Categoria Educação  Noticia Atualizada em 01-01-2008

Idosas desafiam o tempo e voltam a estudar.
Mulheres na 'melhor idade' resolveram estudar e estão se saindo bem. Aos 90 anos, dona Elisa vai começar a fazer faculdade de direito
Idosas desafiam o tempo e voltam a estudar.
Foto: Ricardo Lima

Cursar uma faculdade é principal objetivo da maioria dos jovens, principalmente porque o diploma é um dos requisitos para a inserção no mercado de trabalho. Para essas quatro mulheres, no entanto, a situação é bem diferente. Todas na chamada "melhor idade", elas resolveram estudar simplesmente para realizar um sonho ou para alcançar uma satisfação pessoal.

Foram separadas quatro histórias diferentes acompanhe:

Como casou-se muito nova, parou de trabalhar como técnica contábil para cuidar do filho e de três irmãs mais novas depois que sua mãe morreu. Proporcionou estudo para todos eles e aos 72 anos achou que era hora de correr atrás de um antigo sonho, que teve que deixar para trás: prestou faculdade para o curso de direito e passou na primeira chamada.

"Decidi estudar porque nunca fiz faculdade. Como eu morava perto do cursinho, não tive dificuldades. Aproveitei que a minha nora era estudante e me inscrevi para as aulas junto com ela. Prestei o vestibular na PUC-Campinas e fui aprovada na primeira chamada. Foi um presente dos céus", disse.

Segundo dona Benedicta, o mais difícil da graduação foi ter de trancar matrícula por um período por problemas de saúde e depois não conseguir estágio para complementar o curso.

"Tudo para mim era novidade, mas eu me habituei à rotina dos jovens estudantes. Também fui muito bem aceita pelos colegas e professores. A única coisa que não consegui fazer foi estágio, nenhum escritório me aceitou, embora eu tenha me candidatado várias vezes. Acho que por isso perdi uma parte importante do aprendizado do direito, mas faz parte do processo", contou.

No final deste ano, Benedicta defendeu a monografia de conclusão de curso e alcançou nota 9. "Fiquei realizada. Agora só faltam três disciplinas para eu me formar e vou cursá-las em 2008", disse. Após terminar a graduação, dona Benedicta não pensa em parar de estudar. "Pretendo prestar o exame da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] e fazer uma especialização em direito civil", afirmou a estudante.

Sou uma fortaleza

"A inércia nos leva à falta de disposição, falta de vontade de viver. Eu leio jornais, revistas, estou sempre em atividade. Desde que me aposentei eu me dedico às artes, faço aulas de crochê, cerâmica, porcelana. Não podemos viver no marasmo, isso não nos acrescenta nada. Por isso, decidi procurar uma outra ocupação e quis voltar a estudar", disse.

Quando decidiu se inscrever no vestibular, Elisa só contou para um dos netos e pediu que ele guardasse segredo. "A família toda só soube quando saiu o resultado e eu disse que estava aprovada. Foi uma euforia quando eu contei".

Questionada sobre como vai lidar com a diferença de idade entre ela e os demais estudantes, Elisa afirmou que não se preocupa com isso. "Eu vou enfrentar o desafio. Já trabalhei com adolescentes porque eu era diretora de escola e o aprendizado foi muito bom. Quero levar o convívio numa boa e acho que estou à altura deles", afirmou a nova estudante, que tem nove filhos, 22 netos e três bisnetos.

Elisa disse que já comprou uma mochila e que está preparada para a volta às aulas. "Só não vou participar dos 'chopinhos' com a turma porque não gosto. Minha saúde está ótima, minha pressão também, não tenho nada no coração. Sou uma fortaleza", disse.

Em busca do sonho de ser universitária

Parou de estudar muito nova e depois que se casou, não pôde mais pensar nos estudos, pois o marido não queria que ela saísse de casa. Mãe de três filhos, seis netos e três bisnetos, ela tinha que se dedicar aos afazeres domésticos.

Apesar da proibição do marido, dona Nina se matriculou num curso de supletivo para terminar o 1º e o 2º grau e freqüentava as aulas escondida dele. Dizia que ia visitar amigas doentes. "Ele achava ruim, mas eu me esforçava. Teve um período que eu tinha que estudar sozinha em casa porque não dava mais para ir às aulas", conta.

Só seis anos depois de ficar viúva é que a dona de casa conseguiu realizar o sonho de prestar vestibular. "Meus filhos e netos me apoiaram. Prestei o curso de história na Faculdades Integradas Abeu, em Nilópolis [Rio de Janeiro] fiquei em sétimo lugar", conta orgulhosa. O único problema é que dona Nina não sabe se conseguirá cursar. "A mensalidade custa cerca de R$ 300. Não sei se conseguirei pagar", disse.

Uma satisfação pessoal

Jorgina Célia Corrêa Bertocco, 60, que mora em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, está indo para o quarto ano de arquitetura e urbanismo na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Casada e mãe de quatro filhos, ela é formada em matemática e pedagogia, mas desde criança sonhava em ser arquiteta. Como o curso era integral e em outra cidade, não teve como cursar.

Para entender um pouco da área, fez o curso de design de interiores pelo Senai. Quando soube que a Unesp abriria o curso de arquitetura e urbanismo em Presidente Prudente, não pensou duas vezes e decidiu voltar a estudar.

"Surgiu a oportunidade e eu pensei: agora é a hora. Prestei no meio do ano e não passei. Aí me preparei melhor e prestei novamente no final do ano e passei. Essa é uma realização pessoal que estou cumprindo, é o que eu sempre quis fazer. Estou completamente realizada", disse a estudante, que pretende trabalhar na área depois de formada.

Jorgina teve de trancar um ano de curso por causa de problemas de saúde, mas isso não a desanimou. Segundo ela, a recepção em sala de aula sempre foi muito boa, apesar da diferença de idade. "Eu sou a mais velha da turma, mas não tenho problema nenhum com isso. Até para fazer trabalho em grupo sempre foi fácil", disse.

E Jorgina não parou por aí. Ao mesmo tempo que cursava arquitetura, ela e o marido resolveram estudar língua espanhola na Unesp, em um curso voltado para alunos da terceira idade. As aulas eram uma vez por semana e duraram três anos. A colação de grau foi no dia 7 de dezembro. "Eu gosto muito de estudar e estou muito feliz. Agora, com esse diploma, posso dar aulas de espanhol", contou.

Fonte:

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Por:  Giulliano Maurício Furtado    |      Imprimir