Categoria Tragédia  Noticia Atualizada em 12-01-2008

Tragédia no Metrô, indenizações chegam a R$ 12 milhões
Valor é referente a 118 acordos, que beneficiaram 237 pessoas. Motivos do acidente ainda não são conhecidos, já que perícia atrasou.
Tragédia no Metrô, indenizações chegam a  R$ 12 milhões
Foto: Luciana Bonadio/G1

Um ano depois do desabamento das obras da Estação Pinheiros da Linha 4 (Amarela) do Metrô, familiares dos sete mortos no acidente, proprietários e inquilinos dos imóveis interditados receberam R$ 12 milhões em indenizações. O Consórcio Via Amarela, responsável pela obra, e a seguradora Unibanco AIG fecharam 118 acordos, que beneficiaram 237 pessoas, de acordo com levantamento da Secretaria Estadual da Justiça. Os acordos, diz a secretaria, contemplam 98% das vítimas.

As obras da futura estação desabaram na tarde de 12 de janeiro de 2007. A cratera com mais de 86 metros de diâmetro engoliu uma van que passava com quatro pessoas: o motorista Reinaldo Aparecido Leite, o cobrador Wescley Adriano da Silva e os passageiros Valéria Marmit e Márcio Alambert. Outros dois pedestres, a aposentada Abigail Rossi e o contínuo Cícero da Silva, não tiveram tempo de fugir. A sétima vítima foi o motorista de um caminhão que trabalhava na obra, Francisco Sabino Torres.

Os motivos do acidente ainda não são conhecidos, já que a perícia no local só deve acabar em março deste ano, cinco meses além do previsto. Por conta do atraso, os laudos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e do Instituto de Criminalística (IC) só devem ser concluídos em abril e em agosto, respectivamente.

O acidente forçou 212 pessoas a deixaram suas residências - foram interditados 94 imóveis do entorno. Deste total, sete foram demolidos, 14 condenados e 73 liberados, alguns com ressalvas. No dia em que tragédia completa um ano, apenas uma família formada por uma mulher e duas filhas está hospedada em um hotel, pois elas ainda não chegaram a um acordo sobre a indenização com os representantes do consórcio e da seguradora.

Entre os 118 acordos fechados, três foram com autônomos que precisaram interromper as atividades depois do desabamento, sete com parentes de mortos no acidente, sete com donos de veículos atingidos e 101 com proprietários ou inquilinos de imóveis próximos à cratera. Alguns moradores deixaram os hotéis apenas em dezembro.

"Rua fantasma"
Quem chega ao cruzamento das ruas Gilberto Sabino e Conselheiro Pereira Pinto um ano após o acidente ainda encontra dois cones que lembram a interdição na época do desabamento. No trecho da Rua Gilberto Sabino mais próximo ao local do acidente, casas com aparência de abandonadas, empresas sem atividade e moradores com lembranças ainda muito presentes daquele dia 12 de janeiro de 2007.

"A vida aqui realmente acabou. Ficou um lugar muito triste", definiu a taxista Rosa Maria Noschese, de 54 anos, que aluga um imóvel localizado no número 169 da rua. Ela voltou para casa em 31 de dezembro e tenta colocar as coisas em ordem. "É uma satisfação imensa voltar para casa, mas é uma tristeza imensa encontrar ela como estava", disse.

Depois de tanto tempo fora, os móveis e eletrodomésticos estavam todos empoeirados e a residência chegou a ficar sem luz. "Agora, eu espero ter minha vida normal, porque ela ficou totalmente sem rumo no último ano", disse. Rosa morava com a filha e o neto no local, mas a jovem preferiu não voltar para casa. "Ela tem medo", explicou.

O mato cresce na calçada e em um prédio localizado em frente à casa da taxista. No local moravam as famílias do técnico em prótese dentária Alex Azevedo, de 42 anos, e do corretor de imóveis Antônio Manuel Dias Teixeira, de 54 anos. O prédio será desapropriado pela prefeitura para a construção de um terminal de ônibus integrado ao Metrô.

É triste porque a gente cuidava muito do apartamento e do prédio. Tínhamos jardineiro, o prédio era um brinco, era uma rua tranqüila. Agora, tudo está empoeirado dentro do apartamento. Foi um imóvel que eu lutei para comprar. E agora, com 54 anos, vou ter de pagar aluguel", lamentou Antônio Teixeira.

Para o técnico Azevedo, a sensação é de vazio. "Aquele quarteirão todo está perdido. Com o bloqueio do consórcio no final da rua, parou todo o movimento. E era um bairro excelente, eu adorava lá porque era um lugar sem muito barulho, sossegado", lembrou.

Enquanto os moradores não chegam a um acordo com o governo municipal sobre o valor da desapropriação, eles vivem provisoriamente em outro endereço. Azevedo, a mulher e o filho moram no apartamento da mãe dele no Itaim Bibi, na Zona Sul. Como devem sair do local em breve, já que o imóvel está à venda, só levaram colchões, roupas, os televisores, um fogão e alguns utensílios de cozinha.

O técnico comprou um apartamento também em Pinheiros, em uma travessa da Rua Teodoro Sampaio. Para quitar o imóvel, ele usou a indenização por danos morais e materiais que recebeu do consórcio e pegou um empréstimo no valor que faltava. Ele pretende quitar a dívida com o dinheiro da desapropriação. No novo apartamento, uma nova exigência: "teve que ser longe da linha do Metrô, claro".

Tragédia no Metrô, indenizações chegam a R$ 12 milhões.

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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir