vi�va � que a dona de casa conseguiu realizar o sonho de prestar vestibular. "Meus filhos e netos me apoiaram. Prestei o curso de hist�ria na Faculdades Integradas Abeu, em Nil�polis [Rio de Janeiro] fiquei em s�timo lugar", conta orgulhosa. O �nico problema � que dona Nina n�o sabe se conseguir� cursar. "A mensalidade custa cerca de R$ 300. N�o sei se conseguirei pagar", disse.

Uma satisfa��o pessoal

Jorgina C�lia Corr�a Bertocco, 60, que mora em Presidente Prudente, no interior de S�o Paulo, est� indo para o quarto ano de arquitetura e urbanismo na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Casada e m�e de quatro filhos, ela � formada em matem�tica e pedagogia, mas desde crian�a sonhava em ser arquiteta. Como o curso era integral e em outra cidade, n�o teve como cursar.

Para entender um pouco da �rea, fez o curso de design de interiores pelo Senai. Quando soube que a Unesp abriria o curso de arquitetura e urbanismo em Presidente Prudente, n�o pensou duas vezes e decidiu voltar a estudar.

"Surgiu a oportunidade e eu pensei: agora � a hora. Prestei no meio do ano e n�o passei. A� me preparei melhor e prestei novamente no final do ano e passei. Essa � uma realiza��o pessoal que estou cumprindo, � o que eu sempre quis fazer. Estou completamente realizada", disse a estudante, que pretende trabalhar na �rea depois de formada.

Jorgina teve de trancar um ano de curso por causa de problemas de sa�de, mas isso n�o a desanimou. Segundo ela, a recep��o em sala de aula sempre foi muito boa, apesar da diferen�a de idade. "Eu sou a mais velha da turma, mas n�o tenho problema nenhum com isso. At� para fazer trabalho em grupo sempre foi f�cil", disse.

E Jorgina n�o parou por a�. Ao mesmo tempo que cursava arquitetura, ela e o marido resolveram estudar l�ngua espanhola na Unesp, em um curso voltado para alunos da terceira idade. As aulas eram uma vez por semana e duraram tr�s anos. A cola��o de grau foi no dia 7 de dezembro. "Eu gosto muito de estudar e estou muito feliz. Agora, com esse diploma, posso dar aulas de espanhol", contou.

Idosas desafiam o tempo e voltam a estudar.

Fonte:

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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir