Categoria Música  Noticia Atualizada em 15-01-2008

'Rock band' multiplica espírito rock'n'roll de 'Guitar hero'
G1 testou jogo que revolucionou o gênero musical em 2007
'Rock band' multiplica espírito rock'n'roll de 'Guitar hero'
Foto: Divulação

O quarteto estava longe de ser a nova sensação do rock: na guitarra e no baixo, um jornalista magricela de óculos e outro, cover do Elvis do sul de Minas; na bateria e na voz, dois funcionários da sucursal brasileira da Electronic Arts que, desde a chegada do game ao escritório, pareciam não lembrar mais o que é horário comercial. Mas bastaram cinco minutos de "Rock band" para que os repórteres do G1 se sentissem parte de uma banda de verdade.

íšltima novidade no recente fenômeno dos games musicais, o recém-lançado "Rock band" radicaliza a idéia de seu antecessor, "Guitar hero", de transformar o jogador em guitarrista de suas bandas favoritas e oferece também a possibilidade de encarnar o baixista, o baterista e o vocalista do grupo.

Vendido a US$ 169 no mercado norte-americano -- e previsto para desembarcar em março no Brasil, segundo a EA --, o pacote inclui além do jogo, um microfone, uma réplica de guitarra Fender (que também pode ser usada como baixo) e um kit semelhante a uma bateria eletrônica com direito a som de prato, tontons, surdo e bumbo. Para jogar, é necessário acionar os botões-instrumentos no lugar certo, na hora certa, acompanhando clássicos das últimas quatro décadas do rock'n'roll.O jogo foi lançado para PS2, Xbox 360 e PS3.



Escola do rock
Se em "Guitar hero" o jogador era um guitarrista solitário que tinha, no máximo, a companhia de um baixista coadjuvante, em "Rock band" o espírito de equipe dita as regras. Começa com a criação da banda, que aceita quatro integrantes e exige a escolha de uma "cidade natal" para dar início à turnê. O mapa com as 17 cidades inclui nomes importantes na história do rock, que acompanham o repertório: Seattle (Nirvana), Nova York (Ramones), Londres (The Clash), Roma (Eros Ramazzotti... opa, esse não tem músicas no jogo!).



Para crescer na carreira é preciso acumular bons shows. Se fizer valer o preço do ingresso, a banda aumenta a base de fãs e melhora sua estrutura para viajar e tocar em outros lugares, habilitando novas músicas no repertório. Quando você contrata um roadie para poder tocar em estádio de futebol, percebe que é tarde demais para abandonar a vida de rockstar.

A ferramenta de criação de personagens, trunfo da Electronic Arts em diversos jogos, de "The sims" a "Tiger Woods", é aplicada com capricho em "Rock band". É possível reproduzir figuras grunges, headbangers, emos ou simplesmente criar pessoas comuns sem qualquer extravagância digna dos holofotes. Se tiver paciência, o jogador ressuscita bandas famosas em poucos minutos. Cinto de taxinhas, jaquetinha-estilo-Strokes, mini-saia para as garotas. Só não existe espaço para criar um vocalista peso-pesado -- e então o politicamente correto acaba com a festa mais cedo. Nada de João Gordo, Frank Black ou a "fofinha" Kim Deal em "Rock band".

Entre uma apresentação e outra, durante os "loadings", são apresentadas curiosidades sobre as bandas, com muito mais conteúdo e informação roqueira do que os clichês e piadas repetidas de "Guitar hero".

Ferramentas de trabalho
Idiossincrasias guitarrísticas à parte, a Fender Stratocaster incluída no pacote de "Rock band" dá um banho, senão em estilo, em ergonomia nas réplicas de guitarras Gibson dos três games da série "Guitar hero" (uma SG no primeiro, para PlayStation 2, uma Explorer no Xbox 360, e uma Les Paul no Wii e no PS3).



Ligeiramente maior que as rivais, a Fender de plástico de "Rock band" apresenta acabamentos e proporções mais verossímeis. O braço -- cor de madeira como nas Stratocaster originais -- é mais comprido e, além dos cinco botões tradicionais no topo, traz outros cinco mais próximos ao corpo do instrumento. A função deles é a mesma, mas em solos mais elaborados, com ligados e digitações, os botões menores podem ajudar (sem contar o fator "performance", já que os verdadeiros heróis da guitarra solam mesmo é nas casas mais agudas!).

Além disso, outro grande acerto dos criadores do game está no que -- por falta de um termo melhor -- podemos chamar de "palhetada". Diferentemente do controle de "Guitar hero", a guitarra-controle que acompanha "Rock band" não é barulhenta como a antecessora. Esqueça os tec-tec-tec tradicionais do primeiro: a barra de ritmo da Fenderzinha de plástico oferece uma resposta bem mais suave e silenciosa, algo que também traz vantagens nas músicas mais aceleradas. Cereja do bolo: um botão adicional no corpo do instrumento permite ainda libertar o Jimi Hendrix que existe em você e acionar efeitos de pedais como wah-wah, chorus, flanger e eco.

Composta por quatro círculos de borracha suspensos montados lado-a-lado e um pedal semelhante a um pedal de bumbo, a bateria de "Rock band" também não faz feio. Pioneira no mundo dos games -- não me venham com o bongô de "Donkey Konga" --, a peça promete fazer a alegria dos muitos bateristas de plantão e daqueles que sempre quiseram descer o braço nas batidas. Mais do que nunca, entretanto, é preciso ter coordenação motora. Em faixas tranqüilas ou básicas como "Say it ain't so", do Weezer, ou "Blitzkrieg bop", do Ramones, dá para enganar, mas é preciso entender um pouco do riscado antes de se meter a bancar o Lars Ulrich, do Metallica, ou, pior ainda, o Neil Peart, do Rush. Veterano ou iniciante, a liberdade de tocar o que bem entender durante qualquer parte da música -- incluindo rufos e virtuosas viradas -- favorecem ainda mais a sensação de satisfação ao assumir as baquetas (que, a propósito, são idênticas às de uma bateria de verdade).

Por fim, há o microfone. Usado principalmente para... cantar, o periférico -- que também faz parte do pacote original de "Rock band" -- esconde uma surpresa. Em certos trechos de faixas onde não há vocais, ele pode ser usado como pandeiro ou um cowbell. Dá até para gritar um "Valeu, Rio de Janeiroooo" nos intervalos de "Creep", do Radiohead.

Infelizmente, para uma turnê sem brigas internas e divergências profissionais entre uma banda de quatro integrantes, é necessária uma estrutura respeitável na sala de casa. É bom ter um mínimo de espaço para acomodar os instrumentos e as "performances" mais exaltadas, além de uma TV de tamanho razoável para que cada "músico" "leia" suas "partituras" sem interferências.



Só sucessos
Por mais que as firulas bem-acabadas impressionem, um "jogo de música" não passa de armação se não tiver, de fato, músicas boas para transformar a sala de casa num ambiente mais produtivo. E "Rock band" não só tem uma oferta imbatível de clássicos da música pop como ainda permite o download de pacotes extra com novas músicas (mediante pagamento em Microsoft Points, no Xbox 360, transação ainda "ilegal" no Brasil). O setlist original tem clássicos "old school" (Rolling Stones, David Bowie, The Who), representantes do metal (Black Sabbath, Iron Maiden), alternativos (Pixies, The Strokes, Radiohead) e até nomes mais recentes do cenário pop (Yeah Yeah Yeahs, Queens of the Stone Age, Fall Out Boy).



O repertório consegue equilibrar hits de diversas vertentes com a "jogabilidade" que permite que baixistas, guitarristas, vocalistas e bateristas tenham seus grandes momentos particulares sem deixar a "camaradagem" de fora. Quando o baixista estiver fracassando em "The number of the beast" (Iron Maiden), ou o baterista estiver pagando os pecados em "Go with the flow" (Queens of the Stone age), o guitarrista virtuoso pode "salvá-los" do vexame, usando os pontos especiais acumulados.

Já as músicas que podem ser compradas via download (pela rede Xbox Live) estão disponíveis em pacotes ou individualmente. O "Black Sabbath pack", por exemplo, tem "Sweet leaf", "N.I.B" e "War pigs" - na trilha original, a banda é representada por Paranoid. A estratégia é a mesma de "Guitar hero", que também oferece conteúdo extra, mas com uma diferença. "Rock band" colocou para download um álbum completo: "Who´s next", do The Who.

Seria um indício das novas tendências no mercado da música? "Rock band" vendeu 1 milhão de cópias depois de um mês nas lojas (cerca de 364 mil nas primeiras semanas). The Best Damn Thing, último disco de Avril Lavigne e um dos mais vendidos de 2007, fez 289 mil cópias em uma semana nos EUA.

Chegará o dia em que as bandas lançarão seus discos nos formatos CD (pré-histórico!), DVD, MP3 (com download gratuito?) e "videogame"?

Pode ser cedo para uma comparação desse nível, mas não há como negar a revolução de "Rock band". A procura supera a oferta em lojas norte-americanas e o jogo já tem cerca de 180 mil vídeos no YouTube (de amadores honestos a verdadeiros prodígios do "rock virtual"), seus instrumentos são alvo de "modificações" (de pedais mais precisos a acabamentos visuais personalizados). Se cada vez mais os games são "assunto sério", "arte interativa" e "tendência das mídias de vanguarda", "Rock band" prova que a música também tem lugar garantido nesse vôo.

'Rock band' multiplica espírito rock'n'roll de 'Guitar hero'.

Fonte:

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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir