" Os democratas assumem uma postura mais
negativa em relação a esta abertura para
poder conquistar o apoio dos sindicatos
trabalhistas dessas regiões agrícolas",
disse. Como os republicanos têm naturalmente
um discurso mais protecionista, os
democratas acabam deixando de ser um
contraponto para poderem se fortalecer
eleitoralmente.
Alavanca
Segundo Fishlow, esta postura está
presente especialmente nas primárias. Para
ele, Iowa e o estado que sedia a segunda
primária, New Hampshire, são pouco
relevantes eleitoralmente, "mas acabam tento
uma enorme influência no processo eleitoral.
Eles são o início do processo que vai acabar
definindo o próximo presidente."
Sotero diz que a relevância dessa primeira
primária é que ela pode alavancar
candidaturas, e pôr em evidência algum
candidato que aparecia com menos força e
definir a forma como os eleitores democratas
e republicanos se comportam nas primárias
seguintes.
Tudo
pelas primárias
Para defender seu interesse político, que
é agradar o eleitor de Iowa e assim
fortalecer toda a pré-candidatura, os
pré-candidatos acabam comprometendo suas
campanhas inteiras e todo o projeto
político, mesmo se eleito, explicou Sotero.
" Quando chegam em Iowa, muitos
pré-candidatos assumem posições nas quais
sequer acreditam. A senadora democrata
Hillary Clinton, por exemplo, se não tivesse
que passar por Iowa, teria posições públicas
bem mais simpáticas de apoio ao etanol
brasileiro, bem como uma liberalização da
compra do etanol nos EUA", disse.
A força
de Iowa
A força que Iowa, por ser a primeira
prévia, pode dar à campanha dos
pré-candidatos é tanta, segundo Sotero, que
toda a política norte-americana poderia ser
diferente, caso outro estado iniciasse o
processo eleitoral.
"Se as primárias começassem na
Califórnia, que é o maior colégio eleitoral
dos EUA (e por conseqüência trará mais votos
na contagem final ao candidato que vencer no
estado), teríamos um quadro oposto, e todos
estariam fazendo barulho em favor de uma
maior abertura do país para biocombustíveis
e até mesmo a taxação para combustíveis
fosseis", disse.
Segundo ele, é uma simples questão de
tradição que faz com que o estado inicie o
processo. "Há 20 anos, ninguém dava atenção
a Iowa. Isso começou a acontecer porque a
política se torna cada vez mais um show
midiático, e os candidatos passaram a se
concentrar para explorar cada vez mais a
mídia."
Brasil-EUA
Os dois acadêmicos ouvidos pelo
G1 ecoam as pesquisas que apontam
vantagem democrata na corrida presidencial,
e analisaram também o futuro das relações
entre o país e o Brasil com a mudança na
Casa Branca.
" As relações Brasil-EUA, que andam bem desde
Fernando Henrique Cardoso, são, em grande
parte, influenciadas pela questão comercial
entre os dois países. Estamos engalfinhados
numa disputa séria por causa da prática
obviamente abusiva de concessão de subsídios
agrícolas dos EUA. O maior fazendeiro do
país é o Tesouro, através de subsídios",
explicou Sotero.
Para o professor de Columbia, por mais que o
tom protecionista se espalhe por todo o
Partido Democrata, o senador John Edwards é
o que mais se destaca em sua posição
contrária a uma maior abertura.
"Barack Obama sugere um pensamento futuro
de maior integração, e Hillary Clinton acaba
não se comprometendo com nenhuma abertura,
mas Edwards é o que tem postura mais
negativa para a visão brasileira", disse
Fishlow.